terça-feira, 14 de maio de 2019

BANDAS e ANIMAIS: cada banda no seu galho

Resumo
No universo musical há, também, uma arca de Noé enterrada no monte Ararat. Nessa arca encontram-se bandas que escolhem nomes de animais que personificam todo um imaginário que pretendem dar à luz. Diz a história, que Noé tentou salvar o maior número de animais transportando-os na arca, para sobreviverem ao dilúvio universal que dizimaria qualquer espécie. A verdade é que sem reino animal o mundo... kaput. 

Palavras-chave: animais, bandas, música

THE LOCUST


A banda de San Diego, cujo trabalho sonoro corta (qual espada de dois gumes) os tímpanos de qualquer um/a, é visceral, se quisermos encontrar a melhor palavra para a definir. Os temas destes gafanhotos são acelerados, os gritos são como se as sete pragas do Egipto surgissem todas ao mesmo tempo a partir do mesmo lugar. 

A banda formada em 1994, comandada inicialmente por Justin Pearson e Dylan Scharf, tentou, com alguma dificuldade, criar todo o imaginário caótico que tinha concebido, mas, para a máquina complexa Locust existir, seria necessário recrutar mais músicos para empoderar o grande gafanhoto. Assim Justin e Dylan convidam Dave Astor, Bobby Bray e Dave Warshaw para se juntarem à dupla; no entanto, a mudança na formação só acontece quando Joseph Karam e Gabe Serbian são incluídos. E eis que, a partir deste momento, todo um mundo novo surge no horizonte. 

Em 1996, os Locust lançam o split com Man is the Bastard, e pouco tempo depois com Jenny Piccolo. Em 1998, lançam o álbum homónimo com temas rápidos, movidos a todo o gás. As guitarras e bateria são como uma fábrica que produz a ritmo nonstop cápsulas de metal num cenário sci-fi. O death-grind, que caracteriza o primeiro álbum, está presente em todo o cataclismo ressonante que dura ao longo de 16 minutos. Na realidade, assim que o primeiro disco foi lançado, não foram necessários muitos dias para que a primeira edição esgotasse. Com 4 lançamentos de longa duração, marcados, essencialmente, pela mistura peculiar de rapidez com agressividade, complexidade com estranheza vanguardista, pode-se afirmar que Locust é uma das bandas que impactou e influenciou a cena punk de San Diego. Enquanto se encontrava no activo, a banda apresentava-se em palco vestida com fatos de insectos, dando a ilusão que uma nave com seres alienígenas tinha aterrado minutos antes. 

É possível que depois de um concerto de Locust vá tudo parar às urgências. É a descarga total de uma central eléctrica, principalmente se a viagem sónica terminar com o tema AOTKPTA (New Erections, 2007). Recomendável para ouvir na hora dilacerante do crepúsculo. O Apocalipse veio para ficar e ninguém deu por ele. 

Curiosidade: Quando cantam, os gafanhotos de antenas compridas produzem som através do toque de uma asa na outra. 

RATOS DE PORÃO

Ratos de Porão, Alchetron

A banda liderada por Jão (João Carlos Molina Esteves) é capaz de criar três rodas-punk (mosh-pit) ao mesmo tempo num só concerto. Não é uma suposição, tive o prazer de assistir a tal fenómeno no festival Sudoeste em 1998 (agora tão descaracterizado). O punk dos Ratos de Porão é capaz de juntar os inadaptados do subúrbio dentro da mesma "perua", para viajar por ruas esburacadas, enquanto se grita, em uníssono, refrães de punk rápido e esfomeado a pender muitas vezes para o hardcore, tão característicos em RdP. Com a saída de Betinho (Roberto Massetti) em 1983, Jão lidera a bateria e João Gordo passa a ser vocalista da banda. Não se pode falar de punk brasileiro sem fazer referência a estes ratos, que ao longo de quase 40 anos de carreira têm ensinado como se faz punk rápido sem se perder tempo. 

Apesar dos ratos serem animais dos quais muitas pessoas sentem repulsa, porque são também transmissores de doenças tais como: leptospirose, peste bubónica, tifo murinho, raiva, sarna e triquinose, possuem uma extraordinária habilidade para se localizar, aprender caminhos novos e criar atalhos em localidades já conhecidas. Além do mais, apresentam semelhanças com o homem e também apresentam emoções como remorso e stress. Os ratos não vomitam, e sem eles o descarte do lixo seria um processo ainda mais difícil. 

THEM CROOKED VULTURES

Them Crooked Vultures, Metal Injection

O projecto formado em 2009 por Josh Homme é quase uma extensão de Queens of the Stone Age. Esta banda não vem acrescentar nada de novo ao género desert rock; o baixo tem groove, a voz é também orientada pelas cadências à la QOTSA e as guitarras são marcadamente bluesy/desert rock. Basicamente é um projecto que junta nomes sonantes do rock para se divertirem em palco. O álbum homónimo, editado em 2009, ouve-se no calor da noite entre viagens feitas em estradas desérticas, com paragens em estações de serviço para se beber uma gasosa fresca. 

The Vulture and the little girl, Kevin Carter 

A imagem tão polémica The Vulture and the little girl, publicada em 1993, cujo escrutínio acabou por levar ao suicídio de Kevin Carter (pensava-se no início que era uma menina em vez de um menino), alertou o mundo para a tragédia conhecida por "triangle famine" que ocorreu no Sudão. Nesta imagem vê-se um abutre à espera que a criança faminta sucumba para lhe servir de alimento.

Os abutres não são, normalmente, animais que os humanos queiram ter em casa como animais de estimação. Comem carcaças de animais em decomposição e ajudam a limpar o ambiente, prevenindo a disseminação de doenças. Neste momento, é uma espécie em extinção porque caçadores ilegais envenenam as carcaças para matar os abutres, e a droga veterinária diclofenac foi responsável pela morte de 99% abutres na índia, Paquistão e Nepal. 

PORCUPINE TREE

Porcupine Tree, Metal Wani

Progressivo, psicadélico, ambiental, atmosférico, no que ao género musical diz respeito; fresca e vanguardista, assim que a banda britânica foi avaliada pelos especialistas. O projecto levado a cabo por Steven Wilson conta com duas mãos de álbuns, e é, sem dúvida, o projecto musical com mais projecção do produtor. Formada em 1987 em Hempstead, a maior característica desta banda é a de conseguir misturar vários géneros musicais sem cair no poço do mau gosto. Os ritmos hipnóticos, muitas vezes em contratempo, os sintetizadores espaciais, a voz doce e as guitarras, que têm tão de rock progressivo quanto de heavy-metal, coloca esta banda no lugar de destaque em oposição a tantas outras bandas de rock progressivo. PT combina um grande sentido musical com composições não convencionais, sem esquecer que o trabalho de produção é excepcional. Em 2010, a banda suspendeu a sua actividade para que Steven Wilson pudesse focar a tempo inteiro no seu projecto a solo. 

O disco Deadwing foi lançado em 2005 pela Lava Records / Warner Music e teve uma direcção menos rock que o anterior In Absentia. O propósito para Deadwing seria realizar um filme que abordasse a temática fantasmas numa lógica surreal. Enquanto Wilson fazia contactos com o seu amigo cineasta para vender a ideia, foi, paralelamente, escrevendo os temas que iriam constar na banda-sonora desse filme. Por essa razão, Deadwing apresenta uma ambiência mais cinematográfica comparativamente a todos os outros discos de PT.

Pensa-se que o porco-espinho solta espinhos quando se sente ameaçado, mas, na realidade, o que parecem ser espinhos são pêlos. Pêlos mais duros que podem chegar até oito centímetros. Em fase adulta, o porco-espinho, pode ter até 30 mil pêlos que, ao contrário do que muitos pensam, não servem para disparar contra os inimigos. De facto, estes animais quando agitam o corpo, batem as patas traseiras no chão e os pêlos soltam-se da pele com grande velocidade. Nalguns casos, os pêlos ganham tanta velocidade que até podem matar outros bichos. 

LOBSTER


Os oceanos são um mundo inteiro ainda por descobrir. Tantos animais com características e defesas diferentes coabitam nesse mesmo mundo multicolor. Apesar do interregno dos Lobster, o trabalho desta banda portuguesa de noise-rock físico ficará nas memórias dos aficcionados da música underground. Riffs frenéticos de guitarra (Guilherme Canhão) servem de trampolim para a desgraça ritmada movida pela bateria de Ricardo Martins. Com um álbum editado pela Bor Land, em 2007, Sexually Transmitted Electricity, os Lobster são um dos melhores exemplos da música portuguesa e da exploração criativa sem grandes tretas. Para muitos, as lagostas são um belo petisco, principalmente em dias soalheiros. Para outros, as lagostas são um animal curioso. Os órgãos deste animal localizam-se em lugares improváveis. O cérebro situa-se na garganta, o sistema nervoso no abdómen, os dentes no estômago e os rins na cabeça. As lagostas padecem também do mesmo problema dos vampiros, são funcionalmente imortais. Não mostram sinais mensuráveis de envelhecimento (sem perda de apetite, sem alterações no metabolismo, sem perda de desejo reprodutivo ou habilidade, sem declínio na força ou saúde) e apenas morrem devido a causas externas. 

Conclusão:
Existe uma lista de nomes de animais adoptados por bandas que podem não só servir de mascote ou bandeira, mas também de fio condutor para o imaginário estético de cada banda. Desde Turtles a Eagles, Scorpians a Beatles, Löbo a Hawkwind, são muitas as que escolhem nomes de animais. O interesse por certa banda, pode, eventualmente, estimular a curiosidade para outro tipo de conhecimento, como por exemplo, tentar perceber como determinado animal se comporta. 
Do mesmo modo, é importante saber que além do ser humano, existem outros animais que coabitam no mesmo planeta. Muitos animais encontram-se em vias de extinção e não encontram neste habitat o melhor lugar para viverem com qualidade de vida. Por causa da negligência e inércia constantes do ser humano, muitos animais estão já extintos e outros em vias de extinção. O futuro não se revela muito promissor, é por isso urgente agir. Parece que mais Noé's serão necessários.

Texto: Priscilla Fontoura
(não foi utilizado novo acordo ortográfico)