segunda-feira, 21 de outubro de 2019

The Kompressor Experiment: 2001

Género: post-rock, post-metal, progressive
Álbum: 2001
Data de lançamento: 25 de Outubro, 2019
Editora: Shunu Records 
https://kompexp.bandcamp.com


Arthur C. Clarke e Stanley Kubrick ligaram as suas mentes criativas em 1964 e durante quatro anos escreveram o argumento para um filme que iria revolucionar não só o mundo da ficção-cientifica, mas da sétima arte. 2001: Odisseia no Espaço é descrito por muitos cinéfilos como uma experiência transcendental. 

Uma das premissas constantes do trabalho de Arthur C. Clarke é que qualquer civilização ou espécie com meios tecnológicos superiores ao da espécie humana poderia ser vista como mágica ou mesmo divina. Essa linha divisória que separa o misticismo e magia da tecnologia ainda por descobrir é um dos traços mais fascinantes da evolução humana. O eterno monólito negro, denso e majestoso, rodeado por símios que o veneram. 

2001: Odisseia no Espaço continua a ser uma experiência e a levantar inúmeras questões. Como afirmou Arthur C. Clarke, “Se perceberem o filme na sua totalidade, falhámos. A nossa intenção era criar bem mais perguntas do que as que respondíamos”.

Essa aura de mistério e de uma eterna curiosidade e busca humana por significados é transporta visualmente por Kubrick, que num ritmo pausado deixa que as cenas tenham a sua existência própria, criando espaço para a reflexão, introspecção e análise do espectador. 

Como filme influente que foi, é, e continuará a ser, firma-se como grande inspiração para a banda Suíça The Kompressor Experiment que lança o seu mais recente álbum 2001; aproveitando este ano de 2019, em que o filme faz 50 anos, para prestar tributo ao filme que os acompanhou e acompanha enquanto músicos, sendo uma das pedras basilares no seu percurso criativo. 

2001 é o segundo álbum deste quarteto Suíço que tenta acompanhar sonoramente as paisagens e o balé visual de Kubrick. Uma tarefa exigente que fez com que The Kompressor Experiment tivesse cuidado e respeito pela banda-sonora original, conseguindo criar a sua própria narrativa sonora. Camadas em cima de camadas, complexas e melódicas, The Kompressor Experiment viaja por entre o post-metal e o prog, criando cenários de futurismo melancólico e optimismo aguerrido. 

Existem ao longo do álbum, assim como no filme, passagens meditativas, contemplativas e de alguma melancolia. Podemos estar desolados ao pensar na complexidade da existência, mas nunca nos cansamos de procurar ou questionar. Esse equilíbrio entre a angústia existencial e o optimismo na busca pelo conhecimento, é uma força pendular e interior que nos anima. 

Para The Kompressor Experiment, o elemento visual é muito importante, sendo que os seus concertos são usualmente acompanhados de projecções para que os espectadores/ouvintes consigam ter uma experiência audiovisual. Esta preocupação com a estética visual reflecte-se na sua forma de pensar e criar música, havendo um elemento cinemático associado ao seu som. Os temas do álbum foram tocados em sessões onde cenas do filme 2001: Odisseia no Espaço foram projectadas. O filme de Kubrick teve direito, passado décadas, a uma banda-sonora fortemente apoiada no rock progressivo e post-metal. 

2001 foi financiado por fãs através de uma campanha Kickstarter, havendo edições em duplo vinil e cd. Antes dessa edição, a banda promoveu um curta-duração gratuito intitulado The Monolith EP que continha a versão incluída no álbum do tema Monolith I, uma versão ao vivo de Monolith II e um tema, MG1, que não chegou a ser registado no álbum. 

Monolith I é o tema que inicia a viagem sonora por entre os recantos mais crípticos e misteriosos do espaço. Colossal, tanto em duração (ultrapassando os 15 minutos), como em texturas dinâmicas, pesadas e melódicas que se distendem em solos e riffs carismáticos, Monolith I é o encontro com o monólito, o enigmático objecto imponente que nos deixa rendidos à sua magnitude. O elemento épico da composição é ainda mais demarcado devido aos arremessos de violino tocado por Enora Fondain e as guitarras de David Bayard e Fantin Reichler tornam-se umas das peças fundamentais na composição serpenteante e diversa que nos surpreende em cada segundo. 

Seguem-se momentos de alguma luminosidade com Moon Groove. Um tema que nos relembra de certa forma o rock progressivo dos anos 70, pela sua complexidade melódica e composição inesperada. 

Monolith II serve-se um pouco da repetição para criar um efeito hipnótico que nos pode fazer transcender, um pouco como a própria ambiência do filme que nos deixa desarmados pelo influxo de imagens belas e simbologia complexa. Há também espaço para sonoridades mais cósmicas. 

Space Wandering é o regresso ao orgânico com um conjunto de guitarras acústicas que cedo se juntam ao eléctrico e à bateria de Steve Frily. O tema desenvolve-se e progride, metamorfoseando-se e mostrando a inclinação e gosto da banda por sonoridades mais progressivas. 

O progressivo junta-se ao post-metal em EMP.AI, um tema com uma forte toada de baixo por Thomas Defago. As suas texturas intensas e épicas de alguma melancolia feroz faz com que se criem cenários mentais, e a qualidade cinemática do som da banda mostra as suas valias. 

Monolith III é um tema contemplativo e forte na sua narrativa sonora com a composição a valer-se das paisagens sonoras criadas por Hubert Papilloud. É talvez o mais luminoso dos monólitos. 

Draconic Period é um tema fortemente apoiado nas guitarras acústicas que se imiscuem nas eléctricas e proporcionam ambiências cósmicas, poderia assinalar o final de uma viagem, só que o disco está concebido de forma a que possa ser escutado em repetição, as últimas notas de Draconic Period estão em sincronia com os primeiros acordes de Monolith I, fazendo um loop. Um ciclo infindável. 

2001 demarca-se como um projecto visionário alimentado e sustentado por uma obra-prima da sétima arte. O álbum será distribuído na Europa pela Season of Mist.

                                                                - TRANSLATION - 

Genre: post-rock, post-metal, progressive
Record: 2001
Release: October 25, 2019
Label: Shunu Records 


Arthur C. Clarke and Stanley Kubrick connected their creative minds in 1964 and during four years they wrote the script for a film that would revolutionize the world of cinema. 2001: A Space odyssey is described by many cinephiles as a transcendental experience. 

One of the premises of Arthur C. Clarke’s work is that any civilization or species with technological means more advanced than those of the human species, could be seen as magical or even divine. That divisor line that separates mysticism and magic of the technologic that is yet to be found is one of the most distinct and fascinating aspects of human evolution. The eternal black monolith. Thick and majestic, surrounded by simians that worship it. 

2001: A Space Odissey remains an experience and arises many questions. As Arthur C. Clarke once said ““If you understand 2001 on the first viewing, we will have failed”. 

That aura of mystery and the incessant curiosity and human search for meanings is visually constructed by Kubrick in a slow pace, leaving the scenes of the film time to have their own existence and creating the space for reflection, introspection and analysis for the spectator. 

As an influent film, it was an inspiration for the swiss band The Kompressor Experiment that releases their new album, 2001, this year when we celebrate the 50th birthday of Kubrick’s film. The band makes a tribute to a film that has been on their lives as musicians and one of the foundations stones of their work as musicians. 

2001 is the second album by this swiss quartet that aims to be a sonic companion for the landscapes and visual ballet created by Kubrick. A demanding task that made The Kompressor Experiment to have profound care and respect for the original soundtrack but managing to create their own. Layers upon layers that are both complex and melodic, the band travels through post-metal and prog-rock creating scenarios of melancholic futurism and ferocious optimism at the same time. 

As in the movie, there are meditative and contemplative passages through the album. We may find ourselves feeling desolate by thinking about existence’s complexities, but we never get tired of searching and questioning. That balance between the existential anguish and the optimism in search for knowledge, is an interior and pendular force that animate us. 

For The Kompressor Experiment, the visual element is extremely important and in their concerts they usually project videos so that the spectators/listeners can have a full audio-visual experience. 

This concern with the visual aesthetics reflects on the band’s way of thinking and creating music, existing a cinematic element associated to their sound. The songs on the record were played live in some shows where scenes of the film, 2001: A space odyssey were projected. Kubrick’s film after decades finally had a soundtrack with post-metal and prog-rock leanings. 

2001 was funded by fans through a campaign on Kickstarter and the record was released in 2LP and CD. Before releasing the album, the band promoted a free EP titled The Monolith EP that contained the version of the album of Monolith I, a live version of Monolith II and a song, MG1 that didn’t end up on the album. 

        2001, Limited Edition 2LP

Monolith I is the theme that starts this sonic voyage through the more cryptic and mysterious places in space. Colossal, be it in duration (exceeding the 15 minutes mark) as in dynamic, heavy and melodic textures that spread themselves in charismatic solos and riffs, Monolith I is the encounter with the monolith, the enigmatic and imponent object that leaves us surrendered to its magnitude. The epic element on the composition is augmented by the violin played by Enora Fondain and the guitars of David Bayard and Fantin Reichler that become one of the fundamental instruments in the meandering and diverse composition that surprises us in each second. 

Moon Grove brings us some light moments. A theme that recalls to us the prog rock of the 70’s in its melodic complexities and unexpected composition. 

Monolith II uses a bit of repetition to create an hypnotic effect that can enable us to transcend, a little like the mood of the film that leaves us unarmed by the influx of beautiful imaginary and complex symbology. There is also some room for cosmic sounds. 

Space Wandering is the return to the organic with a set of acoustic guitars that soon join the electric and the drums played by Steve Frily. The song evolves and changes, giving way to the band’s tastes and leanings for more progressive sounds. 

Prog joins post-metal in the song EMP-AI, a theme with a strong bass line by Thomas Defago. Its intense and epic textures of some fierce melancholy through which we can create mental scenarios, and the cinematic quality of the band’s sound shows its cards. 

Draconic Period is a song that hangs firmly on acoustic guitars that fuse with the electric ones and create cosmic ambiances, it could mean the end of a journey, but the record is conceived in a way that it can be listened to in a loop, the last notes on Draconic Period are in synch with the first chords of Monolith I, creating a loop. An eternal cycle. 

2001 stands as a visionary project sustained by a cinema’s masterpiece. The album will be distributed in Europe by Season of Mist.



Texto: Cláudia Zafre 
Vídeo: The Kompressor Experiment "EMP.AI"