31 – Begotten
TEXTO: CLÁUDIA ZAFRE
Ter pesadelos é sempre uma
experiência aterradora. Pode ou não desvendar algumas das nossas ânsias e medos
pessoais, mas sentimo-nos sempre como que envoltos numa névoa de confusão e
angústia ao acordar. Essa névoa pode durar horas, minutos ou apenas segundos,
mas é certamente poderosa. Além da sua intensidade é também bastante
particular, parecendo que é apenas gerada pelo nosso subconsciente. Mas e se
essa sensação nos for dada por uma obra de arte ou por uma peça cinematográfica?
É o que pode acontecer ao visualizarmos Begotten realizado por E. Elias Merhige.
O filme não tem uma narrativa linear, mas consiste numa sequência de imagens
filmadas a preto e branco com bastante grão e que em poucos minutos nos
transporta para um mundo onírico negro e sem esperança. Apesar de haver cenas
muito complicadas de assimilar visualmente, não conseguimos desviar os olhos
tal é o carácter hipnótico que o filme carrega. O filme tem uma identidade
livre, na medida, em que cada espectador é livre dele tirar o seu significado.
Existe uma perfeita subjectividade de interpretação. É um filme que literalmente
deixa a sua marca no espectador que o vê e que tão cedo não se esquecerá deste
filme enigmático e críptico.
32 – Spider baby
Este filme realizado por Jack
Hill mistura uma dose subtil de humor negro com terror e consegue fazer-nos
simpatizar com os três vilões da história. É um pouco complicado caracterizar a
família deste filme como disfuncional, sendo que vivem em harmonia perfeita no
seu gosto por assassinatos e aranhas. O verdadeiro desequilíbrio instala-se
quando são visitados pela sua tia, tio e um advogado algo manhoso. Os instintos
homicidas dos três irmãos surgem à superfície e começam os verdadeiros
problemas. É que estes irmãos, duas encantadoras meninas adolescentes e o seu
irmão que é mudo e gosta de se esconder em sítios esquisitos, sofrem de uma doença
degenerativa que além de os infantilizar, faz com que se tornem extremamente susceptíveis
a praticar homicídios. Não há uma explicação
muito detalhada sobre a razão pela qual uma das adolescentes pensa que é uma aranha,
mas é apenas mais uma das marcas atraentes deste intrigante filme de terror.
Destaque especial para as cenas finais e a infame cena do jantar em família.
33 – Prisioners of the lost universe
Os universos paralelos são
sempre uma boa base exploratória para narrativas, seja para efeitos hilariantes
como em Rick & Morty ou para utilizar o baixo-orçamento num filme divertido
e que não se leva demasiado a sério como este filme realizado por Terry Marcel.
A narrativa acompanha as aventuras de três pessoas que se teletransportam
acidentalmente para um outro universo. Este universo é um local hostil dominado
pelo tirano sanguinolento, Kleel (interpretado por John Saxton). Os efeitos
especiais são da velha-guarda, o que dá ainda mais charme a este pequeno filme
de ficção-científica e fantasia. Podemos encontrar gigantes dourados, homens
verdes, homens selvagens das cavernas e muito mais. É um filme paradisíaco para
verdadeiras escapistas.
34- Rock ‘n’ roll Highschool
Se és estudante num liceu onde a directora queima os discos de rock ‘n’roll, não te deixa cantar nem basicamente divertires-te, chama os Ramones! Este filme musical de comédia realizado por Allan Arkush encanta todos os fãs de Ramones e cativa todos aqueles que apenas são simpatizantes da banda. A narrativa passa-se num liceu que segue o regime ditatorial da directora Miss Togar (interpretada pela sempre excelente Mary Woronov) que acredita que o rock’n’roll apenas serve para gerar delinquentes. Entra Riff Rendell (PJ Soles), fã #1 dos Ramones, cujo sonho é compor músicas para a banda e conhecer Joey Ramone. O seu sonho fica perto de ser concretizado quando a banda entra em tour e passa pela sua cidade. Riff Rendell, munida pelo poder do rock e com a ajuda dos Ramones, vai conseguir fazer frente à directora do liceu e a um grupo de cidadãos ultrajados pelo poder “diabólico” do rock. É um filme divertido, recheado de momentos músicos e que tem ratos gigantes rockeiros que também são alunos do liceu. É caso para dizer Gabba-gabba, hey!
35- Mondo Hollywood
Este documentário realizado
por Robert Carl Cohen é uma viagem interessante ao sub-mundo da “terra dos sonhos”
- Hollywood- durante a década de 60. Somos apresentados a várias pessoas que vivem
em Hollywood e às suas excentricidades. Claro que o que era considerado
polémico na altura, é nada mais do que mundano nos nossos dias, no entanto, não
deixa de ser uma paisagem social intrigante e imprescindível para quem se interessa
pelos hábitos e estilos de vida menos convencionais da década de 60 nos USA.
Hollywood é descrita como um paraíso ou refúgio para quem quer sentir e viver
livremente, sem convenções ou dogmas moralistas. Há footage de surf, narrações
de surfistas que descrevem o estilo de vida de um surfista, cenas dos
bastidores do filme “Torn Curtain” de Alfred Hitchcock, entrevistas com músicos
e um milionário que vive numa garagem que tem uma casa numa montanha e um
macaco como animal de estimação. É um retrato fascinante de uma época onde os
valores foram desafiados e novos estilos de vida começaram a imergir.
36 – She
Neste filme acompanhamos uma série de odisseias por várias sociedades de
um pós-apocalipse. Basicamente, seguimos She, a heroína da história que com a
ajuda de dois irmãos e da sua fiel companheira, batalha múmias com motosserras,
comunistas com poderes mutantes dignos do professor Xavier dos X-men e nazis
cujo único interesse é o homicídio. Mas há muito mais do que isso, claro! A narrativa
é extremamente confusa e surreal. Sabemos que os dois companheiros de She, são
dois irmãos (um deles é interpretado por David Goss que também entrou no
clássico Hollywood Cop) que querem resgatar a irmã deles e aliam-se a She,
apesar de terem começado como seus inimigos. O ratio de estranheza é bastante
elevado e pode dizer-se que em cada 5 minutos, é dito ou acontece algo surreal.
Um filme que fica a meio caminho entre a comédia e a acção mas que pode agradar
a fãs de filmes com orçamentos modestos que ainda assim tentam e conseguem recriar
mundos bem diferentes do nosso.
37 – The flesh eaters
Este filme realizado por Jack Curtis e lançado em 1964 é reconhecido por
ser um dos primeiros filmes que apostou no gore para chocar, impressionar ou
deliciar os espectadores. A narrativa é bastante linear e segue um grupo de
três pessoas que se despenham numa ilha deserta. O piloto, um galã tipicamente
hollywoodesco, uma actriz com problemas de alcoolismo e a sua assistente. Além de
se terem despenhado numa ilha deserta, deparam-se com a presença de um
cientista de origem alemã que realiza experiências pouco ortodoxas na ilha. A
este invulgar quarteto, junta-se um híbrido de beatnick com hippie que declara
que a única arma é o amor. Mas será que o amor será suficiente para lidar com a
ameaça que rodeia a ilha? É que na água habitam micro-organismos que devoram a
pele dos humanos! O filme consegue criar suspense e tensão nos momentos certos
e as cenas gore tendo a época em que foi feito e o orçamento são muitíssimo bem
conseguidas. Um filme para rever e ver com a família numa noite de domingo
preguiçosa.
38 – Q: the winged serpent
Larry Cohen é um realizador
que sempre se muniu de ideias originais nos seus filmes e este filme lançado em
1982 não é excepção. A acção decorre em Nova Iórque (tal como o seu filme
anterior Gold told me to) e é um misto de género policial com terror
sobrenatural. Uma série de crimes grotescos pontuam o quotidiano da cidade e
cedo se descobre que o responsável é uma criatura gigante voadora que habita no
edifício Chrysler. Nota-se, como sempre nos filmes de Cohen, um excelente
aproveitamento do orçamento tanto nos efeitos especiais como no design da
criatura. Narrativamente, há espaço para uma boa construção de personagens e criação
de tensão a um ritmo por vezes lento, mas que serve a narrativa. Se se quiser
ver um filme como uma criatura que aterroriza uma cidade e se quer fugir um
pouco dos estereótipos, é um filme que não desilude.
39 – The thing with two heads
Preconceitos absurdos como
racismo sempre foram temas abordados na sétima arte. Neste filme realizado por
Lee Frost, durante a primeira metade do filme, essa questão do racismo é
abordada de forma delicada, claro que as coisas depois descambam um bocado e de
forma hilariante. A narrativa apresenta-nos a um homem extremamente rico e
racista que para prolongar a sua vida, envolve-se numa experiência para que a
sua cabeça seja transplantada para o corpo de um humano saudável. O que
acontece é que o único corpo disponível é a de um recluso afro-americano. Segue-se
uma sequência de eventos cómicos e surrealistas com a exploração da relação
entre o homem branco racista e o seu novo companheiro. É um filme que não se
leva demasiado a sério mas que garante uma tarde de diversão.
40 – Pterodactyl woman from Beverly Hills
Além do nome brilhante, este
filme realizado por Phillipe Mora, é uma mistura divertida de fantasia com
comédia. Assim como o nome indica é sobre uma dona de casa de Beverly Hills que
se transforma num pterodáctilo, fruto de uma maldição lançada por um indígena chamado
Salvador Dalí. A partir daí, as coisas como seriam de esperar, tornam-se cada
vez mais bizarras com uma performance fantástica de Beverly D’Angelo como a
mulher-pterodáctilo. Existe também um delicioso número musical, algo sobre
martinis azuis! Os diálogos são surpreendentemente perspicazes e é um filme que
claro que não se leva demasiado a sério mas garante a requerida dose de entretenimento
e diversão.
Conclusão:
Há bastantes mais filmes e um
universo fantástico por explorar no espectro dos filmes de série-B que
continuam a surpreender-nos com as suas narrativas de premissas inusitadas e totalmente
“loucas”. É um universo que me cativa e que exploro há vários anos. E que os
baixos orçamentos e poucos recursos nunca impeçam a sétima arte mas lhe dêem
ainda mais inspiração, engenho e recursos criativos que continuarão a inspirar
outros cineastas e cinéfilos.
TEXTO: CLÁUDIA ZAFRE