Imagem: Stavanger Symphony Orchestra
Kaada não tem apenas uma expressão facial. Tanto sorri como nos intimida com o seu olhar penetrante. Tal qual o seu trabalho. É extenso, prolífico, multifacetado, cheio de ideias e estados de espírito. É livre. Quando se assim é, inevitavelmente, a criatividade sai por todas as portas possíveis. O compositor tanto nos puxa para o lado mais sério, como para o surreal. Nunca sabemos bem o que esperar, prova disso são os seus telediscos.
Em 2001, salta do trampolim da vida normal e lança-se para o universo dos fios, dos cabos, dos instrumentos, dos sintetizadores e tudo que caiba nesse circuito da música para gravar o seu primeiro álbum a solo "Thank you for giving me your valuable time". Há misturas que nos remetem para a Alemanha anos 50 do pós-guerra, com uma Berlim envolvida por escolas de Swing quando ouvimos Care, há outras que encaminham para estruturas orquestrais absurdas. As misturas do primeiro trabalho transitam de um rock anos 50 para um jazz vanguardista, elevando o sentido apurado que Kaada possui desde o início do seu trabalho.
Ao visualizarmos a entrada do filme 0'Horten, os sentidos, não só os visuais, mas, sobretudo, os auditivos levam-nos a querer saber quem é o autor da banda-sonora. É desta maneira que entramos no mundo sónico deste compositor, a viagem de comboio sincroniza na perfeição o ambiente sonoro. O músico norueguês não só lança álbuns a solo como também musica vários filmes. Ainda que assuma que compor para filmes tenha sido apenas obra do acaso, e que não tenha tido a intenção de seguir essa direcção, o músico, no início, durante o processo de composição, sentia-se nervoso e stressado. Hoje fica contente quando compõe para filmes. Paralelamente compõe também para documentários e televisão e acredita que os programas de TV são uma óptima oficina para a experimentação, porque tocar com pequenas bandas, desenvolver habilidades de composição e arranjos são pequenas portas que não se abririam de outra forma. Os trabalhos que fez para TV foram ouvidos nos canais CNN, CBS, NBC e em programas de TV: Late Night With Jimmy Fallon, Oprah, The superbowl, Jay Leno, The Daily Show With Jon Stewart, 60 Minutos, NBA Tonight, entre outros.
John Erik Kaada tem identidade e talvez seja por isso que Mike Patton tenha colaborado algumas vezes com o músico norueguês. Em 2007, o lançamento do DVD Kaada/Patton Live, gravado no festival Roskilde, na Dinamarca, em 2005, chamou a atenção do público seguidor do trabalho de ambos os músicos. O lançamento inclui sete peças acompanhadas por banda, do repertório do álbum Romances (pode ser visualizado na íntegra via YouTube). Kaada e Patton mantiveram os laços na última década. Esta colaboração revela que o dialecto criado é exclusivo dos dois e por isso produziram: Romances em 2004 e Bacteria Cult em 2016.
Além da colaboração com Patton, o músico juntou-se a Cloroform, um trio activo de 1998 a 2006, aclamado pela crítica depois do lançamento de 6 álbuns bastante interessantes. O groove do contrabaixo e o rock fora da caixa é uma constante na identidade na banda. Os Cloroform passaram de banda de garagem a banda que pisou os palcos mais proeminentes da Europa.
O minimalismo de Kaada, mais presente nos filmes que musica, transporta-se para o seu mais recente lançamento a solo: Closing Statements, lançado a 25 de Maio deste ano, pela Mirakel Recordings. Uma obra fortíssima, cheia de sensibilidade e que cuja temática retrata "os fragmentos de diferentes expressões de despedida ou as palavras que as pessoas dizem quando estão prestes a morrer." O músico questiona o significado das últimas palavras e o que as mesmas revelam: vida, morte ou consciência? Elas dão um vislumbre dos sentimentos e experiências gerais do indivíduo. A título de exemplo, o actor Jack Soo, que padeceu de cancro do esófago, quando levado para a sala de operações, brincou com um dos seus colegas Hal Linden sobre o café de má qualidade que tinha sido servido no set da série Barney Miller.
Sem dúvida que a obra que Kaada tem desenvolvido ficará nas prateleiras de uma "Alexandria" riquíssima em obras distintas. Porque o consideramos um dos músicos mais relevantes deste século, tentámos saber quais as suas referências e, felizmente, a resposta chegou-nos. Ficamos com os 5 livros, 5 discos, 5 filmes que marcam a vida do multi-instrumentista.
5 livros:
- "The Hidden Life of Trees", by Peter Wohlleben
- "Great Work of Time", by John Crowley (1991)
- "Tiger Tiger!", by Alfred Bester (1956)
- "Analog Circuit Design", by Jim Williams
- "Contemporary Korean Art" (Tansaekhwa and the Urgency of Method), by Joan Kee
5 discos:
- "Tessellatum", by Donnacha Dennehy, Nadia Sirota, Liam Byrne
- "Golijov: La Pasión según San Marcos", by Osvaldo Golijov, Jessica Rivera, Biella da Costa, Schola Cantorum de Venezuela, Orquesta La Pasión, María Guinand
- "Játékok, VIII: Flowers We Are" - For Miyako (For Four Hands), by György Kurtág, Gabor Csalog
- "Roomful of Teeth", by Roomful of Teeth, Brad Wells
- "Gravity", by Ben Lukas Boysen
5 filmes:
- "Kitchen Stories" (Bent Hamer 2003)
- "The Shining" (Stanley Kubrick 1980)
- "Twin Peaks: Fire walk with me" (David Lynch 1992)
- "Lost in Translation" (Sofia Coppola 2003)
- "Kill BIll Vol 1" (Quentin Tarantino 2003)
- TRANSLATION -
Closing Statements cover
Kaada has more than one facial expression. He either smiles or intimidates with his penetrating gaze. Just like his work. It is extensive, prolific, multifaceted, filled with ideas and states of mind. It is free. And when that total freedom is present, creativity is abundant. The composer pulls us as much to the more serious side as to the surreal one. We never quite know what to expect and a proof of that are his videoclips.
In 2001, he jumps into the universe of cables, instruments, synths and everything that has a place in music in order to record his first solo album "Thank you for giving me your valuable time". There are mixes that takes us to Germany in the 50’s, to the post-war years with Swing schools in Berlin, that is the case when we listen to Care, there are others that take us to orchestral structures. The mixes of his first work go from a 50’s style of Rock to vanguard Jazz, that elevates the refined sense that Kaada has.
When we watch the beginning of the movie 0’Horten, the senses, both visual and mostly auditory makes us wonder who is the soundtrack’s composer. That’s how we enter the sonic world of this composer, the train ride synchronizes perfectly the soundscape. The Norwegian musician also composes soundtracks for various films. Even though, he assumes that composing for motion pictures was something like a work of chance and that he didn’t intend to follow that line of work, the musician, at the start of it, felt nervous and stressed during the composing process. Today he is quite happy while composing for films. He also composes for documentary films and television. He believes that TV shows are an excellent workshop for experimentation, because playing with underground bands, developing compositional skills are little doors that couldn’t be open any other way. The TV work and Kaada’s music were heard in the channels CNN, CBS, NBC and in TV shows such as Late night with Jimmy Fallon, Oprah, The Superbowl, Jay Leno, The Daily show with Jon Stewart, 60 minutes, NBA tonight and some others.
John Eric Kaada has identity and maybe that’s why Mike Patton collaborated a few times with the Norwegian musician. In 2007, the release of the DVD Kaada/Patton Live recorded in Roskilde festival in Denmark in 2005, was very interesting for fans of both musicians. The release includes seven compositions accompanied by a band, and part of the album “Romances” (it can be viewed on YouTube). Kaada and Patton kept their musical relationship in the last decade. The collaboration between the two musicians reveals that they were able to create a dialect that is only shared by both of them and that’s why they released Romances in 2004 and Bacteria Cult in 2016.
Besides the collaboration with Patton, the musician joined Cloroform, a music trio that was active from 1998 to 2006 and that were well received by the critics following the release of six very interesting records. The Groove of the double bass and the out-of-the-box kind of rock is a trademark of the band. Cloroform went from a garage band to a band that played in the most important european stages.
Kaada’s minimalism is very much present in the soundtracks he creates but that essence is also present in his most recent solo record: Closing Statements, released in 25th May of this year by Mirakel Recordings. A very deep and strong work, filled with sensitivity and with a theme that focuses on “fragments from different farewell utterances... things that people said when they were about to die". - Kaada
The musician questions the significance of those last words and what they can reveal: life, death or consciousness? They offer a glimpse of the feelings and experiences of the individual. As an example, the actor Jack Soo who developed cancer of the oesophagus, when taken to the operation room, he joked to one of his colleagues Hal Linden about the crappy coffee they had served on the set of the TV series Barney Miller.
The work that Kaada has developed will be in the shelves of an “Alexandria” that is rich with several and distinctive works of art. Because we consider him one of the most relevant musicians of this century, we tried to know what his references were and fortunately he gave us his answers. We stay with the 5 books, 5 records, 5 movies that have a strong impact on the life of this multi-instrumentalist.
5 books:
- "The Hidden Life of Trees", by Peter Wohlleben
- "Great Work of Time", by John Crowley (1991)
- "Tiger Tiger!", by Alfred Bester (1956)
- "Analog Circuit Design", by Jim Williams
- "Contemporary Korean Art" (Tansaekhwa and the Urgency of Method), by Joan Kee
5 records:
- "Tessellatum", by Donnacha Dennehy, Nadia Sirota, Liam Byrne
- "Golijov: La Pasión según San Marcos", by Osvaldo Golijov, Jessica Rivera, Biella da Costa, Schola Cantorum de Venezuela, Orquesta La Pasión, María Guinand
- "Játékok, VIII: Flowers We Are" - For Miyako (For Four Hands), by György Kurtág, Gabor Csalog
- "Roomful of Teeth", by Roomful of Teeth, Brad Wells
- "Gravity", by Ben Lukas Boysen
5 movies:
- "Kitchen Stories" (Bent Hamer 2003)
- "The Shining" (Stanley Kubrick 1980)
- "Twin Peaks: Fire walk with me" (David Lynch 1992)
- "Lost in Translation" (Sofia Coppola 2003)
- "Kill BIll Vol 1" (Quentin Tarantino 2003)
TEXTO/TEXT: PRISCILLA FONTOURA
TRADUÇÃO/TRANSLATION: CLÁUDIA ZAFRE
ESCOLHAS/CHOICES: JOHN ERIK KAADA