Este documentário realizado por AJ Schnack é bastante diferente dos restantes feitos sobre Kurt Cobain, na medida em que é construído com base em filmagens da cidade de Aberdeen e dos seus habitantes e cujo pano de fundo são entrevistas a Kurt Cobain (realizadas um ano antes do seu suicídio), nas quais o músico discorre sobre a sua vida familiar, especialmente a relação complicada com o seu pai, o desafio que sempre sentiu em relação a figuras de autoridade e outros assuntos pertinentes. É interessante ouvir o músico a exprimir-se sem reservas e a falar dele próprio, em vez de ouvirmos entrevistas feitas a amigos, colegas ou fãs.
São gravações essenciais para quem quer saber mais da infância, adolescência de Cobain. O seu interesse pelo punk-rock, os primeiros concertos, as bandas que o impressionaram como Young Marble Giants, Kleenex e The Vaselines e o nascimento da filha. É Kurt Cobain pelas suas próprias palavras e nunca vemos filmagens do músico, apenas no final do documentário temos acesso a algumas fotografias de Kurt, algumas bastante enternecedoras.
Notícia aparentemente irrelevante socialmente, mas que não é fake news: Decorria o ano de 93 quando duas meninas de 9 anos foram postas de castigo numa viagem a Salamanca por terem dito ao professor que a cassete que tinham era só músicas dos Beatles. O professor ficou horrorizado quando a cassete começou a tocar e pode ter ou não distinguido a voz única de Kurt Cobain e o seu exímio trabalho na guitarra. As duas meninas foram proibidas de lanchar e mais tarde em Salamanca adquiriram cada uma uma cassete original de In Utero porque a que tinham era pirateada. Passado poucos meses, decidem, uma delas quer ser médica e passa grande parte do tempo a ver vídeos de autópsias. A outra quer ser argumentista e faz vozinhas para as peças de jogo do Cluedo enquanto as outras crianças tentam jogar seriamente. São parte de uma geração da qual Kurt Cobain foi o irmão mais velho.
TEXTO: CLÁUDIA ZAFRE
IMAGEM: frames do documentário "Kurt Cobain about a Son"