9 - GNR GNR GNR formaram -se em 1980 no Porto. Durante a década de 80 lançaram cinco discos. O primeiro e de estreia, INDEPENDA...

OS ANOS 80 EM PORTUGAL: As bandas da vanguarda (segunda parte)

9 - GNR

GNR

GNR formaram-se em 1980 no Porto. Durante a década de 80 lançaram cinco discos. O primeiro e de estreia, INDEPENDANÇA foi editado em 1982 e é composto por oito temas que fundem várias escolas musicais, desde o new-wave, post-punk, pop artístico alicerçados numa onda experimental, mas acessível. O disco abre com Agente Único, uma música que tanto tem de criativo como de surpreendente. Cativante pela linha de guitarras melódica e pela letra críptica e que faz jogos de palavras. A seguir segue-se a balada post-punk, O slow que veio do frio com uma malha de guitarras bastante rica e uma letra que tem o seu quê de sedutor. Dupond & Dupond é uma das canções mais criativas do disco com o seu solo de “saxofone”. Hardcore (1º escalão) é cantada em inglês e com coros interessantes a fazer de refrão. A letra satiriza de alguma forma os submundos da prostituição e da droga. The Light é um tema mais lento e envolvente que pulsa pelo uso do piano. Bar da Morgue é mais um tema fortemente influenciado pelo post-punk anglo-saxónico. Independança é um tema instrumental que é a porta de entrada para Avarias, uma composição altamente experimental com o seu quê de melódico que ultrapassa os 20 minutos. É uma música bastante rica que tem o seu quê de influência no krautrock. 

DEFEITOS ESPECIAIS foi o disco que se seguiu, editado em 1984. Depois da saída de Vitor Rua para se dedicar totalmente aos Telectu, ao lado de Jorge Lima Barreto. A banda sofreu algumas alterações na sua formação o que originou um som um pouco menos experimental que o seu antecessor. O disco abre com Desnorteado cuja letra reflecte um pouco a decadência humana. Piloto automático, Quebra gelo maré baixa e Pershingopólis são alguns dos pontos altos do disco. 

Capa do álbum "Os homens não se querem bonitos", GNR

No ano seguinte, editaram OS HOMENS NÃO SE QUEREM BONITOS que contém o clássico Dunas que continua a ser uma das músicas pop rock mais populares da música portuguesa. Além de Dunas, há temas igualmente interessantes se não até mais como o tema de entrada, Sta.Polónia, Sentidos pêsames, Sete Naves e o tema que encerra o disco, Azraël com a participação de Anabela Duarte (Mler Ife Dada). 

Em 1986 foi a vez de PSICOPÁTRIA com uma capa de álbum excelente. O disco é composto por onze temas e é complicado escolher pontos altos porque o disco é bastante consistente na sua qualidade. É um dos discos mais influentes do pop rock português. As melodias, a inovação e variedade instrumental andam de braço dado com a qualidade das letras com o registo de Rui Reininho. 

O disco que encerra a década de 80 é VALSA DOS DETECTIVES editado em 1989 e composto por 8 temas. Há alguns pontos altos como Dama Ou tigre, Um chamado desejo eléctrico, Impressões digitais e Morte ao sol duas das músicas mais populares do disco. 

Durante a década de 90, GNR continuou a editar discos e a firmar o seu lugar como uma das bandas mais importantes do pop-rock sofisticado português. 

Membros:
Toli César Machado (bateria, teclas, guitarra), 
Alexandre Soares (guitarra, 1980-82, 1983-87), 
Vítor Rua (guitarra, 1980-83), 
Mano Zé (baixo, 1980-81), 
Miguel Megre (baixo, teclas, 1981-82), 
Rui Reininho (voz, 1981-presente), 
Jorge Romão (baixo, 1983-presente), 
Manuel Ribeiro (teclas, 1984-presente), 
Zézé Garcia (guitarra, 1987, 1988-94), 
Alexandre Manaia (guitarra, 1994-presente)

10 - António Variações

Capa do álbum "Anjo da Guarda", António Variações

António Variações nasceu em 1944 em Braga e foi em 1983 que editou o seu disco de estreia, ANJO DA GUARDA. Um disco que continua refrescante nos dias de hoje e que nos lembra um dos músicos mais influentes da sua época que continua a inspirar inúmeros músicos e bandas portuguesas. O seu som é único e consegue fundir a modernidade de uma new-wave com o sentido e alma portuguesas. A sua voz é também inconfundível e carismática. É também um disco em que é complicado eleger temas que sejam um ponto alto porque a qualidade é consistente e está repleta de temas clássicos. Os mais populares são O corpo é que paga e é P’ra amanhã, no entanto, é um disco que vale a pena ouvir na íntegra. 

No ano seguinte, editou DAR E RECEBER que contém a icónica Canção do engate, uma das mais belas músicas do universo da música portuguesa. Há também uma grande fusão entre a música tradicional e a modernidade. Neste disco contou com a colaboração dos Heróis do Mar. Quem feio ama tem uma grande influência de música minhota, mas aliada a bateria e sintetizadores. É um disco de inegável qualidade e que firmou o legado deste músico original e carismático. 

António Variações

Após o seu falecimento em 1984, muitas compilações foram editadas, sendo que a mais completa foi O MELHOR DE: ANTÓNIO VARIAÇÕES editado em 1997. E os HUMANOS (Camané (voz), David Fonseca (voz), Manuela Azevedo (voz), Hélder Gonçalves (guitarra), Nuno Rafael (guitarra), João Cardoso (teclas), Sérgio Nascimento (bateria, percussão) que em 2004 se reuniram para tocar algumas das músicas de António Variações no disco homónimo lançado em 2004. 

As suas músicas foram também usadas em filmes e mais recentemente no filme O Ornitólogo (de 2016) de João Pedro Rodrigues. 

É um músico que continua bastante presente no universo musical português. 

11 - Pop Dell’ Arte

Capa do álbum Pop Dell' Arte, Free Pop

Pop Dell’ Arte formaram-se em 1984 em Lisboa. Foi em 1987 que marcaram a sua estreia com o icónico FREE POP que foi uma autêntica "pedrada no charco" da por vezes estagnada cena musical portuguesa. As letras e vocalização transportam-nos para um outro mundo. Um surreal de matéria onírica. O experimentalismo está assente em todos os temas do disco. Em vez de free jazz temos realmente, free pop. 

Há alguns pontos altos do disco como em Rio Line, uma das músicas mais populares da banda. As linhas de baixo electrizantes de Loane & Lyane Noah. A hipnotizante Avanti Marinao. A críptica Bladin. E a magnética e furiosa Juramento sem bandeira que encerra o disco com a participação de Adolfo Luxúria Canibal (Mão Morta)

Pop Dell’arte

Os Pop Dell’arte continuaram a editar discos em 90 e 2000. Podem ser vistos ao vivo em alguns locais em Lisboa e é garantido que será um bom concerto. 

Membros:
João Peste (voz), 
Zé Pedro Moura (guitarra, 1984-?, 2001-presente), 
Paulo Salgado (baixo), 
Ondina Pires (voz, bateria, 1984-85), 
Sapo (bateria, 1985-89), 
Luís San-Payo (bateria, 1987-89, 1991-2001), 
Paulo Monteiro (guitarra, 1995-2001), 
JP Simões (guitarra), 
Pedro Alvim (baixo)

12 - Ocaso épico

Capa do álbum "Muito obrigado", Ocaso Épico

Ocaso Épico formou-se em 1981 em Lisboa. Em 1988 foi editado MUITO OBRIGADO. É um disco bastante experimental e que mistura uma grande quantidade de instrumentos. No entanto, o clima é de música “outsider” com uma produção um pouco acima da média desse género de música. Há bastante sentido de humor e efeitos sonoros. Tem algumas características de música zolo e é quase impossível definir com perfeição os temas que compõem este disco bizarro mas fascinante. As composições são surpreendentes e imprevisíveis e permanece como um marco importante na música alternativa portuguesa, sendo que a ousadia de um disco destes nos anos 80 é um grande feito. 

O disco que se seguiu em 1989 intitulado DESPERDICIOS tem uma duração bastante maior e é uma maquete de sons experimentais e electrónicos. Um dos músicos que colaborou nesta maquete foi Carlos Zíngaro. É mais uma vez uma viagem experimental em paisagens por vezes negras, por vezes excêntricas, que marcam o carácter musical singular de Farinha Master. 

São dois trabalhos que valem a pena explorar. 

Membro:
Farinha (voz, guitarra, flauta, teclas, percussão)

14 - Essa Entente

Capa do álbum "Essa Entente", Essa Entente

Essa Entente formaram-se em 1984 e foi em 1989 que editaram o disco homónimo. É um disco influenciado por rock mais folk, new-wave e algum jangle pop. Dança Nua é talvez um dos temas mais populares da banda, formada por uma malha de guitarras acústicas agradável e bons coros masculinos que servem de refrão. Colibri é também um bom tema com uma boa secção de teclas. Sinistro é um dos temas mais interessantes do disco com uma excelente textura de guitarras. É um disco promissor de uma banda que apenas pecou pela sua curta existência. 

Membros:
Paulo Riço (voz, guitarra), 
Paulo Sousa (guitarra), 
Paulo Salgado (baixo), 
Paulo Neto (bateria), 
Manuel Machado (acordeão, teclas)

15 - Mão Morta

Mão Morta

Mão Morta formaram-se em 1984 em Braga. Iniciaram-se em 1987 com o disco homónimo. Tem temas clássicos como Aum, Oub’lá e E se depois. Um disco bastante importante no panorama do rock alternativo da década de 80 e que os viria a confirmar como uma lufada de ar fresco na música portuguesa nas décadas seguintes. Os seus trabalhos mais significativos continuaram a ser editados durante os anos 90 e 2000. 

Membros:
Joaquim Pinto (baixo, 1984-90), 
Miguel Pedro (guitarra, bateria), 
Adolfo Luxúria Canibal (voz), 
Zé dos Eclipses (guitarra, 1985-91), 
Carlos Fortes (guitarra, 1986-94), 
Paulo Trindade (bateria, 1987), 
José Pedro Moura (baixo, 1990-2000), 
António Rafael (teclas, 1990-?), 
Sapo (guitarra, 1991-?), 
Vasco Vaz (guitarra, 1994-?), 
Marta Abreu (baixo, 2000), 
Joana Longobardi (baixo, 2000-?)

16 - Heróis do Mar 

Heróis do Mar

Heróis do Mar formaram-se em 1981 em Lisboa. Foi nesse mesmo ano que editaram o disco homónimo. Um disco composto por 8 temas que de certa forma importou um pouco da estética musical e sonora do movimento new romantic com a essência da alma portuguesa. Uma mistura que teria tudo para não funcionar, mas que além da banda conseguiu fazer não só que funcionasse como também produziram um dos discos mais interessantes da década de 80 dentro do panorama pop português. O disco abre com a potente Brava dança dos heróis que dá o mote para a brilhante Amantes furiosos. O disco apesar de só ser composto por 8 temas está recheado de clássicos, sendo que o mais popular foi Saudade

Capa do álbum Macau, Heróis do Mar

Foi em 1983 que lançaram o disco MÃE. Um disco composto por 7 temas que continua o registo sonoro da banda. Uns dos pontos altos são Cachopa, Portugal e Cinco soldados

Em 1986 editaram MACAU. Um disco composto por 8 temas e que assume um carácter mais surreal e sonial do que os seus antecessores. Abre com o fantástico instrumental Macau que dá nome ao disco. É um disco cujos temas estão equilibrados a nível de qualidade. Um dos discos mais ousados e interessantes da banda. 

Heróis do Mar são mais conhecidos pelos singles Paixão, Amor e Saudade, mas há todo um universo de canções bastante interessantes para explorar, descobrir ou redescobrir. 

Membros:
Pedro Ayres Magalhães (voz, baixo), 
António José de Almeida (bateria, percussão, 1981-87), 
Rui Pregal da Cunha (voz), 
Carlos Maria Trindade (teclas, voz), 
Paulo Pedro Gonçalves (guitarra, saxofone, voz)

Conclusão: 
Seja através da new-wave, do post-punk ou até do new romantic, foram algumas bandas portuguesas que agitaram e deram música a um país que durante a década de 80 viu os seus costumes e mentalidades serem alterados. Foram anos fascinantes que nos deram canções que ficarão para sempre no imaginário português. Actualmente são inúmeras as bandas que se influenciam nesta época.


TEXTO: CLÁUDIA ZAFRE