Quem na verdade gosta de ter amigos que se levam muito a sério e que criam uma certa tensão que corta uma interacção que deveria ser livre? Se o teu amigo não se ri contigo e de ti, então há que colocar a relação em perspectiva...
Cartaz The Kominsky Method, IMDB |
The Kominsky Method, série criada por Chuck Lorre, o também chamado "Rei da Comédia" (criador de várias sitcoms bem sucedidas uma após outra desde o início dos anos 90), foca-se num actor na terceira idade, que se divertia com a fama e que agora ganha a vida como professor de representação.
A interacção entre a dupla Sandy Kominsky (Michael Douglas) e Norman Newlander (Alan Arkin) é crua, verdadeira, real e conseguiu sobreviver ao passar do tempo. Sandy Kominsky e o seu melhor amigo Norman Newlander têm uma relação dinâmica que não descura o humor, enfrentam tanto o melhor e o pior do processo de envelhecimento. Filmada em Los Angeles apenas com uma câmara, do elenco fazem parte nomes como Jane Seymour, Nancy Travis, Sarah Baker, Paul Reiser e Denny DeVito.
Sandy Kominsky trabalhou com nomes sonantes e o seu melhor amigo Arkin, o recém-viúvo, é o seu agente - director de uma agência de audições. Chuck Lorre escreveu quase todos os episódios que discursam o lado real da vida sem cair em clichés e/ou facilitismos. Além da amizade e história profissional que partilham, o que une os dois homens são as lutas e os problemas que enfrentam, muitas vezes desagradáveis (entes queridos doentes, problemas de próstata, etc), que chegam com a idade. Num dos episódios, Kominsky, preocupado com o seu estado de saúde, consulta Denny DeVito (médico) para avaliar o estado da sua próstata, e DeVito, com toda a boa disposição, explica que há três estados possíveis para quem padece de cancro da próstata, o estado caracol, aquele que ninguém tem que se preocupar porque é muito lento, o estado tartaruga, o que precisa de alguns cuidados, mas que também não é preocupante, e o estado coelho, aquele que dilacera num abrir e fechar de olhos.
Da lista de trabalhos liderados por Lorre constam “The Big Bang Theory,” “Cybill,” “Dharma & Greg” e a recém-chegada “Bob Hearts Abishola", produções CBS. Mas "Kominsky", com a sua estética cinematográfica e restrições mais frouxas - sem audiência de estúdio, sem interrupções comerciais e sem censura - ofereceu a Lorre uma nova linguagem cada vez mais procurada por outras produções.
Enquanto há uns tempos os actores manifestavam descontentamento pela crescente rejeição da parte dos estúdios nas contratações, hoje existe um aparecimento de criadores e produtores interessados em conteúdos pensados para enredos com actores experientes que conhecem a dureza da vida adulta. No que diz respeito à diversidade na escolha de enredos e elenco, finalmente avistam-se tempos mais "democráticos" para as produções de séries.
No caso desta série, o seu sucesso deve-se à história de amizade que não sobrevive de subterfúgios artificiais para criar "bonecos", tal como seria de esperar, esta dinâmica de amizade é leal, verdadeira e unida nas agruras, porque uma verdadeira amizade nunca envelhece. Apesar de se tratar de uma ficção, a crueza presente nos diálogos leva o espectador a um sentido de pertença.
No caso desta série, o seu sucesso deve-se à história de amizade que não sobrevive de subterfúgios artificiais para criar "bonecos", tal como seria de esperar, esta dinâmica de amizade é leal, verdadeira e unida nas agruras, porque uma verdadeira amizade nunca envelhece. Apesar de se tratar de uma ficção, a crueza presente nos diálogos leva o espectador a um sentido de pertença.
Texto: Priscilla Fontoura
Série: The Kominsky Method, Chuck Lorre
Frames: The Kominsky Method