It Follows realizado por David Robert Mitchell é um dos filmes mais originais de
terror dos últimos tempos. A narrativa foca-se em Jay (interpretada por Maika
Monroe), uma jovem que se envolve sexualmente com um rapaz que mais tarde lhe
diz que lhe transmitiu uma entidade malévola que a vai perseguir até a matar.
Esta entidade ou maldição é passada através de relações sexuais e Jay começa a
ficar cada vez mais paranóica, sendo que os próprios amigos não acreditam que
ela esteja amaldiçoada, até que claro, coisas estranhas começam a acontecer. A
cinematografia é refrescante e original dando uma qualidade bastante onírica ao
filme. Essa originalidade também está presente nos dezoito temas da
banda sonora composta por Disasterpeace. O tema principal tanto tem de belo
como de aterrador e na boa linha de John Carpenter o uso de sintetizadores é
uma prerrogativa. É uma banda sonora fascinante que consegue traduzir a tensão,
medo e ansiedade presentes no filme. Consegue ouvir-se independentemente do
filme, sendo que é um clássico para fãs de música eléctronica com recurso a
sintetizadores.
El Orfanato é um filme realizado por J.A Bayona e a sua estreia nas
longas-metragens. O filme conta a
história de Laura (interpretada por Belen Rueda) que decide voltar à casa onde
viveu a infância e abrir um orfanato. Os problemas começam quando o seu filho
começa a ter comportamentos um pouco sinistros e a falar dos seus amigos
imaginários, que se calhar, não são tão imaginários quanto isso. O filme não se
baseia em gore ou violência gráfica de qualquer espécie, mas através de intriga
através da narrativa, o elemento mistério e o uso adequado e certeiro do
suspense. A banda sonora composta por Fernando Velázquez é elegante, misteriosa
e acima de tudo, bela. As composições podem ser ouvidas independentemente do
filme e acarretam uma atmosfera de ameaça constante imiscuída com momentos de
calma e beleza. Esta ameaça é sentida muito profundamente no tema “Un día de Fiesta”. São composições que dão uma outra envergadura a um filme já de si
bastante sofisticado e gracioso.
31 – Kairo (Pulse), Takefumi Haketa (2001)
31 – Kairo (Pulse), Takefumi Haketa (2001)
Pulse
é um filme realizado por Kiyoshi Kurosawa que funde o género de terror psicológico
com o pós-apocalíptico de uma forma magistral. Nesta narrativa, o mundo dos
espíritos infiltrou-se na realidade através da internet e da tecnologia. O
mundo fica invadido por fantasmas e a cinematografia do filme ajuda a recriar
uma atmosfera de melancolia e solidão. A banda sonora composta por Takefumi
Haketa consegue traduzir na perfeição um ambiente estéril, assustador e
profundamente desolador. Há o uso de cores femininos cristalinos que se
infiltram numa malha de música pulsante, atmosférica e que tem o seu quê de
melancólico e assustador. Um dos filmes mais marcantes do terror japonês dos
últimos tempos e que conta com uma banda sonora que ajuda a fortalecer todo o
mood do filme.
32 - Possession, Andrzej Korzynski (1981)
32 - Possession, Andrzej Korzynski (1981)
Possession
é um filme de terror psicológico com inclinações de art-house realizado por
Andrzej Zulawski. Neste filme, Isabelle Adjani e Sam Neill interpretam um casal
que está com dificuldades graves no seu matrimónio. Problemas esses agravados
pelo facto da personagem interpretada por Adjani manter uma relação
extra-conjugal com uma criatura reminiscente de trabalhos de H.P Lovecraft. O
filme tem grandes influências surrealistas e consegue criar uma sensação de
desconforto permanente ao espectador. A banda sonora composta por Andrzej
Korzynski é feita de uma electrónica de batidas em drum machines com uma forte
componente de sintetizadores que ajudam a recriar a atmosfera desconfortável e
perturbante do filme. O uso do piano também evoca alguma da melancolia que se
vê no filme e que provém de um casamento falhado. É um filme que entrou no
circuito dos festivais de prestígio e conseguiu arrecadar o prémio de melhor
actriz no festival e Cannes.
33 - Onibaba, Hikaru Hayashi (1964)
33 - Onibaba, Hikaru Hayashi (1964)
Onibaba
é um filme realizado por Kaneto Shindo e que retrata o quotidiano cinzento de
duas mulheres que se vêm sozinhas a morar num pântano durante o século XIV no
Japão. As duas mulheres ganham a sua subsistência a enganar e matar soldados
que buscam santuário em casa delas. Depois de os matarem, ficam com os seus
bens e é assim que ganham a vida. As coisas mudam quando um soldado chega a
casa delas e a desconfiança entre as duas mulheres começa a crescer até atingir
limites insuportáveis. A mulher mais velha começa a usar uma máscara
pertencente a um samurai, mas vê-se incapaz de retirar a máscara, tornando-se
ela própria uma espécie de demónio. A banda sonora de Hikaru Hayashi pontua
toda a narrativa com o uso de percussão que sublinha os movimentos tensos,
ansiosos e bruscos das personagens. Apesar de não se encontrar um lançamento
oficial da banda sonora esta é de um cariz algo negro e jazzístico de
vanguarda. É um filme clássico do cinema japonês que ainda hoje causa arrepios.
Brain Damage é um filme realizado por Frank Henenlotter que mistura com mestria
comédia negra com terror. A narrativa centra-se em Brian, um jovem que se vê
invadido por um parasita mutante chamado Aylmer que gosta bastante de cantar e
que consome cérebros humanos para a sua subsistência. Brian começa a
arranjar-lhe cérebros para comer, ao mesmo tempo que Aylmer injecta uma
substância alucinógena em Brian que leva a algumas situações hilariantes, mas
bastante gore. A banda sonora composta por Gus Russo tem também o seu quê de
divertido, especialmente no nome dos temas, como por exemplo, Parasite Lost
e Pasta con Cerebrum. As melodias são
tipicamente anos 80 com sintetizadores a liderar e a ter bastante
predominância. São 26 temas enérgicos e ameaçadores que ajudam a recriar a
atmosfera única e criativa do filme. Um dos meus filmes preferidos de terror na
medida em que consegue misturar comédia negra com terror, sem descair
completamente na “palhaçada” e ao mesmo tempo consegue criar uma alegoria
social sobre o uso de drogas e o efeito físico devastador que acaba por provocar
na pessoa.
35 - Altered States, John Corigliano (1980)
35 - Altered States, John Corigliano (1980)
Altered States é um filme realizado por Ken Russell e visualmente bastante forte e
criativo. Consegue misturar ficção cientifica com terror da melhor forma
possível e conta também com uma excelente interpretação de William Hurt no papel
de Dr. Eddie Jessup que torturado pela morte do pai, decide descobrir pelos
seus próprios recursos o verdadeiro significado da vida. Para alcançar o seu
objectivo, toma um poderoso alucinógeno enquanto se fecha num tanque de
isolação. É aí que nesse estado completamente alterado, viaja para os
primórdios da história do Homem. É um filme surrealista, criativo e único. A
banda sonora composta por John Corigliano acentua o carácter surrealista do filme
através do uso ecléctico de várias sonoridades distintas. Há momentos
orquestrais que enfatizam os momentos mais dramáticos e passagens de piano de
profunda melancolia. A banda sonora em si é também ela uma viagem interior e
introspectiva que se adequa na perfeição ao carácter único do filme.
36 - Don’t look Now, Pino Donnagio (1973)
36 - Don’t look Now, Pino Donnagio (1973)
Don’t look Now realizado por Nicolas Roeg é um filme delicado que funde drama com
terror. A história toma lugar numa das cidades mais carismáticas e bonitas da
Europa, Veneza em Itália. O casal interpretado por Donald Sutherland e Julie
Christie está de luto pela morte da filha e entra em contacto com uma vidente
que lhes diz que a filha deles os está a contactar através do além. A partir
daí, as coisas tornam-se cada vez mais estranhas e surrealistas. A banda sonora
composta por Pino Donnagio é composta por 3 peças clássicas que acentuam a
elegância e sofisticação do filme. Há passagens em que paira uma ameaça com o
uso de uma orquestração pesada. É uma banda sonora clássica para um filme de
terror psicológico com elementos sobrenaturais que elevou o bastião dos filmes
de terror da década de 70.
37 - Les Yeux Sans Visage (Eyes without a face), Maurice Jarre (1960)
37 - Les Yeux Sans Visage (Eyes without a face), Maurice Jarre (1960)
Realizado
por George Franju, Les Yeux Sans Visage é um filme sombrio e surreal que
retrata um cirurgião brilhante mas com óbvios problemas psicológicos que tenta
restaurar a cara da filha que ficou horrivelmente desfigurada num acidente. Sem
querer ligar a falhanços nem obstáculos, o cirurgião continua o seu trabalho apesar
obter resultados um pouco grotescos. A banda sonora composta por Maurice Jarre
tem o seu quê de romântico quanto de perturbante. São composições curtas mas
cheias de sentimento e que evocam algumas das imagens mais marcantes do filme. Poético,
mas arrepiante.
Realizado
por Nicolas Winding Refn é um filme visualmente triunfante e que caracteriza de
forma surreal o lado mais negro e soturno da indústria da moda. A história
centra-se em Jesse (interpretada por Elle Fanning) uma jovem bela e um pouco
inocente que tenta a sua sorte em L.A numa agência de modelos. As coisas
assumem um carácter cada vez mais negro e aterrador quando a beleza de Jesse
começa a ser motivo de inveja patológica. É um filme visualmente perfeito que
se destaca imediatamente pelas belas cenas inicias e cuja banda sonora composta
por Cliff Martinez complementa sem falhas o carácter sofisticado e luxuriante do
filme. Há que destacar também o tema Demon Dance de Julian Winding que toca
numa das cenas mais memoráveis do filme. A banda sonora é extremamente apelativa
e pode ouvir-se independentemente do filme pois tem vida própria e um carisma
bastante apelativo. É um dos filmes de terror psicológico mais bem conseguidos
visualmente dos últimos tempos.
Conclusão:
As bandas sonoras
em filmes de terror são complementos essenciais para acentuar a atmosfera das
imagens e o carácter tenso, ansioso e dramático da narrativa. Podem ser ouvidas
independentemente das imagens, mas evocam sempre os momentos mais cruciais dos
filmes que lhe deram vida. Seja com a mistura de ficção-científica, thriller ou
até comédia, o género de terror continua a ser um dos mais prolíficos e
interessantes da sétima arte.
TEXTO: CLÁUDIA ZAFRE
IMAGENS: Frames dos Filmes
IMAGENS: Frames dos Filmes
Fontes
Livros: Film Music and Film Genre, Mark Brownrigg
Shock Value: How a few eccentric outsiders gave us Nightmates, conquered Hollywood, and invented Modern Horror, Jason Zinoman
Shock Value: How a few eccentric outsiders gave us Nightmates, conquered Hollywood, and invented Modern Horror, Jason Zinoman