7 - Experimental e Confessional
Scout Niblett nasceu em 1973 em Inglaterra e lançou seis discos de longa duração. O primeiro intitulado SWEET HEART FEVER saiu em 2001 e é composto por quatorze temas que têm em comum um certo cariz confessional. Os temas são essencialmente acústicos à excepção de alguns como Big Bad Man. É o disco que marca a estreia desta cantautora e que se reveste de temas algo melancólicos e por vezes soturnos, mas que contam com a voz peculiar de Scout Niblett.
Passado sensivelmente dois anos, editou I AM em 2003. Existe uma maior participação da bateria que acompanha na perfeição a voz e a guitarra. É um disco bastante diferente do de estreia e que contou com a participação de Steve Albini. Os treze temas que compõe o disco revestem-se de um indie rock bastante puro e duro. Gravado de forma crua, mas que tira partido da voz e dos instrumentos. Há alguns pontos altos como em Fire Flies, Texas e Drummer Boy. É um disco de indie rock com alguns laivos experimentais que traça algumas diferenças de sonoridade em relação ao seu antecessor mas que continua a trilhar o caminho de originalidade de Scout Niblett.
Em 2005 foi a vez de KIDNAPPED BY NEPTUNE que conta novamente com a participação de Steve Albini. A guitarra acústica é substituída pela eléctrica e os quinze temas do disco, essencialmente indie rock desdobram-se em instrumentais quase perto do grunge e algum garage rock. Não é um disco fácil de ouvir nem coroado de riffs catchy mas é um conjunto de músicas que reflectem um sentido musical mais apurado e de certa forma angsty.
Foi outra vez num espaço de dois anos que lançou THIS FOOL CAN DIE NOW. Conta com dois duetos com Will Oldham e foi novamente produzido por Steve Albini. Em comparação com o seu antecessor, é um disco bastante mais acessível e que contém melodias folk delicadas e suaves que sublinham a voz de Scout Nibblet. Mas há momentos em que o rock volta a extravasar como no tema Let thine heart be warned. É de registar a letra divertida de Dinosaur Egg.
THE CALCINATION OF SCOUT NIBBLET foi lançado em 2010 e perpetua o espírito melancólico e confessional dos discos anteriores. Acompanhada muitas vezes pela guitarra eléctrica, Scout Nibblet consegue transmitir uma certa dureza através de acordes reminiscentes de um grunge reduzido ao essencial, voz e guitarra eléctrica.
O seu mais recente disco foi editado em 2013 intitulado IT’S UP TO EMMA. As letras são fortes e ultrapassam o cariz confessional, ofertando uma certa dose de angústia. O disco conta também com uma cover do hit single No Scrubs da banda TLC, recriando por completo a atmosfera da música.
É uma cantautora que com guitarra acústica, eléctrica e o uso adequado da bateria conseguiu imprimir o seu selo próprio em géneros como indie rock, garage rock e grunge.
8 – Elegância Folk
Sibylle Baier nasceu na Alemanha e foi nos anos 70 que gravou um punhado de canções que apenas foram editadas em 2006 depois do seu filho encontrar o registo e mostrar a um dos músicos dos Dinosaur Jr. que ajudou no processo de editar finalmente as canções. São quatorze temas de um folk bastante delicado e introspectivo que consegue recriar uma atmosfera quase onírica. A voz de Sibylle Baier está num registo perfeito, não sendo demasiado feminina ou masculina. É certamente única e bastante agradável. Sibylle Baier foi uma mulher apaixonada pela arte e suas diversas expressões, tendo-se dedicado à representação, literatura e pintura. Foram certamente as formas que escolheu para transmitir os seus pensamentos e emoções mais profundos.
É pena, efectivamente que apenas haja este registo de longa-duração, pelo menos que tenha sido divulgado, não se sabe se gravou mais de si para si. São temas que registam o quotidiano, mas que transmutam certos acontecimentos aparentemente banais em autênticas jóias tanto a nível de composição como vocalização.
É um disco que reage bastante bem ao tempo cronológico e que continua actual, tal é a sua magia confessional, delicada e extremamente autêntica.
9 – Voz activa
Foto: Patti Perret
Ani Difranco nasceu em 1970 nos EUA e foi bastante cedo que se iniciou na música, gravando o seu primeiro disco homónimo e de estreia quando tinha apenas 19 anos. Criou também a editora RIGHTEOUS BABE RECORDS, mantendo-se afastada das editoras mainstream, editou os seus próprios discos e ajudou novos músicos e bandas a lançarem-se.
O seu primeiro disco foi editado em 1990. É composto por doze temas essencialmente acústicos mas a guitarra providencia todo o ritmo e batida que é necessário. É um disco de estreia sólido e que demonstra o poder poético e de consciência social que viria a acentuar-se ainda mais ao longo da sua carreira. Essa vertente é audível em Lost Woman Song.
Em 1992 editou IMPERFECTLY. A sua maneira característica de guitarra torna-se ainda mais o centro das treze composições que compõe o disco. Os temas voltam a ser maioritariamente acústico, mas realçam a voz e a personalidade de Ani Di Franco.
Imediatamente no ano seguinte editou PUDDLE DIVE. Há mais arranjos e instrumentos na formação dos temas. O disco é coerente e bastante homogéneo mas há temas que podem destacar-se um pouco mais como Used to You e Pick Yer Nose.
No ano seguinte, editou OUT OF RANGE em 1994 que já oferecia um vislumbre para a vertente mais rock que iria a ser explorada e que se tornou o foco no disco de 1995, NOT A PRETTY GIRL. É composto por quatorze temas de um folk rock bastante enérgico e embalado pela maneira peculiar e característica de tocar guitarra de Ani Di Franco. É talvez um bom disco para alguém se iniciar na extensa e rica discografia desta cantautora.
Mas foi com DILATE, editado em 1996 que foi ouvida por mais pessoas e o seu trabalho passou a ser mais reconhecido. O disco arranca forte com a melancólica e poderosa Untouchable Face. É um disco fundamental e que ilustra todo um percurso desde o acústico confessional até este folk rock com algumas fusões de género interessantes mas que mantém acesa chama da voz e guitarra.
Continuou a produzir e a lançar discos, sendo o mais recente de 2017 intitulado BINARY que composto de onze temas tornam o espírito confessional e introspectivo que sempre a caracterizou.
10 - Contadora de Histórias
Suzanne Vega nasceu em 1959 nos EUA. Foi em 1985 que se estreou com o disco homónimo. É um disco delicado, diria até essencial que revela uma cantautora cuja mestria para lidar com a guitarra acústica se equipara à capacidade de escrever letras maduras, sensíveis e extremamente poéticas. É com suavidade, mas uma ferocidade sincera e intimista que Suzanne Vega convida o ouvinte a participar numa viagem de várias atmosferas e sensações que mudam consoante os temas. É um disco variado e cujo cariz profundamente intimista nunca entedia ou desilude. A sua voz é tranquilizante, mas abriga uma capacidade e dinâmica vocal que se demonstra subtilmente ao longo das várias canções.
Dois anos volvidos, edita o lendário SOLITUDE STANDING em 1987 que fez mais sucesso devido a dois temas, Luka e Tom’s Diner. Ambos temas que marcaram a década de 80 e que lhe conferiram reconhecimento como uma das cantautoras mais interessantes dessa época. Luka continua a ser uma das músicas pop ou pop-rock mais bem conseguidas na história da música. No entanto, o disco é bem mais que Luka. É um arranjo coerente de onze temas que mais uma vez primam pela sua identidade própria. As letras mantêm a veia poética do disco de estreia. Extremamente visuais e até tocantes, convidam o ouvinte a participar nas narrativas cantadas por Suzanne Vega. Em Wooden Horse (Caspar Hauser’s song) narra um dos mistérios mais conhecidos da história mundial e que foi filmado por Werner Herzog no magistral, THE ENIGMA OF KASPAR HAUSER de 1974. É a história de um homem no século XIX que apareceu certo dia numa aldeia na Alemanha com um conceito muito rudimentar de linguagem e desconhecendo o seu nome ou origem. Acabou por ser assassinado, misteriosamente, do mesmo modo como se mantiveram as suas origens ou identidade. É um mistério que nunca chegou a ser resolvido.
Há uma grande riqueza narrativa que permeia todo o disco. E melodias que merecem ser descobertas ou redescobertas.
Em 1990 editou DAYS OF OPEN HAND. Apesar de se inclinar para uma sonoridade um pouco mais pop, o carácter misterioso e poético das letras manteve-se. Há também um cuidado especial em relação aos arranjos e à inclusão de vários instrumentos nas composições.
Foi em 1992 com 99.9 Fº que quebrou barreiras e incluiu alguns elementos de electrónica nas suas canções. São treze canções recheadas de atitude e carisma. Há uma veia de rock alternativo bastante presente e que pulsa forte ao longo do disco. Certas raízes folk deram lugar a um disco profundamente criativo, moderno e possuidor de um grande carisma.
O seu mais recente disco de originais foi editado em 2014 e intitula-se TALES FROM THE REALM OF THE QUEEN OF PENTACLES e assim como os discos anteriores é carregado de temas fortes e dotados de identidade própria. O foco recai novamente nas narrativas e na capacidade sublime de Suzanne Vega de contar histórias com a sua voz. É uma das compositoras e intérpretes mais interessantes dos anos 80 e que conseguiu transpor o seu talento para as décadas seguintes.
11 - Planeta Psicadélico
Lida Husik nasceu em 1963 nos EUA. Fez parte da banda punk Mourning Glories mas cedo optou por uma carreira a solo, sendo bastante activa na década de 90 e editando oito discos de longa-duração. O seu primeiro disco de estreia intitulado BOZO foi lançado em 1991. Composto por doze temas que realçam o carácter lo-fi e reminiscente de space rock. Lida Husick é uma multi-instrumentalista versátil que faz bom uso da sua voz, um pouco rouca, um pouco spaced out mas essencialmente única. Há também laivos psicadélicos que ressoam ao longo dos doze temas.
O disco que se seguiu, YOUR BAG, foi editado em 1992. As texturas de guitarra eléctrica dão lugar a sintetizadores e outros efeitos que dão uma característica bastante vanguardista e onírica, traçando o caminho para a voz de Lida Husik. Neste disco continua presente uma aura psicadélica que talvez seja reminiscente de uns The Doors. As composições são imprevisíveis e bastante mais soturnas do que disco anterior. Evocando a imagem de se estar a vaguear à noite por uma feira popular abandonada.
Passado apenas um ano edita THE RETURN OF RED EMMA. As texturas de guitarra eléctrica assinalam o seu regresso imiscuído de sonoridade de rock alternativo e algum grunge transgressivo. As letras assumem uma carga mais consciente a nível social e político, havendo aqui e ali uma condenação das ideologias de extrema direita.
Em 1995 foi a vez de JOYRIDE ser editado. É composto por doze temas em que uma sonoridade indie lo-fi com laivos psicadélicos volta a reforçar-se. É um disco que evoca a força do movimento de rock independente dos anos 90.
Lida Husik continuou a editar discos durante a década de 90 demonstrando todo o seu potencial para composições cheias de atmosfera e de carácter imprevisível.
12 - Guitarra Ritmo
Foto: Cláudia Baúto
Rita Cardoso nasce em Lisboa no ano de 1978. Começou a tocar guitarra desde cedo e desenvolveu ao longo dos anos uma forma peculiar de lidar com a guitarra. Tocando-a de forma rítmica e por vezes, dissonante, mas construindo sempre linhas melódicas que primam pela imprevisibilidade.
De 1997 a 1999 fez parte da banda VideoSnuff mas optou por seguir o seu caminho a solo, apesar de ter feito várias colaborações musicais. Ganhou vários prémios em festivais de música, entre eles o Termómetro Unplugged. Foi em 2003 que gravou o EP ACATISIA, cuja capa é uma imagem TAC do seu cérebro. São três temas originais e uma versão da banda Lamb que definem o som de Acatisia. A guitarra é um instrumento polivalente nas suas mãos. São criados acordes e também ritmos que acentuam a qualidade e as variações da voz. O inglês e o português são conjugados perfeitamente nas letras.
Desde então tem actuado em diversos palcos pela cidade e a ideia de um disco de longa-duração está em germinação. É uma cantautora com uma voz forte mas flexível que cria várias texturas e tons. Usa a guitarra como um veículo para transmitir a sua intimidade.
CONTINUA...
TEXTO: CLÁUDIA ZAFRE