Palavras-chave: Field recordings, som, natureza
3 - Okkulte Stimmen: Mediale Musik - Recordings of Unseen Intelligences 1905-2007
Resumo:
Os sons gravados fora de estúdio ou ambientes controlados, podem tratar-se de experiências imersivas em paisagens naturais, industriais ou até relatar o quotidiano de um taxista em Nova Iórque, uma comunidade de esquimós ou o dia-a-dia de um cãozinho. Denominadas como field recordings, estas gravações podem servir de base para música electrónica de índole exploratória ou até como registos sonoros etnográficos. O som apresenta-se com a mesma densidade icónica como uma colagem de fotografias ou até experiências em vídeo. O som é riquíssimo na sua génese e dele podemos retirar e absorver as experiências de outros.
1- Chris Watson – Stepping into the Dark
Os sons gravados fora de estúdio ou ambientes controlados, podem tratar-se de experiências imersivas em paisagens naturais, industriais ou até relatar o quotidiano de um taxista em Nova Iórque, uma comunidade de esquimós ou o dia-a-dia de um cãozinho. Denominadas como field recordings, estas gravações podem servir de base para música electrónica de índole exploratória ou até como registos sonoros etnográficos. O som apresenta-se com a mesma densidade icónica como uma colagem de fotografias ou até experiências em vídeo. O som é riquíssimo na sua génese e dele podemos retirar e absorver as experiências de outros.
1- Chris Watson – Stepping into the Dark
A captação de sons naturais ou de animais é usualmente
usada para finalidades meditativas ou para fundos sonoros para o relaxamento.
No entanto, há nomes como Chris Watson que se especializaram na captação de
paisagens sonoras e que conseguem recriar com fidelidade e sem artifícios os
ambientes bucólicos em que colocam os seus microfones e gravadores. Este é o primeiro
disco de Chris Watson e centra-se principalmente em locais remotos em
Inglaterra, Alemanha, Escócia na Europa, e em outros continentes como Costa
Rica, Kenya e Venezuela. Estas paisagens sonoras com a inclusão de cantos e
barulhos de diversos pássaros criam no ouvinte uma sensação de imersão total
nos ambientes sonoros, fazendo com que muito possivelmente as recriem
visualmente nas suas mentes. É um trabalho fiel e fidedigno aos ambientes que
captura e que desafia as regras do tempo cronológico, sendo que quando o
ouvimos imaginamo-nos efectivamente nessas mesmas paisagens.
2 - Peter Cusack – Sounds from
dangerous Places
Peter Cusack é o que se pode definir como jornalista
sónico. Existe uma equivalência no universo do som à actividade popular do
foto-jornalismo, só que em vez de se usar a máquina fotográfica e as lentes,
usam-se microfones e gravadores. Peter Cusack visitou algumas das regiões desoladas
fruto de catástrofes naturais ou nucleares e capturou a essência dos seus sons.
Explorou sonoramente Chernobyl, Pripyat, assim como as operações de extracção
de petróleo no Azerbaijão. É um registo longo de gravações que sublinha as
consequências nefastas dos danos ambientais que o ser humano tem causado ao
longo dos tempos no planeta Terra. O registo sonoro vem também acompanhado com
fotografias e entrevistas a residentes, académicos e responsáveis oficiosos. Um
trabalho que não é para audição casual, mas que é um registo importante da
influência nociva que o Homem tem no ambiente.
3 - Okkulte Stimmen: Mediale Musik - Recordings of Unseen Intelligences 1905-2007
Esta
compilação de gravações é soturna, críptica e tem o seu quê de ameaçador
equiparável a discos de dark ambient. É uma box com três cd’s que se dividem
entre discursos de mediums em séances alegadamente a servir de veículo para espíritos
do além, vozes de crianças supostamente possuídas por entidades infernais,
momentos de xenoglossia e glossolalia, música paranormal e registos sonoros de
supostos barulhos em locais ou casas assombradas. São gravações que abarcam
várias décadas de fenómenos paranormais e de suposto contacto com o mundo invisível.
Interessante para amantes de parapsicologia ou estudiosos e/ou fãs do paranormal.
4 – Jim Nollman – Playing music with animals
Provavelmente um dos melhores
discos de colaboração entre humanos e outros animais, ou, talvez, mesmo, o único
que se propõe a fazer música inter-espécies. Lançado em 1982, composto por 15
temas nos quais Nollman improvisa com uma variedade de instrumentos e vocalizações
para harmonizar com as vozes e cânticos de vários animais, entre eles perus,
orcas e lobos. Por vezes, intrigante e por outras um pouco hilariante, Nollman
escreveu também alguns ensaios sobre os seus sentimentos e experiências ao
tocar com os seus amigos animais e também eles, em suma, músicos. Uma
curiosidade que vale a pena experienciar e que demonstra que pode haver
harmonia na música inter-espécie.
5 – Tucker Martine – Broken hearted
dragonflies
Tucker Martine aventurou-se
pela natureza em Laos, Burma e Tailândia para capturar os sons de vários
insectos. O resultado é um disco com cerca de 40 minutos que fundem entomologia
com electrónica. Os sons são provenientes de miríades de libélulas e cigarras. Há
sons com um pitch bastante alto que, supostamente, provêm das libélulas machos
que quando são incapazes de ser bem-sucedidos no cortejo emitem um som tão alto
que o seu organismo não resiste e acabam por falecer. Essa tragicidade é expressa
de forma exímia neste disco conceptual que nos deixa fascinados pelo mundo dos
insectos, se não o formos desde já. Há também alguns sons feitos por cigarras
que formam malhas drone, assim como variadas camadas de cantos de pássaros. É acima
de tudo uma homenagem a todos os que caíram derivado ao amor não recíproco.
6 – Tony Schwartz – A dog’s
life
Este documentário auditivo
fornece a adopção do cãozinho chamado Tina por parte de Tony Schwartz que
decidiu narrar o processo de adopção e o comportamento de Tina nos seus
primeiros dias. A narração feita por Ralph Bell é acompanhada por ladrares de
cães no começo. O começo do primeiro dia de Tony com Tina, a sua procura por
escolas de obediência para ajudar Tina com alguns problemas que tinha. “And so
Tina and Tony had to go to school”. É um documento interessante para sentir a
atmosfera que se vivia durante os anos 50 na cidade de Nova Iorque. Essencial
para fãs de documentários sónicos e amantes do mundo canino. Reporta honestamente
a relação entre humano e o seu melhor amigo.
7 - Olhon –
Sinkhole
Este disco resulta da colaboração
de Massimo Magrini com Zairo, dois músicos italianos que decidiram gravar os
sons provenientes de equipamento de gravação que se aventurou no Pozzo Del
Merro, a maior cave vertical subaquática do mundo! Encontra-se perto de Roma e
é absolutamente lindíssima. Assim como o disco que acabou por produzir. É um
dark ambient bastante interessante, especialmente se lermos a maneira como foi
produzido e os recursos que envolveu. Os ecos, barulhos análogos a drone,
pequenos estalidos e mais pequenos elementos constroem camadas em cima de
camadas de música intensamente exploratória, inusitadamente melódica e cativante.
Os sons foram gravados em variadas partes da cave e depois processados em
estúdio mas de forma bastante básica, deixando todo o primitivismo das
gravações imperar. Um trabalho que reflecte o mistério e fascínio que a
natureza exerce sobre nós.
8 – Various
artists – Symphonies of the planets 1: NASA Voyager recordings
Esta compilação
de emissões rádio da NASA divide-se em mais cinco cd’s. O material foi retirado
dos sons emitidos pela Voyager, ou seja as manifestações eletromagnéticas dos
planetas no nosso sistema solar. As interacções do plasma cómico, luas e
planetas criam melodias que sabemos ser um pouco extraterrestre, mas cativam
pelas suas melodias que por vezes parecem até animais terrestres. É fascinante
ouvir verdadeira space music. Campos magnéticos que criam melodias que a priori
nos podem parecer pouco familiares mas que aos poucos nos vão cativando. Tanto
este como os outros 4 cd’s ouvem-se na perfeição se os quisermos usar para
momentos de reflexão cósmica e/ou ler banda desenhada do Silver Surfer.
9 - Organum
– Vacant lights
Organum é o
projecto musical de David Jackman e Dinah Jane Rowe que juntos lançaram este intrigante
LP em meados da década de 80. Os dois músicos tocam composições delicadas e
fragmentadas imiscuídas nas tapeçarias sonoras de uma cidade. Os sons urbanos
como carros e autocarros que passam, vento, sons de varrimento e outra miríade de
barulhos urbanos que definem a banda-sonora de uma cidade. Esta junção é feita
com elegância, delicadeza e extrema mestria resultando em peças que até podem
ser usadas para alguns momentos mais meditativos e/ou quando sofremos algumas
mazelas por causa de extravagâncias emocionais.
10 - Various
Artists – Street of Lhasa
Quando viajamos,
aprendemos, absorvemos e experimentamos um sem número de elementos novos e para
nós exóticos que vão desde a gastronomia aos costumes. Há também a música, as
danças, as roupas ou cerimónias de fé. Neste disco, com um microfone percorreram-se
as ruas de Lhasa no Tibet para gravar as músicas de vários artistas de rua. A primeira
cativa-nos imediatamente por ser cantada por uma criança e a segunda é cantada
com o seu pai. Estas músicas foram gravadas por Zhang Jiang que percorreu as
ruas de Tibete para gravar estas maravilhosas músicas. A qualidade da produção
é também muito acima da média e é como se estivéssemos em mente e espirito com
as pessoas e artistas que vão cantando as músicas que conhecem e sempre fizeram
parte do seu universo. A sua ligação com a música é profundamente inspiracional.
11 - María
Sabina – Mushroom ceremony of the Mazatec Indians in Mexico
Esta captação
de um ritual no México é capaz de ser o mais fidedigno em existência, ou pelo
menos, o primeiro. Tendo sido gravado em 1956 no estado de Oaxaca, no México.
Ficaram registados os vários cânticos ao longo de uma cerimónia de cogumelos “mágicos”.
Cerimónia esta que ficou a cargo de María Sabina, uma curandeira e xamã que
utilizava os poderes psicadélicos dos cogumelos e que induzia alguns estados de
transe. Esta cerimónia foi gravada durante uma noite pelos técnicos V.P e R. Gordon
Wasson. Continua a ser uma curiosidade para colecionadores de registos ao vivo sem
artifícios e claro, psiconautas.
Conclusão:
A plasticidade e as inúmeras potencialidades dos registos sonoros fazem com que haja cada vez mais a exploração das duas capacidades, seja em forma de documentários sonoros que alertam para problemas sociais e/ou ecológicos, experiências místicas e espirituais ou simplesmente os sons humildes mas francamente ricos de insectos das florestas tropicais. O som é intenso tanto na sua presença omnipotente como na sua ausência.
TEXTO: CLÁUDIA ZAFRE
IMAGENS: Álbuns das bandas
Conclusão:
A plasticidade e as inúmeras potencialidades dos registos sonoros fazem com que haja cada vez mais a exploração das duas capacidades, seja em forma de documentários sonoros que alertam para problemas sociais e/ou ecológicos, experiências místicas e espirituais ou simplesmente os sons humildes mas francamente ricos de insectos das florestas tropicais. O som é intenso tanto na sua presença omnipotente como na sua ausência.
TEXTO: CLÁUDIA ZAFRE
IMAGENS: Álbuns das bandas