Palavras-chave: Activismo, LGBT, DIY
Resumo:
Resumo:
O mundo da música mainstream sempre se restringiu muito à heteronormatividade, excepto algumas bandas da década de 80 e 90. Essa tendência tem vindo a desvanecer, havendo cada vez mais artistas a exprimir as suas preferências e ideologias ligadas ao movimento LGBT. Tem havido mais liberdade e as mentalidades têm mudado em prol de uma maior liberdade quanto ao assumir as orientações sexuais alternativas. No underground, este caminho de liberdade foi cimentado, em parte, pelo movimento Queercore que surgiu em meados dos anos 80 e que se propagou através de zines, música, artes plásticas e cinema, sempre numa estética ideológica DIY (do it yourself).
Foram inúmeras as bandas que influenciadas e inspiradas pela ideologia e sonoridade punk criaram o movimento Queercore, que ganhou bastante força durante a década de 90. Este movimento abarcou também outros géneros musicais. No entanto, as letras focavam-se nos direitos civis individuais, identidade de género e identidade sexual firmando a sua personalidade e dando voz aos que tiveram de permanecer escondidos durante muito tempo.
1 - Introdução a TEAM DRESCH
por: Neilson Abeel
Banda formada em Washington em 1993. Foi uma das bandas mais importantes e influentes do movimento Queercore lideradas por Donna Dresch e companhia: Kaia, Jody Bleyle, Marci Martinez, Melissa York, Scott Plouf e Amanda Kelly. Lançaram dois discos de longa duração e uma quantidade respeitável de singles. O disco de estreia, PERSONAL BEST, foi lançado em 1995 e captura a energia intensa, carisma, frontalidade e vivacidade de uma banda que deu voz aos seus ideais. Aliados à tag da riotgrrrl e do punk hardcore, PERSONAL BEST é um disco vivaz com uma produção bastante DIY e sem grandes artifícios, porque o importante são as melodias, as canções e as mensagens de tolerância e resiliência que são expressas nas letras. Foi logo no ano seguinte que foi lançado CAPTAIN MY CAPTAIN. É um disco que captura a vivacidade e energia do disco anterior e que perpetua o legado de música in-your-face, melodias cortantes e algum sentido de humor de carácter irónico. Há alguma influência grunge e punk que embeleza este bouquet de diversidade. Alguns dos membros da banda fundaram duas editoras especializadas em música feita por mulheres, Chainsaw Records e Candy-ass records, dedicando-se a fortalecer a presença feminina no mundo musical.
2 - ANTI SCRUNTI FACTION
Banda formada no Colorado, EUA no início dos anos 80 com elementos da banda Tribe 8 e que em 1985 lançaram o disco DAMSELS IN DISTRESS recheado de músicas de curta duração com uma abordagem frontal e estrutura melódica de power chords e composição com três, quatro acordes. Bastante simples à superfície, mas imersa numa energia contagiante que agarra o/a ouvinte do princípio ao fim. Para quem gosta de punk mais puro com estrutura simples de power chords e vozes berradas com mensagens que conquistam tanto pelo imediatismo da mensagem como pela sua ironia, é um disco imprescindível e charneira para um movimento que continuou a crescer durante a década de 90.
Além do disco de estreia (e único de longa-duração) a banda editou também um single, A SURE FUCK com uma capa provocatória, irónica e contestatária nas suas entrelinhas. As músicas são também de cariz confrontacional com um toque forte de garage rock mantendo a ferocidade do seu disco de longa duração. É um EP que reafirma o valor do empowerment feminino através da música.
3 - PYKA
Pyka, Too Femme Too Furious
Durante os anos 2000 surgiu PYKA, uma banda formada em Middletown nos EUA que editou em 2014, TOO FEMME TOO FURIOUS, uma mistura de powerviolence com grindcore que serve de veículo para as mensagens contestatárias e de afirmação dos direitos civis de quem rejeita os valores por vezes, dogmáticos da heteronormatividade. São músicas muito curtas, típicas do género grindcore e com um puxão assertivo de powerviolence. O disco é cru, puro e directo, extremamente curto, estando abaixo dos 10 minutos e com músicas que são um autêntico soco no estômago.
4 - GOD is my CO-PILOT
Primeiro lançamento de GimCP
Formada em 1991 em NYC nos EUA, esta banda esteve activa durante a década de 90, editando 11 discos de originais e mantendo-se na frente do punk experimental com um cheirinho artsy. Foi em 1992 que lançou I AM NOT THIS BODY com 34 músicas e com duração sempre abaixo dos dois minutos. O lado experimental está sempre presente e há também uma certa influência no wave. As malhas de guitarra são aparentemente dissonantes e os vocais ora berrados, ora falados, ora cantados de Sharon Topper dominam este registo que foi instrumental para o desenvolvimento e continuação do movimento.
Foi no mesmo ano que a banda lançou SPEED YR TRIP que também conta com arranjos e estruturas muito pouco convencionais. Assim como o seu predecessor, as músicas são muitas, mas de curta duração. Há a inclusão de saxofone e alguma influência jazzística em certos temas. É um disco feroz, confrontativo e completamente inconformado. A banda continuou a seguir a sua estética sonora até ao ano de 1998 quando editou GET BUSY, o último disco de originais.
É uma banda que desafia convenções tanto liricamente quanto sonoramente. Durante a década de 90 o grupo demonstrou que o punk pode aliar-se ao experimental e que o fruto dessa união pode revelar-se bastante interessante.
5 – TRIBE 8
Esta banda formou-se em São Francisco nos EUA e durante meados dos anos 90 editou dois discos de originais. O primeiro foi FIST CITY em 1995 com vocais femininos bastante distintos com um timbre grave. As letras são confrontacionais, activistas e extremamente pró-feminismo. Há uma maior influência grunge do que punk rock nas melodias e no estilo de entrega vocal. Os títulos das músicas também ilustram a ironia que está presente nas letras, como é o caso de Romeo & Julio, Neanderthal dyke e Frat Pig.
Em 1998 foi a vez de SNARKISM com uma abordagem punk mais directa e rápida do que o seu antecessor. As letras oferecem versos que subvertem géneros e as normas da heretonormatividade. No mesmo ano, saiu ROLE MODELS FOR AMERIKA que segue a mesma fórmula de música rápida, melódica com letras irónicas e com um sentido de humor refinado que revolucionam as ideias standard de sexualidade da sociedade. Uma banda que pode ser uma delícia para fãs de punk rock directo e cheeky e também para quem tem saudades do som grunge mais autêntico.
6 – PANSY DIVISION
Formaram-se em São Francisco nos EUA em 1991 e editaram o primeiro disco, UNDRESSED em 1993. É uma colecção de músicas ao género pop punk em que se dá primazia às letras que com bom humor dão bastantes bailes e bailaricos a preconceitos e estereótipos que abundavam na sociedade da altura e que infelizmente, ainda estão presentes hoje em dia. Por vezes, a melhor maneira de combater certos preconceitos como a homofobia é através do bom humor e de melodias simples, mas certeiras. Uma autêntica colecção de hits que diverte e faz reflectir, independentemente da orientação sexual de cada um.
O disco que se seguiu no ano seguinte, DEFLOWERED, é uma continuação agradável do seu antecessor, mas, para quem se quer iniciar na banda, é melhor ouvir UNDRESSED primeiro e depois DEFLOWERED. No pun intended. Seguiu-se WISH I’D TAKEN PICTURES em que o sentido de humor continua bem presente, mas há a inclusão de temas um pouco mais sentimentais na sua natureza.
A banda continuou o seu trabalho, entrando nos anos 2000 com a sua fórmula divertida de pop punk e o seu último registo foi editado em 2016 intitulado QUITE CONTRARY.
7 – G.L.O.S.S
Esta banda cujo nome é acrónimo para Girls Living Outside of Society’s shit formou-se em 2015 em Washington nos EUA. Editou dois EP’S, GIRLS LIVING OUTSIDEOF SOCIETY’S SHIT e TRANS DAY OF REVENGE. Ambos são bastante curtos, sendo que estão abaixo dos 10 minutos de duração. A música é melódica, mas feroz, punk hardcore sem pretensão e bastante puro na sua abordagem rápida e frontal. As letras têm o seu quê de sarcástico e de activista.
Esse carácter de activismo é ainda mais acentuado em TRANS DAY OF REVENGE que é ainda mais curto de duração que o disco anterior, são autênticos hinos de rebelião, incentivo à anarquia e à subversão das regras rígidas da sociedade contemporânea.
Conclusão:
O movimento queercore nasceu em meados dos anos 80 e continua bem vivo nos dias de hoje. Foram e são inúmeras as bandas que através da frontalidade ou da ironia mais sofisticada conseguem ilustrar e trazer à luz, sem medos, nem reservas, um amor que agora tem a audácia de dizer o seu nome. Pelo engenho musical e criatividade lírica, as bandas deste movimento apelam a qualquer indivíduo melómano seja qual for a sua orientação sexual.
TEXTO: CLÁUDIA ZAFRE
Fontes utilizadas:
NET:
https://www.sfgate.com/bayarea/article/Word-Is-Out-on-Gay-Punk-Scene-The-defiant-3039542.php
LIVROS:
Spewing Out of the Closet: Musicology on Queer Punk, Jodie Taylor