Foto por Bruno Simão Somos muita coisa. Não ficamos fechados em nós mesmos quando a criatividade não pára. Também não há nada concre...

Bagagem de Luís Simões (Saturnia): 5 livros, 5 discos, 5 filmes/séries

Foto por Bruno Simão

Somos muita coisa. Não ficamos fechados em nós mesmos quando a criatividade não pára. Também não há nada concreto que nos possa definir porque somos muita coisa. E dessa imensidão podem advir a curiosidade e o impulso que nos fazem querer ir à descoberta. 

Luís Simões nasceu nos anos 70 e, desde cedo, foi moldado pela educação que teve. O seu pai era consumidor nato de música jazz, blues, gospel, e a sua mãe possuía musicalidade. Em The Real High, álbum anterior ao mais recente The Seance Tapes, Luís Simões inclui uma das muitas gravações que tem da sua mãe a cantarolar, no tema Shells. Passou a adolescência e o começo da vida adulta em Linda-a-Velha e passou por várias fases na música. Iniciou-se na guitarra clássica. A partir daí foi experimentando outros géneros. Tocou heavy metal nos Shrine, esteve nos Blasted Mechanism até o final do ano passado, mas foi com Saturnia, o seu projecto a solo, que a sua entrega musical mais profunda se deu.

Saturnia não lança álbuns todos os anos, mas quando os lança percebemos que são fruto da vontade determinante em querer fazer as coisas como deve ser. Não há ânimo leve aqui. Há um sentido espiritual que nos remete para a infinitude e a expansão do universo, para o movimento dos planetas e até para um sentido abstracto sem definição, tal como a linguagem musical, que muitas vezes comunica connosco o que mais nada consegue. Em Saturnia está presente o psicadelismo, a interjeição, o percurso sem fim dos vários sons que se misturam.

Além de Luís Simões ser um experimentalista de sons e instrumentos, é também um melómano ávido e um coleccionador de discos. Não há nenhum género que o impeça de ouvir o que for, desde que goste. Tal como uma pessoa aberta para a vida e para todas as surpresas que ela nos possa dar, Luís Simões não se deixa estagnar por nada, é ecléctico e não aprecia dogmas. Acredita na integridade da música e na honestidade dos músicos, tal como a vida, o valor que a música tem jamais pode ser corrompido por outras intenções se não o amor a ela. 

Saturnia lançou este ano The Seance Tapes e encontra-se pelas salas do país a apresentar o trabalho mais recente. Porque um músico vive também de referências, pedimos a Luís Simões que nos dissesse quais os 5 livros, 5 discos, 5 filmes que sugere.

TEXTO: PRISCILLA FONTOURA


5 livros:
- "Vagabundo dos Limbos, Os Demónios do Tempo Imóvel", Christian Godard, Julio Ribera
- "1984", George Orwell
- "Luís de Camões", Os Lusíadas
- "O Caso de Charles Dexter Ward", H.P. Lovecraft
- "O Incal", Alejandro Jodorowsky, ilustração de Moebius

5 discos:
- "Mistérios e Maravilhas", Tantra
- "Ambient 1: Music for Airports", Brian Eno
- "Warrior on the Edge of Time", Hawkwind
- "The Complete Recordings", Robert Johnson
- "Portishead", Portishead

5 filmes:
- "Performance", Donald Cammell, Nicolas Roeg
- "Setubal, Ville Rouge", Daniel Edinger, Michel Lequenne
- "Lucifer Rising", Kenneth Anger
- "Laranja Mecânica", Stanley Kubrick
- "Os Canibais", Manoel de Oliveira