JOÃO SALAZAR
Género: alternativo, experimental, MPB
Álbum: Lugar Afora
Data de lançamento: Agosto, 2018
Género: alternativo, experimental, MPB
Álbum: Lugar Afora
Data de lançamento: Agosto, 2018
Capa do disco Lugar Afora
Sabe-se que é bastante difícil recitar poesia de forma excelsa, mas é capaz de ser ainda mais difícil musicar poesia, seja ela feita de palavras ou sons, mas é o que João Salazar consegue fazer no seu disco de estreia.
O disco LUGAR AFORA integra oito canções inteiramente compostas por João Salazar e duas em parceria com Bruno Neves e Guilherme Becker. As vocalizações do cantautor têm o timbre delicado e perfeito para o florescimento das palavras no timing certo e em perfeita consonância com as melodias. Percorrendo as dez canções embarcamos numa viagem suave, mas intensa, por entre os caminhos floridos do MPB, a sensibilidade do folk e as curvas e contracurvas de um experimental que se imiscui nas canções garantindo a sua autenticidade.
A primeira canção, Lugar Adentro, é a porta de entrada para um mundo introspectivo, poético e extremamente sensível. O começo aparentemente dissonante faz florescer uma melodia pastoral, enriquecida pelas vocalizações, poesia da letra e a riqueza de instrumentos, tais como o piano e violoncelo. Andar, é a canção que se segue e que conta com o violoncelo de Lucas Duarte (dois músicos que já haviam colaborado num EP) e o uso do glockenspiel tocado por Caio Mello. Nossos mapas, é uma música de cariz muito intimista tanto pelas intromissões suaves de piano tocado por Leonardo Bittencourt como pelo trabalho de percussão de André Garbini e Ives Mizoguchi e o violão de Bernard Simon.
Em Algum Desatino composta em parceria com Guilherme Becker, deixamo-nos voar por entre malhas melódicas que têm passagens de uma electrónica orgânica e por efeitos sonoros criativos e completamente fora dos lugares-comuns. Hemisférios começa por uma linha clara e melódica de violão tocada por João Salazar e mais uma vez é uma composição que é surpreendente com as linhas de guitarra de Lorenzo Flach. Entropia é um autêntico poema musicado que tem tanto de viciante como de memorável. Interferência começa com uma linha de baixo forte e intensa tocada por Caio Mello e um acompanhamento intrigante de sintetizadores por Juliano Lacerda.
Coletiva Solidão prima por ter um belo poema que coincide na perfeição com a melodia rica, cheia de texturas e camadas e uma percussão bastante expressiva tocada por Bruno Neves, sintetizadores por Gabriel Burin e mais uma vez o violoncelo de Lucas Duarte. Todos os instrumentos estão em perfeito acordo uns com os outros, mas há espaço para que cada um deles consiga reflectir a sua luz.
Eco é talvez a música com mais influências MBP tanto pelas guitarras como pela própria letra. A canção que encerra o disco, chama-se Curva e é uma música perfeita para desenhar os últimos milímetros de um círculo perfeito. É um disco de estreia que apesar de ter uma primeira e última canção, merece estar em constante rotação, sendo um dos discos mais promissores da nova vaga de compositores e músicos brasileiros.
TEXTO: CLÁUDIA ZAFRE