Elliot Smith nasceu em Omaha em 1969, viveu parte da sua infância em Dallas no Texas, mas cedo se mudou para Portland onde fez parte de várias bandas, tais como A murder of Crows, Harum Scarum, Stranger than Fiction e uma das mais conhecidas Heatmiser, uma banda de indie rock formada em 1991 e na qual Elliott Smith se ocupava das guitarras e vocalizações. Da banda faziam também parte Neil Gust, Brandt Peterson, Sam Coomes e Tony Lash. A banda teve uma boa aceitação do público e da crítica, chegando até a fazer-se telediscos para alguns dos seus temas.
No entanto, Elliott Smith traçou o seu caminho como singer-songwriter a solo, editando vários discos de estúdio durante os finais da década de 90. Todos os discos apresentam a criatividade e sensibilidade magistral de Elliott Smith em criar canções melodicamente inesquecíveis, voz inconfundível e letras que, apesar de profundamente melancólicas e introspectivas, oferecem também alguma esperança ao ouvinte. A música de Elliott Smith consegue criar em quem o ouve uma profunda empatia e, por isso, não é surpresa que nos primeiros concertos que deu a solo em Portland, a audiência estava completamente silenciosa e absorta no que o músico cantava e tocava durante os seus concertos acústicos.
ROMAN CANDLE (1994), ELLIOTT SMITH (1995), EITHER / OR (1997), XO (1998) e FIGURE 8 (2000) são discos que contêm canções de uma melancolia agri-doce que comunicam directamente a quem o ouve. Não há máscaras nem subterfúgios, existe apenas a identidade criativa de um cantautor que consegue transpor as suas angústias, receios, sonhos e particularidades da sua alma para o mundo, para quem o decide ouvir e quem faz essa escolha fica com a sua vida, nem que seja indelevelmente, transformada.
Neste documentário realizado por Nickolas Rossi, existe uma reflexão e ilustração da vida deste cantautor que logo no começo do documentário, numa entrevista, declara candidamente e sem filtros que a fama não seria nem é algo que o motiva. Simplesmente gosta de música, como afirma mais tarde no documentário e que é não é nada complicado nem complexo, é apenas o seu amor à música que o motiva.
Temos também acesso a arquivos de fotografia da sua infância no Texas onde demonstrou desde cedo proficiência a tocar piano, mas aos 14 anos dedicou-se à guitarra. Ouvimos também alguns dos seus amigos de infância que relatam que a sua maneira muito pessoal de finger-picking ao tocar guitarra, foi uma técnica que continuou a desenvolver e aplicar ao longo da sua vida.
Além do que respeita a Elliott, o documentário apresenta também algumas entrevistas a membros de bandas dos anos 90 na cena musical de Portland, sendo que algumas bandas admitem ter havido bastante influência no seu som por parte de bandas como Pixies ou Big Black. A cena musical em Portland era riquíssima, havendo uma grande comunidade e simpatia entre todas as bandas. Esta riqueza musical continua até aos dias de hoje na cena musical de Portland.
O documentário também se foca na morte trágica do cantautor em 21 Outubro de 2003 e filma vários locais em que fãs depositam fotografias, flores, velas em honra do músico que mudou em parte as suas vidas e cuja música os acompanhou nos momentos mais felizes e tristes da sua existência.
É um documentário essencial para fãs de Elliott Smith e para todos aqueles que ainda não conhecem o músico. Para fãs é um dos melhores tributos registados em filme.
TEXTO: CLÁUDIA ZAFRE
IMAGENS: Frames do filme-documentário "Heaven Adores You"