20 - Deranged
21 - Hundra
(CONTINUA...)
O profundo isolamento, solidão
e tendências psicopatas podem ser o cocktail perfeito para a criação de um indivíduo
que se devota a práticas desviantes e sórdidas. Foi o caso de Ed Gein, um dos
psicopatas mais “populares” da década de 50 nos EUA. A sua história e crimes
inspiraram Richard Bloch para escrever Psycho, adaptado à tela por Alfred
Hitchcock que deu vida a Norman Bates, assassino psicótico com uma ligação
pouco saudável à sua mãe e também proprietário do Bates Motel. Além do clássico
Psycho, Ed Gein também serviu de influência para The Texas chainsaw massacre e
Silence of the Lambs. Este filme de 1974, realizado por Jeff Gillen e Alam
Ormsby é um dos exercícios cinematográficos mais próximos de biopic de Ed Gein.
Neste filme, a personagem principal em vez de se chamar Ed Gein chama-se Ezra
Cobb, e é-nos apresentado como um homem aparentemente inofensivo de meia-idade, que vive numa quinta e cuja missão principal é cuidar da mãe enferma. Após a
morte da mãe, não consegue suportar a sua ausência e decide manter o
cadáver da mãe na casa, ao mesmo tempo que procura vítimas novas para lhes
fazer companhia. A repressão sexual, a que foi sujeito pela mãe, que lhe dizia
que qualquer contacto com um ser humano do sexo oposto garantia uma quantidade
infindável de doenças, faz com que recaia numa dualidade sinistra de desejo
e repulsa em relação às mulheres. Ezra é brilhantemente interpretado por Richard
Blossom, um actor com uma filmografia reduzida e que, surpreendentemente, é nada
mais nada menos que o velhote Marly no filme Home Alone. Apesar do baixo
orçamento, o filme é uma representação bastante fiel das atrocidades cometidas
por Ezra e da sua espiral progressiva de demência.
21 - Hundra
O universo da misandria é
genialmente representado neste clássico da fantasia dos anos 80 realizado por
Matt Cimber. Seguimos a odisseia de Hundra, uma bela e heróica amazona que após
ter visto a sua tribo inteiramente dizimada por um grupo de homens
bárbaros, embarca na missão de matar todo e qualquer homem que lhe apareça à
frente, usando os seus talentos de tiro ao arco e espada. As cenas de luta são
excelentemente coreografadas e existe o acompanhamento musical épico da
banda-sonora composta por Ennio Morricone. É também digno de registo que
Laurene Landon, a actriz que interpreta Hundra, realizou a maior parte das acrobacias
e cenas de luta sem a necessidade de uma dupla. Apesar de Hundra declaradamente
odiar homens, sejam eles altos, baixos, bonitos, feios, gordos, magros, louros,
morenos, ruivos, albinos, etc, a sua perspectiva muda quando conhece um homem
gentil com quem decide procriar para perpetuar a sua raça de amazonas. É um
filme que não deve ser encarado de forma muito séria, mas pode fazer as delícias
de pessoas que gostam de amazonas,diálogos cómicos mas cuja intenção era serem sérios e uma mulher esbelta
com bons dotes de tiro ao arco e manejo de espada.
22 - Troll 2
Não é preciso ver o Troll 1
(porque até nem estão relacionados), para apreciar esta grande obra cinematográfica.
Este filme é popular por ser considerado um dos piores de sempre; no entanto, alcança
aquilo que só alguns filmes conseguem… serem altamente memoráveis e não haver
absolutamente nada feito no passado, presente e futuro a que possa ser
equiparado. A história segue uma família que se muda para a cidade de Niglob
(basicamente Goblin ao contrário), e que se vê envolvida numa conspiração de humanos
que na realidade são goblins que lhes oferecem bolos estranhos e coisas verdes
para eles comerem. O objectivo? Transformá-los em vegetais para que possam ser
comidos pelos goblins. Essa é a premissa porque a narrativa floresce em sub-plots
que envolvem um fantasma que dá conselhos à família, uma bruxa excêntrica que
protege os goblins e faz poções, uma dose incrível de comida grotesca e um
rapaz que morre asfixiado debaixo de uma avalanche de pipocas. Este filme
realizado por Claudio Fragasso é uma autêntica jóia de narrativa transgressiva de
interpretação over-the-top e que parece lida por teleponto. Recomendado a toda
a gente dos 0 aos 100 anos.
23 – Transylvania 6-5000
Nos anos 80 havia reportagens
sobre temas realmente interessantes, tais como pessoas abduzidas por
extraterrestres, relatos de aparições do fantasma do Elvis e provas da
existência do monstro Frankenstein. Este último é o tema e premissa deste filme
realizado por Rudy De Luca que segue as aventuras de uma dupla de repórteres
interpretada por Jeff Goldblum e Ed Begley Jr. (numa autêntica e genial
simbiose cómica), que viajam até à Transilvânia para investigar a possível
existência do Frankenstein. É um híbrido de terror e comédia, sendo que esta
última é bastante mais notória, especialmente pela participação de Michael
Richards (o Kramer da série Seinfeld), no papel de um empregado de hotel com um
sotaque esquisito e hilariante, numa performance feita exclusivamente de
improvisação. Nalgumas cenas, é divertido ver que Jeff Goldblum faz um esforço
enorme para não se desmanchar a rir enquanto Michael Richards improvisa. Ao longo
da sua odisseia, os repórteres deparam-se com personagens caricatas e inesquecíveis,
tais como a deusa vampira com tendências ninfomaníacas interpretada por Geena
Davis. O filme possui uma grande aura de criatividade e identidade, aproveitando
para brincar com os clichês mais populares do cinema de terror.
24 - Incubus
Hipnótico, misterioso e
intrigante podem ser alguns dos adjectivos que descrevem este filme realizado
por Leslie Stevens na década de 60. Este filme ganhou o seu estatuto de culto porque
além da belíssima cinematografia, as cópias do filme estiveram fora de circulação
durante trinta anos. O filme é extremamente atmosférico, filmado de forma
delicada que cria a sensação de que estamos a assistir a um sonho e curiosamente
a linguagem falada neste filme é o esperanto. A narrativa floresce numa história de amor
entre um ex-soldado (interpretado por William Shatner) e uma sedutora, bela,
mas perigosa mulher que tem crenças no oculto. Ocorre então uma luta entre o
bem e o mal sob o pano de fundo de um romance. A mulher sedutora é também oculta, personifica a “atracção pelo abismo” que tenta corromper a alma do seu
apaixonado. A narrativa, por vezes, torna-se um pouco confusa devido às linhas
de diálogo crípticas que parecem saídos de poemas, no entanto, é mais um
aspecto que torna este filme tão interessante.
25 – Mortuary Academy
Um miúdo berra: “Oh mãe, não
gosto do pai!”. A mãe não responde. O miúdo insiste: “Oh mãe, não gosto do pai!”.
A mãe não responde. O miúdo continua “Oh mãe, não gosto do pai!”, ao que a mãe
responde “Não faz mal, filho, come só as batatas”. Se esta anedota soar
agradável e/ou cómica (nem que seja um bocadinho), talvez seja altura de ver ou
rever este clássico de humor negro realizado por Michael Schroeder. A narrativa
é simples, mas recheada de trocadilhos, situações hilariantes, personagens
bizarras e a aplicação de romantismo no comportamento desviante da necrofilia. Seguimos
as aventuras e desventuras de dois irmãos que herdaram do seu tio uma academia mortuária,
mas para receberem o dinheiro, têm que estudar na academia e obter o diploma.
Claro que vão ser impedidos pelo director da academia que é um necrófilo convicto,
mas que age no oculto e que apenas um verdadeiro amor o faz admitir aquilo que
realmente é. É um filme que nunca se leva demasiado a sério, mas que oferece uma
boa dose de humor negro e que é tão encantador quanto constrangedor.
26 - Freddy got fingered
Se existe anarquia no humor,
este filme realizado, escrito e interpretado por Tom Green é um bom exemplo
disso mesmo. Os limites do bom gosto são constantemente ultrapassados através
de situações bizarras, constrangedoras, mas sempre hilariantes. Há a exploração
de temáticas tabu e negras que podem chocar alguns falsos moralistas e uma
narrativa completamente bizarra que segue as aventuras e desventuras de Gord
Brody (Tom Green), que apesar de já se encontrar nos trinta, continua a agir
como uma criança de 14 anos, hiperactiva e de imaginação contagiante. Gord é um
cartoonista que se encontra em dificuldades e é obrigado a mudar-se de volta
para casa dos pais que não aprovam o seu comportamento imaturo. O filme está
recheado de cenas clássicas que podem ser vistas e revistas no youtube, têm piada mesmo nunca se tendo visto o filme. O elemento choque na comédia nunca
foi tão bem representado em filme como nesta jóia de inestimável valor
cinematográfico.
27 – Strangest dreams: Invasion of the space preachers
Uma história comovente de amor
inter-espécie, invasão alienígena de um tele-evangelista macabro e lavagem
cerebral. São 100 minutos de pura diversão, suspense, romance e drama realizado
por Daniel Boyd e distribuído pela santa Troma. A história segue as férias mais
que merecidas de um duo de amigos que decidem fazer um retiro campestre e fugir
da monotonia cinzenta das suas vidas suburbanas. Esperam apenas descanso e pescar,
mas embarcam numa aventura alucinante com a chegada do sinistro tele-evangelista
Lash que tem um penteado estranho e quer escravizar a raça humana,
manipulando-lhes a mente. Os nossos dois heróis unem-se a uma bela e loura
extraterrestre que obviamente se apaixona por um deles e é recíproco, e é este
trio fantástico que consegue, basicamente, salvar a terriola onde se encontram
e como consequência, o mundo. Um filme que acalenta o coração.
28 – Equinox
A magia da sétima arte
transporta-nos para outras realidades, universos, vidas e, por vezes, para uma
floresta que contém monstros gigantes, um feiticeiro demoníaco e um portal para
o mundo dos espíritos. Este filme contém todos esses elementos e muitos mais.
Foi realizado por Jack Woods na década de 70, mas sempre se assumiu com um
filme à frente do seu tempo e visualizado hoje em dia, pode conter ainda essa característica.
Dizem algumas fontes que este filme serviu de inspiração para o clássico Evil
Dead. A história segue um grupo de adolescentes que vai para uma floresta à
procura do seu professor e que aproveita para fazer um piquenique. No entanto,
são confrontados com monstros e lutar pela sua sobrevivência. Os efeitos
especiais são criativos e há o uso de stop-motion. Um filme que depois de
visualizado pode alojar-se no nosso subconsciente. Foi também adoptado pela
Criterion e faz parte da sua colecção.
29 – The Kentucky fried movie
Esta pérola de elevado valor cómico
foi realizada por John Landis, escrita por Jim Abrahams e pelos irmãos Zucker,
responsáveis pelos brilhantes, Airplane, Top Secret e Naked Gun. Foi também o
primeiro filme do poderoso trio Abrahams/irmãos Zucker e a sua metragem de 1h23
minutos é uma sequência de paródias que abordam vários tabus em situações
politicamente incorrectas com o seu quê de constrangedor e cómico. Há também
espaço para brincar com certos filmes conhecidos da época em sketches bastante
hilariantes. Mas não são apenas filmes que são o alvo, séries de tv e anúncios
também não escapam à sátira. Grande parte do filme é dedicado a uma paródia ao
filme Enter the Dragon com Bruce Lee, intitulada “A Fistful of Yen”. Mesmo
que não se tenha vivido os anos 70, há a promessa garantida de gargalhadas.
Clássico.
30 - Hausu (House)
O género de terror está
saturado de filmes sobre casas assombradas, no entanto, casas endemoninhadas que
comem teenagers de formas criativas e completamente surreais, é um género
próprio deste filme japonês realizado por Nobuhiko Ôbayashi. A cinematografia é
impecável e tem um look cartoonesco com cores vivas, sequências que mais parecem
tiradas de uma alucinação de alguém que tomou LSD e interlúdios musicais
criativos e bizarros. Há também sequências de stop-motion, planos de câmara
bastante arrojados, efeitos de caleidoscópio e uma infinidade de técnicas “loucas”
que fazem deste filme único e num patamar onde permanece isolado. Tem que se
ver para crer, literalmente. É um filme que faz parte da colecção Criterion.
(CONTINUA...)
TEXTO: CLÁUDIA ZAFRE
IMAGENS: Cartazes dos filmes (Imdb)