Hazul
São muitos os autores que assinaram o seu trabalho com pseudónimos em detrimento do seu individualismo. Um dos casos mais conhecidos da literatura é o das Irmãs Brönte. Hoje, noutra área, temos, por exemplo, o de Bansky, mas por outras razões.
Ao nos depararmos com o trabalho artístico exposto, se houver factor que nos prenda, mais informação sobre o autor vamos querer procurar. É o efeito que a curiosidade nos causa. Se o autor preferir a sombra do anonimato apenas o trabalho responde por si. Toda a atenção é dada à obra. Não será esse o objectivo? Não há intromissão, nem avaliações desnecessárias, somente e exclusivamente a sensibilidade da sua mão.
Muitas têm sido as paredes pintadas pela mão de Hazul que já nos idos anos 90 ia iniciando o seu caminho de formação nas artes. As paredes e a cidade do Porto não são uma paixão de agora, já nesse tempo frequentava os nichos do hip-hop quando carregava sempre na mochila desenhos que ia criando. Foi nessa altura também que foi ganhando um maior interesse pela arte de rua. Se passearmos pelas ruas do Porto, além de queimarmos algumas calorias, porque "os quadros" que pinta estão espalhados pela cidade, detectamos facilmente a identidade que tem marcado o seu trabalho. Será uma mulher, uma figura que Hazul construiu, protagonista de uma história? Será uma boneca-russa com passaporte português? As formas arredondadas, os traços espessos e finos, o movimento, os tons unicolores, que muitas vezes utiliza, remetem-nos para um Picasso Arte Nova que viveu no Japão e que é natural do Porto. É uma abordagem que se funde em várias expressões e influências. A protagonista da sua história conta as histórias do mar, dos animais que lá vivem, influência directa de quem sente no ar o cheiro da costa. Do mesmo modo, identificamos também nos seus murais etnografia e ancestralidade. Quem tem acompanhado o seu trabalho consegue perceber que a linguagem de Hazul foi ficando mais pelas formas, pela geometria, deixando os traços menos espessos pelo caminho. É interessante conseguirmos distinguir um street artist de outro. Apesar da tela ser a parede as histórias são sempre contadas na primeira mão.
No entanto, serão muitas as paredes em que a tinta tenha apagado essas e outras histórias, ainda assim, não é das memórias que vive um street artist, mas da extrapolação das ideias e da mensagem que pretende dar naquele exacto momento. Felizmente, hoje são várias as entidades públicas e privadas que encomendam trabalhos a estes artistas. A pergunta que deixamos no ar: não será o papel primordial da arte chegar a todo o lado e a qualquer um?
Pedimos a Hazul que nos dissesse quais os 5 livros, 5 discos, 5 filmes da sua preferência.
Pedimos a Hazul que nos dissesse quais os 5 livros, 5 discos, 5 filmes da sua preferência.
Livros:
- "A Sonda de Arcturus", José Arguelles
- "Assim falava Zarastruta", Friedrich Nietzsche
- "Viagem ao Centro da Terra", Julio Verne
- "Folhas de Erva", Walt Withman
- "O Espiritual na Arte", Wassily Kandinsky
Discos:
- "Morrison Hotel", The Doors
- "Gaia Sophia", Entheogenic
- "Por este rio acima", Fausto Bordalo Dias
- "Alien dream Time", Space Time Continuum with Terence Mckenna
- "Dealema", Dealema
Filmes:
- "Em Busca do Cálice Sagrado", Monty Python
- "Waking Life", Richard Linklater
- "2001- Odisseia no Espaço", Stanley Kubrick
- "Style Wars", Tony Silver
- "Pinceladas de Fogo", Kwon-taek Im
TEXTO: PRISCILLA FONTOURA
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