Por vezes, são aqueles que menos têm que mais partilham, já diz o provérbio Pobre com pouco faz muito. Tendo poucos privilégios e condições, conseguem, no entanto, pensar nos outros e oferecer-lhes o pouco que têm. A sua visão e sensibilidade apoiam-se numa consciência social forte, cuja base é o activismo.
Esta é a história de Marsha P.
Johnson, uma mulher transgénero americana que foi uma peça fundamental para a
criação do movimento LGBTQ e cujo activismo ajudou muitas pessoas que
lutavam pela sua identidade e direitos numa sociedade que lhos negava.
O documentário realizado por
David France explora a vida de Marsha e a sua morte misteriosa, na década de 90, classificada pela polícia como um suicídio. Essa explicação dada pela polícia
nunca convenceu a comunidade LGBTQ, nem os seus inúmeros amigos que durante anos
procuraram justiça em nome de Marsha. Seguimos a investigação de Victoria Cruz
que tenta descobrir a verdadeira razão e motivo por detrás da morte de Marsha que
acredita ter sido um homicídio premeditado.
Somos apresentados a figuras
do movimento, tais como, Sylvia Rivera, uma activista que junto com Marsha
fundou STAR, uma associação que se dedicava a alojar adolescentes gay que
viviam nas ruas em pobreza extrema e entregues à prostituição para
sobreviverem.
É a crença num mundo melhor e igualitário
de Sylvia Rivera que mais nos toca ao longo do documentário, especialmente, porque, depois de tudo o que fez, acabou por viver em extrema pobreza durante
alguns anos, sendo felizmente resgatada e ajudada a refazer a sua vida.
Marsha, cujo P. dizia que era
para “Pay no mind”, fez o seu caminho confiante da pessoa que era e do seu
valor, ajudando a comunidade e os seus membros sem esperar nada em troca. Pedia
unicamente à sociedade a igualdade de direitos e a possibilidade de viver sem
medo, não obstante sendo quem se é.
O documentário também aborda a
questão judicial. Uma justiça que de justiça parece ter muito pouco e que
continua a ser extremamente branda com os arguidos condenados por agredirem ou
assassinarem pessoas transgénero. Lida também com estatísticas assustadoras, que
revelam uma grande percentagem de agressões e homicídios a pessoas transgénero que
são pouco noticiados e cujos criminosos são sempre condenados a penas mais
leves do que deveriam ser.
Metade documentário de
true-crime e metade biográfico, David France traça a vida interessante e influenciadora
de Marsha P. Johnson, que alumiou e desbravou o caminho do movimento LGBTQ.
Documentário: The life and death of Marsha P. Johson