Género: pós-punk, math rock, noise rock, rock experimental
Álbum: Schlagenheim
Data de lançamento: 21 de Junho, 2019
Editora: Rough Trade – Popstock
https://bmblackmidi.com
Álbum: Schlagenheim
Data de lançamento: 21 de Junho, 2019
Editora: Rough Trade – Popstock
https://bmblackmidi.com
Quando um álbum sai fora da zona de conforto dos ouvidos mais bem comportadinhos fica um quanto difícil absorvê-lo. O choque do novo nunca foi tão excitante, disse a Times acerca de Schlagenheim, um álbum com temas que se dirigem para estados de espírito contraditórios.
A mais recente produção Black Midi assume características vintage que não descura a importância dos efeitos de pedais e sintetizadores para exaltar a ambiência noise, um pouco ao jeito Sonic Youth. Os Black Midi são formados por Geordie Greep (voz/guitarra), Matt Kwasniewski-Kelvin (voz/guitarra), Cameron Picton (voz/baixo), e Morgan Simpson (bateria). Este ano editam Schlagenheim, um álbum muito maduro para uma banda com elementos tão novos.
953 combina o lado menos atraente do funk metal com math-rock estranho e pós-punk. Speedway é repetitivo e segue de crescendo para decrescendo, uma estrutura envolvida em math-rock que remete para um cenário de uma cidade agitada pelos humanos que se movimentam orquestrados por uma coreografia ao ritmo drum'n'bass e em loop, com várias brincadeiras sonoras misturadas e improvisadas. Em Reggae regressa a voz à la Macy Gray com a força de um blues negro, gritada e falada por Geordie Greep. É confusa e estimulante ao mesmo tempo. Há proximidade a Remain in Light and Fear of Music dos Talking Heads, uma reminiscência da abordagem funk próxima à propulsão rítmica de uma selva "sintética".
Near DT, MI, é o clímax do álbum, sentem-se momentos de reflexão e de revolta partilhados num mesmo tema, o mais curto do álbum, um yin e um yang que se confrontam, mas que dependem um do outro para existirem. Há laivos Can, Sonic Youth, Pixies, sem se esperar, transita-se para um twist groovento que vai em direcção a uma progressão de derretimento mental que desaparece inesperadamente.
Em Western é-se transportado para a abordagem Oxbow, uma voz que não é totalmente cantada nem spoken word puro, são palavras debitadas em cima das guitarras que tanto gritam o dialecto dos demónios, quanto dos anjos. Muitas vezes, quando certos elementos de um grupo ou bandas tentam misturas vários géneros, o resultado poderá ser ridículo e cliché. Não é isso que acontece com esta banda que se conheceu na Brit School, a vontade de sair dos cânones é clara, transparente e acidental, o desfecho é muito bem conseguido. A experimentação BmBmBm tem groove, um ritmo viciante para quem o escuta, serão os Primus? Não! Mas é claro que o baixo bebe do mesmo cálice que Les Claypool. Ouve-se:
She moves with a purpose
And what a magnificent purpose
Moves with a purpose
Moves with a purpose
Oh, what a purpose
Oh, what a purpose
Oh, what a magnificent purpose
And what a magnificent purpose
Moves with a purpose
Moves with a purpose
Oh, what a purpose
Oh, what a purpose
Oh, what a magnificent purpose
Years Ago é cheio de texturas e experimentos que transmitem sensações de fúria e doçura, as camadas de guitarra e ritmos são desconcertantes. Em Ducter a intensidade rítmica está sempre presente, um álbum que termina com explosão variável e gemidos dementes. Talvez os ouvidos pouco acostumados à diferença sonora rejeitem uma nova audição, mas, certamente, os que se deixam aventurar pelo choque diferencial quererão reiniciar a jornada.
Existe acima de tudo um espírito anárquico, que pode também ser sentido com bandas como Pere Ubu e The Fall. Todavia, os Black Midi não prestam homenagem a estas bandas, marimbam-se para influências e obedecem à "revelação" que vão recebendo. Não há regras nem intencionalidade, têm sentido de humor, são provocativos e agressivos, ao mesmo tempo, mantêm um espírito livre e solto. Ouvindo-os ou não, os Black Midi continuarão a fazer o que melhor sabem, quadros cheios de personagens e fenómenos que acontecem na mesma tela.
Gravado nos estúdios Speedy Wunderground, ao lado de Dan Carey, Schlagenheim fará, por certo, as delícias de todos os fãs de Swans, Boredoms, METZ ou Girl Band. Os Black Midi actuam a 16 de Agosto no Festival Paredes de Coura e a 25 de Setembro na galeria Zdb, em Lisboa.
https://bmblackmidi.com/
Texto | Text: Priscilla Fontoura