segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Numa relação séria com a Netflix: Workin' Moms (2017– )



Workin' Moms é o play necessário após aqueles dias extenuantes preenchidos pelas tarefas e responsabilidades. Uma série imbuída de humor, escrita pela (também protagonista) Catherine Reiman. De episódio para episódio, a criadora fala, com conhecimento de causa, sobre a luta diária que uma mãe recente tem de enfrentar para sobreviver a tanta confusão. Catherine é também a porta-voz de muitas mulheres que lidam diariamente com as vicissitudes da vida. No entanto, não é por isso que esta série é exclusiva  e indicada apenas para o público-alvo feminino, é muito provável que muitos homens (pais) encontrem traços em comum e tenham vivido episódios semelhantes.

Cartaz Workin' Moms, (IMDB)

A série canadiana é construída à volta de quatro personagens principais: Catherine Reitman, Dani Kind, Juno Rinaldi, Jessalyn Wanlim e inicia-se com o término da licença de maternidade destas mães que anseiam voltar ao trabalho. Estas mulheres tentam adaptar-se à nova fase gerindo-a de uma maneira "neurótica" e cheia de humor. 

Workin' Moms foca-se essencialmente nestas amigas e mães que partilham idiossincrasias ao longo de três temporadas. No episódio piloto Jenny (Jessalyn Wanlim) está absolutamente determinada a furar o seu mamilo, convicta da sua vontade, pede às suas amigas, por quem está acompanhada, para furarem um dos seus mamilos nos lavabos de um bar. Jenny não quer saber se se encontra no período de amamentação, naquele episódio o principal foco é ter um mamilo ornamentado com um piercing. Na verdade, esta mãe está a tentar a adaptar-se à maternidade e a tentar lutar rebeldemente contra uma fase que rejeita. O enredo auto-destrutivo é muito real, esta mãe procura manter a sua identidade, enquanto lida com a depressão pós-parto, com uma crise de identidade, com as permanentes mudanças do corpo e com os desafios que uma amamentação requer. Esta cena resume o espírito de Workin 'Moms, uma comédia que navega e expõe as crises de identidade, as carreiras e colapsos das mães que tentam lidar com a odisseia da vida pós-parto. No universo paradoxal destas mulheres esses momentos são, ao mesmo tempo, sombrios, dignos de compaixão e hilariantes, e nós, espectadores, sentimos empatia. A maneira com que essas mulheres exprimem todos as ansiedades, que fazem, inevitavelmente, parte da própria existência, cria proximidade com os espectadores que se revêem em situações análogas.





Esta série envolve um enredo de mulheres que exprimem a parte de nós sobre a qual não queremos falar, a nossa vaidade, o nosso egoísmo, o nosso ego. Reitman escreveu a série porque não se via representada em nenhuma, todas as mulheres pareciam perfeitas. Para Reitman ser mãe recente engloba vários estados de espírito desde o mais surreal, hilariante ao mais deprimente. 
A autora teceu narrativas e tramas complexas que outras séries ou filmes normalmente escondem, como uma visão realista da arte e do aborrecimento de bombear (e despejar) seios com leite, questões de intimidade após o nascimento e preferências sexuais das mulheres. A série também não retém os momentos enlouquecidos das mães, como quando as mulheres acabam a "viajar" sob o efeito de drogas psicadélicas. 
Reitman pretende diversificar a narrativa com novos personagens que trazem perspectivas diferentes, mantendo o polido e representando todas as esferas da vida, de uma forma muito real e descomplexada. A quarta temporada de Workin' Moms está marcada para Fevereiro do próximo ano; quanto a nós resta-nos esperar para rir e chorar com elas.








Texto: Priscilla Fontoura
Série: Workin' Moms
Frames: Workin' Moms, de Catherine Reitman