Palavras-chave: álcool, drogas, ácido, música
Resumo:
O álcool e outras drogas foram muitas vezes a causa da ruína de certos músicos e causaram o desmembramento de muitas bandas. No entanto, há casos em que estas drogas são comemoradas ou idealizadas em músicas ou durante toda a vida do artista. É e sempre será uma faca de dois gumes.
1 - CHANSONS TOXIQUES
Este disco algo obscuro trata-se de uma compilação de vários artistas que cantam e
celebram as drogas da sua preferência, desde a cocaína ao absinto e aniz, as vozes
da chanson française discorrem sobre as fatalidades e os benefícios do seu “veneno”
de preferência. O disco conta com 40 canções gravadas em Paris entre 1907 e
1946 e acolhe as vozes de Édith Piaf, Georgel, Boris Vian, Yvette Guilbert e
muitos mais. O álcool está em destaque nesta compilação com odes a
cerveja, anis, whiskey, absinto, o cocktail gin fizz e muitas mais variantes de
bebidas espirituosas. As músicas são em regra geral bastante animadas e
reacendem no imaginário as visões de uma Paris boémia.
Cranford Nix foi um músico norte-americano que teve um final precoce em Março de 2002 devido ao consumo de álcool e heroína. Um final bastante triste para um cantautor que acarretava bastante promessa. Cranford iniciou-se na música com a sua banda de punk, The Malakas, constituída por Dan Holman (baixo) e Greg Crampton (bateria). Editaram dois discos, Sorry about my Drinkin’ em 1999 e Too Good to be True em 2000. A solo, Cranford Nix compôs várias canções de cariz introspectivo que giravam em torno do consumo de álcool e drogas, tais como Cigarettes and Heroin, Mexico, Whiskey, entre muitas outras. Algumas das suas músicas estão disponíveis para download no seu site oficial mantido por fãs.
3 - THE DOORS
Imprescindíveis e únicos no universo musical, os The Doors cujo próprio nome invoca o livro de Aldous Huxley, The Doors of Perception, sempre foram bastante místicos e adeptos do subtexto nas letras das suas músicas. Break on Through (to the other side) invoca a necessidade de quebrar as barreiras da percepção para ver a realidade tal como ela é, e para tal é necessária alguma ajuda, uns auxiliares alucinogénos que nos permitam passar para o outro lado. O lado verdadeiro da percepção. O seu legado continua a ser indispensável no mundo da música.
4 - THE BEACH BOYS
Autores de discos fabulosos como Pet Sounds, Sunflower e Surf’s Up, os Beach Boys simbolizam uma década promissora de amor e positivismo. A era do amor (que muitos dizem que acabou depois do assassinato de Sharon Tate e amigos pela família Manson), foi ilustrada sonicamente por esta banda da Califórnia. Não é então de admirar que a popular e catchy Good Vibrations seja a descrição de uma viagem bem sucedida em ácidos. Uma verdadeira good trip.
5 - MAD SEASON
Um dos nomes mais importantes do movimento grunge de Seattle, Mad Season iniciaram-se em 1994 e tiveram uma curta duração, apenas um ano. No entanto, editaram Above em 1995 um disco importantíssimo para a época e que continua a ser relevante. Uma das suas músicas, Wake Up, descreve a batalha de Layne Staley contra a heroína e a sua necessidade de se libertar do vício. É um dos registos introspectivos que ilustra a devastação do uso de certas drogas.
6 - QUEENS OF THE STONE AGE
Um dos super-grupos mais populares da década e de forma merecida, QOTSA foram responsáveis por uma data de músicas que basta trautear para sabermos de quem se trata. Uma das suas músicas é um autêntico hino às substâncias que causam tanta dor e prazer, é o caso de Feel Good Hit of the Summer, composta realmente para ser um grande hit com riffs cativantes e viciantes, a letra cita algumas das drogas mais conhecidas, mencionando também as ditas drogas legais, os fármacos que hoje em dia são a causa de muitas adições.
7 - SYD BARRETT
Syd Barrett é um dos nomes incontornáveis da música. Aliado aos Pink Floyd foi responsável por grandes discos e a solo por grandes canções. The Madcap Laughs editado em 1970 continua a ser um dos discos imperdíveis da década e que se mantém fresco até hoje. Apesar do grande consumo de alucinogénos, Syd Barrett conseguiu criar algumas das canções mais delirantes e belas dos nossos tempos. Há várias controvérsias sobre o que causou o seu declínio, uns dizem que foi o uso exagerado de alucinogénos, outros teorizam que Syd Barrett tinha esquizofrenia e alguns sugerem que foi o resultado de alucinogénos mais uma propensão para a esquizofrenia. Syd Barrett acabou por falecer em casa com 60 anos de idade em Julho de 2006 vitima de cancro. No entanto, o seu legado continua vivo.
Autor de canções belíssimas e intemporais, Elliott Smith teve uma vida conturbada, assolado por demónios interiores, escolheu a música como meio de exorcizar alguns deles. Between the Bars é uma das suas canções mais conhecidas e também uma das melhores a abordar o problema do alcoolismo de forma verídica e profunda.
Antes da sua morte prematura por suicídio em Outubro de 2003, Elliott Smith deixou vários discos que continuam intemporais e universais. Apesar dos seus problemas emocionais e do abuso de drogas que acabaram por determinar o seu fim, o seu legado musical continua e continuará bem vivo.
Conclusão:
Muitas vidas de verdadeiros génios talentosos foram tolhidas antes do tempo devido ao consumo de drogas. Sejam demonizadas ou celebradas, as drogas continuarão a fazer parte do imaginário lírico musical. Veículos de criação ou destruição, a dúvida permanecerá e as opiniões dividir-se-ão para sempre.
Texto: Cláudia Zafre