Há um entusiasmo que se sente no ar por força do número de fãs que vieram de todos os cantos do país ao Porto para verem os californianos Yawning Man, no Woodstock 69 rock Bar. Não são muitos, nem poucos, mas são os necessários para que o calor se sinta e se veja nas gotas de suor de muitos dos rostos da plateia, numa noite quente de Verão. O trio que influenciou e continua a influenciar um rol infindável de bandas (Kyuss, Brant Bjork and the Bros, Fu Manchu, Queens of the Stone Age) não solta palavras. Prefere saltar de álbum em álbum - Rock Formations, Vista Point, The Revolt Against Tired Noises -, para agradar um conjunto de fãs saudoso que não os vê desde que cá vieram ao extinto Reverence.
Não é caso para dizer que a idade não perdoa. Apesar de muitos anos de estrada e muitas visitas a salas de espectáculo, os padrinhos do desert rock continuam a viajar pelo "deserto das palmeiras" do sul da Califórnia. Enquanto se ouve Perpetual Oyster, tema do longa duração Rock Formations, só gravado após quase 20 anos de carreira por dissoluções e divisões noutros projectos, entende-se porque uma banda com uma história tão exclusiva reúne uma legião de fãs que passou tempo a partilhar cassetes. O som é característico das paisagens onde os cactos e as esculturas cavadas naturalmente na terra são protagonistas. O ressurgimento motivado por Alfredo Hernandez obrigou a uma alteração do paradeiro da banda, que até então não tinha assinado com nenhuma editora. O baixo de Mario Lalli, a marcar toda a base rítmica do repertório de Yawning Man, ao lado da guitarra de Gary Arce, é a fonte de onde jorram repetições e improvisações instrumentais de rock quente.
Ao longo do concerto muito suor escorre naquele deserto seco que, para ser elevado a outro nível, só precisaria de céu aberto rumo às estrelas. Arce, ainda que vestido com uma tshirt que publicita a Coca-Cola, prefere a cerveja para se refrescar naquela sauna sonora que, ainda assim, não afasta qualquer melómano daquele momento tão histórico - um verdadeiro teste à resistência.
O hino Catamaran, versão gravada pelos Kyuss, mata a saudade de todos que sentem familiaridade por todas aquelas bandas que deram nome ao género desert Rock. Ouve-se Cataraman cantado com toda a garra em memória de todas as lembranças que cada um viveu na sua intimidade.
TEXTO: PRISCILLA FONTOURA
LOCAL: Woodstock 69 bar, Porto
DATA: 11 de Setembro, 2018
CONCERTOS: Yawning Man
Canção: "The Revolt against tired noises", Yawning Man