terça-feira, 28 de maio de 2019

Numa relação séria com a Netflix: The Life and Death of Marsha P. Johnson (2017)


Por vezes, são aqueles que menos têm que mais partilham, já diz o provérbio Pobre com pouco faz muito. Tendo poucos privilégios e condições, conseguem, no entanto, pensar nos outros e oferecer-lhes o pouco que têm. A sua visão e sensibilidade apoiam-se numa consciência social forte, cuja base é o activismo.

Esta é a história de Marsha P. Johnson, uma mulher transgénero americana que foi uma peça fundamental para a criação do movimento LGBTQ e cujo activismo ajudou muitas pessoas que lutavam pela sua identidade e direitos numa sociedade que lhos negava.


O documentário realizado por David France explora a vida de Marsha e a sua morte misteriosa, na década de 90, classificada pela polícia como um suicídio. Essa explicação dada pela polícia nunca convenceu a comunidade LGBTQ, nem os seus inúmeros amigos que durante anos procuraram justiça em nome de Marsha. Seguimos a investigação de Victoria Cruz que tenta descobrir a verdadeira razão e motivo por detrás da morte de Marsha que acredita ter sido um homicídio premeditado.

Somos apresentados a figuras do movimento, tais como, Sylvia Rivera, uma activista que junto com Marsha fundou STAR, uma associação que se dedicava a alojar adolescentes gay que viviam nas ruas em pobreza extrema e entregues à prostituição para sobreviverem.


É a crença num mundo melhor e igualitário de Sylvia Rivera que mais nos toca ao longo do documentário, especialmente, porque, depois de tudo o que fez, acabou por viver em extrema pobreza durante alguns anos, sendo felizmente resgatada e ajudada a refazer a sua vida.

Marsha, cujo P. dizia que era para “Pay no mind”, fez o seu caminho confiante da pessoa que era e do seu valor, ajudando a comunidade e os seus membros sem esperar nada em troca. Pedia unicamente à sociedade a igualdade de direitos e a possibilidade de viver sem medo, não obstante sendo quem se é.


O documentário também aborda a questão judicial. Uma justiça que de justiça parece ter muito pouco e que continua a ser extremamente branda com os arguidos condenados por agredirem ou assassinarem pessoas transgénero. Lida também com estatísticas assustadoras, que revelam uma grande percentagem de agressões e homicídios a pessoas transgénero que são pouco noticiados e cujos criminosos são sempre condenados a penas mais leves do que deveriam ser.

Metade documentário de true-crime e metade biográfico, David France traça a vida interessante e influenciadora de Marsha P. Johnson, que alumiou e desbravou o caminho do movimento LGBTQ.

Texto: Cláudia Zafre
Documentário: The life and death of Marsha P. Johson
Imagens: Frames do documentário