Palavras-chave: One-liners, hilariante, judaico
Introdução
O universo do humor americano seja em forma de filmes, stand-up ou números musicais sempre teve influência de um número de comediantes, actores e músicos de origem judaica. Este grupo de pessoas ajudou a criar vários submundos na psique do humor americano, contribuindo com o estilo de comédia-choque, humor auto deprecativo, desafio de taboos e do “politicamente correcto” e a auto sátira de judeus sobre a própria identidade do que define um judeu e a sua cultura.
1 - Introdução a Sarah Silverman
Sarah Silverman nasceu em 1970 em New Hampshire nos EUA. Iniciou a sua carreira de comediante fazendo stand-up comedy e cedo ganhou uma base de fãs e também de “haters” por ser a mais vocal comedienne a praticar um humor transgressivo, ácido e completamente desprovido de noções de politicamente correcto.
A sua entrega é também única por usar na sua rotina uma expressão profundamente impassível enquanto faz piadas sobre religião, sexualidade, racismo, sexismo e outros temas mais sensíveis que qualquer comediante menos dotado seria incapaz de abordar.
A sua fama ou infâmia (dependendo da perspectiva) foi crescendo ao participar como escritora e actriz no popular e lendário SNL (Saturday Night Live), assim como o seu próprio programa, The Sarah Silverman Show produzido pela Comedy Central.
Um dos seus trabalhos mais lendários, e que lhe garantiu uma sólida base de fãs, foi a sua performance exímia no filme Sarah Silverman: Jesus is Magic que consiste em footage de uma performance de stand-up comedy com o mesmo nome. Nesta performance, Sarah Silverman faz a sua habitual entrega corrosiva, demolidora e no estilo que a definiu, sem qualquer tipo de misericórdia que abrange temas desde o holocausto, doenças STD como a SIDA e outros assuntos que podem deixar algumas pessoas desconfortáveis. Para completar o humor, Sarah Silverman serve-se também da guitarra, presenteando-nos com temas acústicos catchy e com letras hilariantes, tais como “You are going to die soon” e “I love you more”.
Este filme foi realizado por Liam Lynch, um filmmaker e músico americano que se tornou famoso pelo seu disco de 2003, FAKE SONGS, um conjunto de canções em que tenta recriar o estilo de vários músicos e bandas. As canções são originais e hilariantes na medida em que conseguem mesmo criar “caricaturas” como o músico optou por as definir. É um disco que se tornou mais conhecido por contar com o single “United States of Whatever”, bastante melódico e carismático só por si.
A mítica performance de Sarah Silverman em Jesus is Magic, conta com fabulosos one-liners, cujo humor pode realmente não ser para toda a gente. Eis alguns exemplos:
“When God gives you AIDS - and God does give you AIDS, by the way - make lemonAIDS.“
“Everybody blames the Jews for killing Christ, and the Jews try to pass it off on the Romans. I'm one of the few people who believes it was the blacks.”
O humor de Sarah Silverman encaixa-se, por vezes, nalguns trâmites específicos que ajudaram a definir o perfil do humor judaico, no caso de Silverman, usando em boa medida e de forma eficaz alguma aparente vulgaridade, atrevimento, mordacidade e ironia.
É uma das comediantes mais influentes da actualidade, apesar de em anos recentes ter mostrado a sua versatilidade enquanto actriz empenhando papéis dramáticos e sendo bastante bem sucedida, estrelando em filmes como I SMILE BACK (2015) e um papel secundário em BATTLE OF THE SEXES (2017).
O seu talento é inegável e conseguiu construir o seu próprio estilo de humor que pavimentou o caminho para mais comediennes imunes às éticas do “politicamente correcto.”
2 - O médico da sátira
Lenny Bruce nasceu em 1925 em New York nos EUA. Foi um dos primeiros comediantes que definiu que a comédia não tem necessariamente de ser cheia de floreados e educada. Assumiu-se desde sempre como um satirizador e ao longo dos anos 50 praticou um humor irreverente tanto a nível político como religioso. E sempre achou importante abordar temas que no seu entender mereciam reflexão. Um bom exemplo disso é uma das suas citações mais famosas:
“I'm not a comedian. And I'm not sick. The world is sick, and I'm the doctor. I'm a surgeon with a scalpel for false values.”
A sua carreira foi marcada por inúmeras polémicas, tendo sido detido várias vezes e com pessoas a abandonar os seus espectáculos a meio por não se sentirem confortáveis com o que era dito em palco.
Em 1971 escreveu uma curta de animação, THANK YOU MASKED MAN, realizada por Jeff Hale. A curta tem apenas 8 minutos e conta com a banda-sonora de uma rotina cómica de Lenny Bruce sobre uma personagem chamada “Mask man”, nesta curta há a predominância de comentários homofóbicos porque um dos objectivos de Lenny Bruce era que a homofobia fosse amplamente discutida. Aquando do lançamento do filme, este foi considerado ironicamente como homofóbico, apesar de ser completamente a intenção oposta de Lenny Bruce, mas com o decorrer dos anos, o filme foi reanalisado e hoje em dia é possível encontrá-lo em alguns festivais de cinema gay. É uma curta-metragem que ainda hoje gera alguma discussão mas na qual há espaço para a reflexão individual.
A influência que Lenny Bruce teve na cultura popular é notória, tendo sido um feito sobre a sua vida em 1974, LENNY com a interpretação de Dustin Hoffman e realizado por Bob Fosse.
Também fica impresso nas mentes uma breve, mas forte referência ao comediante na música dos R.E.M, “It’s the end of the world as we know it (And I feel fine)” com a frase “Lenny Bruce is not afraid”. E realmente, Lenny Bruce nunca teve medo de dizer o que pensava e de falar abertamente contra os valores phony da sociedade.
3 - Performance e alter-egos
Andy Kaufman nasceu em 1949 em New York nos EUA. Durante os anos 70 fez várias actuações de stand-up comedy, apesar de sempre se assumir mais como um entertainer do que propriamente um comediante. Ficou conhecido por adoptar vários alter-egos durante as suas actuações, sendo que o mais conhecido foi Tony Clifton, um cantor lounge cujo traço principal era o improviso de letras cómicas, algumas delas deliberadamente “secas”. Tony Clifton também se caracterizou por usar palavreado menos próprio e por atitudes deliberadas de diva, causando desconforto e reacções extremas em muitas pessoas da audiência. A personagem tornou-se tão lendária e de carne e osso que muitas pessoas se indagaram se Tony Clifton não seria mesmo uma pessoa real.
Esta personagem do cantor de lounge com um ego imenso ficou imortalizado no filme MAN ON THE MOON (1999) com a interpretação de Jim Carrey como Andy Kaufman. O filme foi realizado por Milos Forman.
Kaufman também ficou célebre por encarnar-se a si mesmo como um misógino extremo enquanto convidado de talk-shows em que fazia comentários propositadamente ofensivos sobre mulheres, mas cujo objectivo era precisamente satirizar a profunda insegurança de alguns homens que usam a misoginia como um disfarce.
Assim como Lenny Bruce, Kaufman também assegurou o seu lugar na cultura popular. Sendo igualmente imortalizado pela banda R.E.M que registou o tema Man on the Moon no seu disco de 1992, AUTOMATIC FOR THE PEOPLE.
Foi essencialmente um artista de performance que assegurou o seu espaço no universo do humor americano.
4 - Mestre da paródia
Mel Brooks nasceu em 1926 em New York nos EUA. É um popular realizador, escritor, actor e compositor. Foi um dos criadores da famosa série GET SMART bastante popular durante os anos 60.
A sua filmografia é bastante extensa e inclui o clássico THE PRODUCERS, um filme de 1967 que é essencialmente uma sátira às maquinações de produtores da Broadway. Uma das imagens de marca do filme, é a criação de uma peça musical da Broadway profundamente hilariante chamado “Springtime for Hitler” cuja música foi composta e letra escrita por Mel Brooks. Essa peça musical presente no filme pretende celebrar a vitória da Alemanha nazi sobre as forças dos aliados e a sua supremacia na Europa. Mel Brooks, tendo combatido na Segunda Guerra Mundial contra as forças nazis, quis fazer uma sátira inteligente sobre o anti-semitismo.
THE PRODUCERS acaba por misturar algumas características especificas de certo tipo de humor judaico, como o uso de peças teatrais e musicais, elementos burlescos, vulgaridade e o chamado “mau gosto” (que para alguns apreciadores é sinónimo de bom gosto e refinação).
O filme teve a audácia de parodiar o holocausto de forma mordaz e satírica como apenas alguns comediantes judaicos o conseguem fazer. Apesar da sua comicidade, o filme não teve uma boa recepção aquando da sua saída e não fez sucesso nas bilheteiras, apesar de ao longo dos anos ter ganho um estatuto de culto.
Mel Brooks admite mais tarde que o filme tinha como intuito uma vingança às atrocidades cometidas por Hitler durante o regime nazi, reduzindo as suas acções ao ridículo.
A sua veia de sátira e propensão para a paródia pode ser sentida em outros filmes como BLAZING SADDLES de 1974, uma sátira aos filmes clássicos de Western. Apesar de ser composto por um humor bastante directo é de salientar o trabalho envolvido quando se faz um filme cujo objectivo é parodiar um certo género de filmes. É necessário para que a paródia seja bem-sucedida que haja um profundo conhecimento do género de filme que vai ser alvo da brincadeira, assim como uma sensibilidade e inteligência humorística que permitem saber quando e onde colocar a situação ou cena cómica.
Mel Brooks também parodiou o género da ficção-cientifica com o clássico SPACEBALLS de 1987 que utilizou alguns elementos de forma inteligente retirados de filmes populares como Star Wars e Planet of the apes.
Houve também espaço para a paródia histórica, especificamente o género épico apelidado sword and sandal e os dramas de época. Esse filme foi lançado em 1981 sob o nome HISTORY OF THE WORLD, PART 1 e regista vários períodos da história mundial.
Mel Brooks conseguiu ao longo da sua cinematografia construir um universo de paródia inteligente, cheio de referência populares e culturais, cujo humor se mantém relevante até aos dias de hoje.
5 - Comédia Musicada
Andy Samberg nasceu em 1978 na Californa nos EUA. É conhecido como actor, comediante e músico. Popularizou-se na série cómica Brooklyn Nine-Nine, interpretando o detective Jack Peralta. Para além dos seus dons de interpretação, conta também com uma carreira musical na sua banda Lonely Island cujos videoclips se tornaram virais e contaram com a participação de outras personalidades, como o músico Michael Bolton no tema “Jack Sparrow” que faz referências hilariantes a outros filmes populares tanto através da letra como do próprio teledisco.
Um dos marcos mais importantes foi o filme POPSTAR: NEVER STOP NEVER STOPPING lançado em 2016, um mockumentary de cariz musical em que Andy Samberg interpreta um ídolo da música pop chamado Connor4Real. O filme conta também com a participação de Sarah Silverman. A banda-sonora ficou a cargo de Lonely Island e conta com temas brilhantes tais como Finest girl (Bin Laden song), Mona Lisa, I’m so humble, Fuck off e Incredible Thoughs (com a colaboração de Michael Bolton).
Também é de salientar a sua participação como produtor e actor secundário no clássico independente BRIGSBY BEAR de 2017.
Assim como Sarah Silverman, Samberg sabe como transformar o humor potencialmente ofensivo numa inteligente demonstração de como é possível quebrar barreiras e limitações dentro da comédia, produzindo um humor fresco e delirante.
6 – BORAT!
Sacha Baron Cohen nasceu em 1971 em Londres, Inglaterra. É um actor, comediante e produtor que ficou mais popular ao interpretar algumas personagens que se tornaram lendárias, tais como, Ali-G, Borat e Bruno.
Borat é um jornalista do Cazaquistão que ficou conhecido pelas suas visões socioculturais extremamente bizarras, surreais mas profundamente hilariantes. Esta personagem foi popularizada no filme BORAT! CULTURAL LEARNINGS OF AMERICA FOR MAKE BENEFIT GLORIOUS NATION OF KAZAKHSTAN lançado em 2006. O filme segue um formato de mockumentary e acompanha a odisseia de Borat pelos Estados Unidos da América com o objectivo de aprender mais sobre a cultura norte-americana, interagindo com variados cidadãos americanos durante a sua aventura.
Tendo em conta o seu humor transgressivo e satírico foi banido em vários países árabes.
Borat tem como companhia o seu produtor Azamat Bagatov na sua viagem aos EUA e cedo começa a criar controvérsia com os seus comportamentos, nomeadamente quando é convidado para jantar num restaurante privado no sul dos estados unidos. Durante o jantar mostra fotos em que figura nu junto ao seu filho também ele nu, o que ofende e choca os seus convivas. Não é nenhuma surpresa quando acaba por ser expulso. O filme está recheado de cenas hilariantes e de reflexões sobre antissemitismo, especialmente na cena em que Borat descobre que os donos do bed and breakfast em que está hospedado são de origem judaica. Borat fica horrorizado e cheio de medo, decidindo sair da casa enquanto atira dinheiro para uns insectos semelhantes a bichos-de-conta que acredita serem os seus anfitriões transformados em insectos. A sátira do antissemitismo enquanto superstição surreal e típica da idade média é transporta para essa cena profundamente cómica.
O filme está cheio de sátira a preconceitos como homofobia, a mentalidade mais conservadora dos estados unidos e claro, religião. Durante a narrativa, Borat fica encantado e obcecado por Pamela Anderson após ver alguns episódios de Baywatch, sentindo-se na obrigação de casar com ela. Numa das cenas do filme, Borat tenta raptar a actriz resultando numa sequência fílmica hilariante.
Um dos pontos fulcrais é mesmo a sátira ao sentimento antissemita ainda bastante presente na sociedade, Cohen usa Borat para explorar esse preconceito, especialmente numa cena mítica em que começa a cantar uma suposta canção popular do Cazaquistão num bar de country. A música intitula-se “Throw the jew down the well” e é com alguma perplexidade que assistimos à participação da audiência do bar a cantar a música.
A criação de personagens credíveis e extremamente cómicas permitiu a Cohen tecer uma sátira e critica a alguns preconceitos que ainda dominam a sociedade.
7 – Sensibilidade Cómica
Elaine May nasceu em 1932 em Filadélfia nos EUA. A sua carreira focou-se principalmente no cinema, tendo sido argumentista, realizadora e actriz de vários filmes. Antes de cimentar a sua carreira no cinema, Elaine May fez uma dupla imbatível com Mike Nichols com performances de stand-up durante o final da década de 50 e início da década de 60. Durante essa colaboração, que era essencialmente marcada por um tipo de comédia de improviso, o duo editou três discos de comédia que alcançaram os tops Billboard. Os discos foram editados pela editora Mercury.
Os skeches interpretados por Nichols e May garantiram uma certa frescura na cena do humor da época, sendo que May optava por interpretar papéis femininos mais sofisticados, optando por encarnar mulheres com carreiras consideradas mais refinadas como psiquiatra ou médica, quebrando barreiras para os papéis cómicos que eram habitualmente oferecidos a mulheres.
O conteúdo dos sketches era por vezes focado nas aparentes banalidades do quotidiano que acabaram por inspirar uma nova vaga de comediantes no futuro.
Na área do cinema, May fez a sua estreia com o delicioso NEW LEAF de 1971 contracenando com o veterano Walter Matthau. May, além de interpretar a personagem principal, foi também responsável pelo argumento e realização. O filme é uma comédia romântica de grande nível com a reflexão sobre os temas da ganância e da ambição materialista. O papel interpretado por May como uma milionária, mas obcecada por botânica e bastante introvertida é uma das mais interessantes personagens femininas transpostas para a tela.
Nos anos 2000 voltou à ribalta ao interpretar a personagem May Sloane no filme SMALL TIME CROOKS realizado por Woody Allen em 2000. No filme podemos apreciar o timing humorístico, trejeitos cómicos e o carisma que sempre caracterizou esta artista multifacetada.
Elaine May abriu caminho e inspirou uma nova geração de mulheres comediantes e os seus filmes (alguns dramáticos) continuam bastante relevantes nos dias de hoje.
8 – BROAD CITY
Abbi Jacobson nasceu em 1984 na Pensilvania nos EUA. Llana Glazer nasceu em 1987 em New York nos EUA. Juntas são imparáveis e formam um dos duos mais hilariantes da comédia contemporânea. Foi entre 2009 e 2011 que produziram a agora mais que popular série BROAD CITY que começou por ser uma web série nos seus inícios e produzida de forma independente.
A série que é escrita e interpretada pelas duas actrizes ganhou o coração do público e já conta com quatro temporadas. Os episódios retratam as aventuras do duo de amigas na cidade de Nova Iorque. Acabam por envolver-se em situações extremamente surreais e de uma hilaridade muito própria.
As personagens são duas mulheres emancipadas e de origem judaica que tentam sobreviver da melhor forma na grande metrópole, sendo apanhadas em situações comicamente constrangedoras, muitas vezes por causa dos esquemas da personagem interpretada por Llana Glazer (Llana Wexler) e outras vezes por mecanismos externos.
Os episódios são pontuados pela relação carismática entre as duas personagens, sendo que Llana Wexler tem uma cómica girl crush e profunda devoção pela sua melhor amiga, característica que é usada subtilmente em vários episódios e que contribui para a química entre das duas personagens.
BROAD CITY produzida pela Comedy Central assume-se como uma das sitcoms mais interessantes da nossa época e que, através do humor, ilustra o drama presente em relações românticas, a pureza da amizade e a abordagem de alguns assuntos tabu. É uma série que merece ser vista e revista.
9 – Identidade judaica
Belle Barth nasceu em 1911 nos EUA. Foi uma comediante que se especializou também em números musicais e foi mais activa durante a época de 50 e 60 actuando em vários clubes nocturnos em Nova Iorque. O seu tipo de humor irreverente e sem-filtros garantiu-lhe alguns problemas sendo processada algumas vezes por pessoas que consideraram as suas tiradas ofensivas à sua integridade pessoal. No entanto, apesar desses obstáculos nunca mudou o seu estilo de humor.
A sua discografia compõe-se de discos gravados durante as suas performances. Os títulos falam por si. Especialmente, IF I EMBARASS YOU TELL YOUR FRIENDS, MY NEXT STORY IS A LITTLE RISQUE, I DON’T MEAN TO BE VULGAR, BUT IT’S PROFITABLE e o magnífico (na minha opinião) IF I EMBARASSED YOU, FORGET IT.
Belle Barth também utilizou algumas piadas que reflectem a diferença, por vezes subtil e outras caricaturial do cidadão americano de origem judaica e o cidadão não judaico ou goy. Numa piada que contou numa das suas performances é descrita o diálogo entre um recepcionista de hotel e um possível cliente que quer registar um quarto e que o recepcionista desconfia ser de origem judaica. O diálogo entre os dois segue da seguinte forma:
- “Who was your lord?”
- “Jesus Christ.”
- “Where was he born?”
- “In a stable in Bethlehem.”
- “And why was he born in a stable?”
- “Because a rat bastard like you, wouldn’t rent him a room, that’s why.”
Esse “conflito” cultural é amplamente ilustrado nos seus discos, especialmente numa outra narrativa que envolve uma personagem de origem irlandesa.
“You want to hear a story, it’s cute. About a irish man who is dying and he says to his wife :
- Please don’t bury me in a jacket, I hear it’s very warm down there. Bury me in a shirt.
So she buried him in a shirt. But when he got down there it was freezing. He says to a guy next to him:
- I thought it was hot down here. Why is it so cold?
- The jews are here they put an air-conditioning”
É interessante e divertido ouvir os discos porque o timing, capacidade de narrativa e a entrega de um forte punch-line por parte de Belle Barth faz com que a sua irreverência permaneça actual e inspiradora para novas gerações de comediantes.
10 – Auto-análise
Rodney Dangerfield nasceu em 1921 em Nova Iorque nos EUA. A sua criatividade era de carácter multifacetado, tendo-se distinguindo como actor, comediante stand-up, argumentista e produtor. Foi com stand-up que deu os primeiros passos como comediante, tendo actuado em vários bares e clubes, especialmente no The Improv em Nova Iorque. Esse clube lendário fundado nos anos 60 foi o palco de estreia de muitos comediantes que se tornaram famosos futuramente, tais como Bill Hicks, Jerry Seinfeld, Billy Crystal e muitos outros.
A sua one-liner mais famosa e a que usava várias vezes nas suas rotinas, “I don’t get no respect!” que normalmente pontuava os seus monólogos de humor extremamente auto deprecativo, teve origem na rotina cómica de um colega seu, George Starr que encarnava uma personagem de género rufia nas suas actuações e que para justificar a sua violência dizia do género “He didn’t show me respect. He should’ve shown me respect”. Estas linhas de diálogo fizeram luz na cabeça de Dangerfield que pediu a George Starr se podia usar a linha “I don’t get no respect!” por considerar que seria excelente para o tipo de humor que praticava. O seu colega concordou e a frase acabou por se tornar a trademark de Dangerfield.
O comediante também se tornou famoso pela qualidade e quantidade de one-liners que debitava sobre vários temas, bastante variados e ecléticos, desde relações familiares, problemas pessoais, incidentes cómicos do quotidiano e tudo o que lhe inspirasse a criação de uma ou duas frases certeiras.
Eis alguns exemplos :
"I was so depressed that I decided to jump from the tenth floor. They sent up a priest. He said, 'On your mark... '"
"When I was a kid my parents moved a lot, but I always found them."
"I had plenty of pimples as a kid. One day I fell asleep in the library. When I woke up, a blind man was reading my face."
Dangerfield sempre foi um mestre em sumarizar uma situação ou observação cómica em pouco mais de duas ou três frases.
No campo do cinema participou na comédia de culto CADDYSHACK (1980) ao lado de outros actores cómicos como Chevy Chase e Bill Murray mas em 1994 surpreendeu toda a gente ao participar no filme NATURAL BORN KILLERS de Oliver Stone.
Rodney Dangerfield em Natural Born Killers
Rodney Dangerfield faleceu em 2004 com 82 anos mas deixou um legado de comédia directa, certeira e de carácter instrospectivo e de auto-análise, mesmo que essa seja particularmente negativa, não deixa de ser extremamente cómica.
Conclusão:
Muitos foram e são os comediantes que continuam a fazer as suas rotinas cómicas e a acentuar por vezes de forma chocante alguns tabus que a sociedade moderna se sente mais confortável em camuflar. É através do humor que se criam alguns subtextos que permitem a reflexão crítica e dão espaço para a individualidade da opinião. Como o lendário realizador de cinema, Billy Wilder, uma vez afirmou “If you are going to tell people the truth, be funny or they will kill you.”
TEXTO: CLÁUDIA ZAFRE
Fontes utilizadas:
NET: Wikipedia
Livros: Jewish Comedy – A serious history by Jeremy Dauber
The last laugh: The world of Stand-up comics by Phil Berger