Num Musicbox pouco concorrido, coube ao texano Ryan Sambol abrir a noite com as suas canções “Deep in the Heart of Texas”. Ryan não é um músico de estúdio e isso nota-se, não só na sua reduzida produção discográfica, mas sobretudo no seu à-vontade em palco. Ele é um músico itinerante que apresenta as suas canções folk combinando a sua voz muito peculiar com a simplicidade da sua guitarra acústica.
Uma versão moderna de músicos como Guthrie ou Elliott com canções cujas letras transmitem uma genuína autenticidade ao seu trabalho. Ouvir Ryan remeteu-me para uma imaginária banda sonora de personagens dos livros de Cormac McCarthy como “All the Pretty Hores” ou “No Country for Old Men”. Quanto à setlist, ela resume-se a um pequeno caderninho com os nomes das canções sem uma ordem específica de execução. Extremamente comunicativo, não hesitou em pedir à audiência que lhe trouxessem uma cerveja e não raras vezes perguntou o que ela queria ouvir: uma canção em particular, uma lenta, uma rápida. Após o concerto e enquanto do seu trolley ia retirando o merchandising, dois dedos de conversa com Ryan bastaram para confirmar a imagem desse músico on the road que toca onde o quiserem ouvir sem a obsessão de uma agenda pré-definida das digressões clássicas.
Depois do folk texano seguiu-se algo de muito diferente. The Men é um quarteto de Brooklyn cuja música se enquadra num rock com raízes no punk e no noise. Desde “Open your Heart”, o seu terceiro e excelente registo que os tornou mais acessíveis, nota-se alguma inflexão na sua música. O recentemente editado “Drift”, que apresentaram neste espetáculo, é disso exemplo. A banda parece estar a procurar novos caminhos, nunca renegando o seu passado tocando um rock agressivo e visceral, aqui e ali quase hipnótico. Mark Perro (guitarra, teclados e voz), Nick Chiericozzi (voz, guitarra e saxofone), Rich Samis (bateria), e Kevin Faulkner (baixo e voz) deram um belo concerto e demostraram que deles se pode esperar mais e melhor.
À semelhança de Ryan Sambol, pudemos constatar a simplicidade e a acessibilidade dos músicos em falar com quem os acabou de ver atuar, uma coisa rara nos dias de hoje. Quando os abordámos, a primeira preocupação de Kevin e de Nick, em particular, foi a de perguntar se tínhamos gostado. A resposta só pôde ser: You did well. Nice gig. Podemos ou não gostar da sua música, mas a preocupação dos músicos em saber a opinião de quem os ouviu, demostra o seu genuíno respeito por quem pagou o bilhete para os ver atuar.
IMAGEM e VÍDEOS: JOSÉ MARQUES
LOCAL: Musicbox, Lisboa
DATA: 30 de Maio, 2018