Imagem de Camila Sánchez |
Suco de Lúcuma aventura-se pelo psicadelismo e fusões de ambiente ora tropical, ora magnetizado e pela introspecção sofisticada da pop da década de 80. A banda formada por Thomáz Bonatto (guitarra e voz), Carlos Bechet (guitarra e voz), Vicente Pizzutiello (bateria) e Felipe Pizzutiello (baixo) prepara-se para o lançamento do seu disco de estreia, “Quase Rosa, Quase Azul”, enquanto isso, já disponibilizaram 3 singles que obtiveram bastante rotação.
O trio de singles é o prenúncio de um disco construído na diversidade sonora e nas experimentações em estúdio que realçam o carácter aventureiro da banda para quem procura a convergência e a multiculturalidade sonora.
O trio de singles é o prenúncio de um disco construído na diversidade sonora e nas experimentações em estúdio que realçam o carácter aventureiro da banda para quem procura a convergência e a multiculturalidade sonora.
"Eu e Bechet não tivemos uma pretensão específica de sonoridade quando começámos a produzir, mas é forte o saudosismo porque algumas bandas como Pink Floyd, Soft Machine, Can, The Doors realmente permearam as mais impressionantes experiências musicais."
- A lúcuma é um fruto bastante popular no Peru e é um dos seus frutos considerados oficiais. Qual a base para a escolha do nome da banda? O que é que esse fruto simboliza para vocês?
- Para o Bechet, o nome tem bastante a ver com a infância e a adolescência, a um período de formação de gostos musicais, principalmente. Ao vir para o Brasil e passar pela faculdade de música, na qual muitas convenções tradicionais são impostas, foi crescendo a necessidade de saudar esse primeiro contacto genuíno e muito exploratório com a música. “Jugo de Lúcuma” também é uma canção de Luis Alberto Spinetta, compositor argentino que influenciou muito o Bechet nesse período.
- Suco de Lúcuma é uma banda muito jovem, existindo desde finais de 2018. Antes de Suco de Lúcuma, estiveram envolvidos em outros projectos musicais?
- Na verdade começámos a compor as músicas da banda no fim de 2017. Antes disso tivemos outros projetos, e por cerca de 2 anos tivemos uma banda de tributo a soul music onde eu conheci Pizzu, e Bechet foi produtor de duas faixas promo. Os irmãos Pizzu também participam de vários projetos de música instrumental. Mas Suco de Lúcuma foi nossa primeira experiência de banda autoral com canções.
- A banda traz reminiscências muito vibrantes da música progressiva e psicadélica, apesar de ter uma abordagem muito moderna e fresca. O que é que inspirou essa fusão do moderno/presente com o passado?
- O que nos inspira são as nossas referências musicais. Eu e Bechet não tivemos uma pretensão específica de sonoridade quando começámos a produzir, mas é forte o saudosismo porque algumas bandas como Pink Floyd, Soft Machine, Can, The Doors, realmente permearam as mais impressionantes experiências musicais. Aparte do clássico, era inevitável unirmos elementos da música contemporânea que gostamos de ouvir, como a levada rítmica estilo Hip-Hop shuffle, o laidback da Neo Soul, e efeitos de edição/pós produção que exploramos no software.
"Além do subjectivo, abstracto, víamos essa dualidade que acabou se ampliando e reflectindo nas composições, criando um binário de canções inter-relacionadas. A capa é para nós um mapa do(s) disco(s), e a capa de cada single uma ampliação desse mapa."
- O vosso álbum de estreia, “Quase Rosa, Quase Azul” é esperado para o início de 2020. Enquanto isso, já lançaram 3 singles que antecipam esse trabalho. Consideram que existe uma linha condutora ou tema central que liga os 3 singles?
- Existe uma linha condutora de carácter sonoro, pela qual buscamos mostrar o universo estético do álbum, nossa formação, a instrumentação, a divisão de vozes…
- Sabemos que a arte para as capas dos vossos singles é influenciada pelo teste de Rorschach. Qual a mensagem ou conceito que pretendem transmitir/expressar através desse artwork?
- A capa do disco é uma representação gráfica do disco em si, da ideia abstracta da obra. Mas é muito significativo para a gente que ela veio entes de quase tudo, antes da banda iniciar os trabalhos no estúdio, arranjo, gravação, antes da maioria das músicas existirem, de fazer qualquer show. Criar essa arte, fotografar, editar e escolher a cor de fundo foi um processo muito intuitivo, e nessa sessão terminámos com duas opções para o fundo, uma rosa e uma azul. Além do subjectivo, abstracto, a gente via essa dualidade que acabou se ampliando e reflectindo nas composições, criando um binário de canções inter-relacionadas. A capa é para nós um mapa do(s) disco(s), e a capa de cada single é uma ampliação desse mapa.
"A letra de Nada no Ar é uma variação de um poema que o Bechet fez em automatismo. Ela foi escrita em espanhol, em fluxo de consciência, não era pensada para ser uma música, era mais como um poema em lamento. Nessa época a gente morava junto e eu fiquei muito afim de cantar aquilo em português. O Bechet já pirava em Caetano, Chico, Mutantes lá em Lima, então a gente traduziu e estruturou-a num formato de bossa-nova bem standard e ficava tocando, e assim ela viveu até 2018."
Imagem por Camila Sánchez |
- O vosso single mais recente, “Nada no Ar”, tem um carácter muito introspectivo liricamente e uma sonoridade que roça a tropicália. Como brotou a composição? As melodias surgiram primeiro que as letras ou foi um processo em simultâneo?
- Essa é a composição mais antiga de todas no disco, de uns 5, 6 anos atrás. A letra de Nada no Ar é uma variação de um poema que o Bechet fez em automatismo. Ela foi escrita em espanhol, em fluxo de consciência, não era pensada para ser uma música, era mais como um poema em lamento. Nessa época a gente morava junto e eu fiquei muito afim de cantar aquilo em português. O Bechet já pirava em Caetano, Chico, Mutantes lá em Lima, então a gente traduziu e estruturou-a num formato de bossa-nova bem standard e ficava tocando, e assim ela viveu até 2018. Quando já tínhamos algumas composições pro disco, resolvemos inserir Nada no Ar, então re-arranjamos para dentro do universo que vinha se formando, e aí deu no que deu.
- “Fios de Desejo”, um single também editado em 2019 e da qual foi gravada uma sessão ao vivo, tem uma atmosfera bastante fluída, mas um certo carácter exploratório. A nível de percussão, parecem quase beats de hip-hop e há também um baixo saltitante ao jeito de certas bandas new-wave dos anos 80. Liricamente, há espaço para cada palavra e um grande cuidado com a métrica de cada verso e a sua colocação na melodia. Nota-se um grande eclectismo no que respeita às influências musicais. Sentem afinidade com o universo do Hip-Hop e há espaço para essa sonoridade?
- Sim, com certeza! A gente não tem uma tradição de Hip-Hop, mas o groove sempre esteve presente nas coisas que a gente gosta mais, seja Soul, Jazz, Funk... Tudo isso permeia o Hip-Hop, e é muito marcante na nossa formação musical também. As músicas da banda no geral têm esse tom de exploração, a gente se sentiu muito num laboratório quando fizemos as músicas, criámos os grooves e os arranjos em ensaio. Queríamos realmente misturar tudo que a gente gostava mais das nossas influências, então resumindo um pouco, dá para dizer que a parte da cozinha é mais nutrida no groove, nos beats, na coisa de ser “tight”, de ter uma levada "laid back", ou do Hip-Hop shuffle como em Fios de Desejo.
- O que é que podem adiantar desde já sobre “Quase Rosa, Quase Azul?”
- É uma obra composta de dois discos, cada um com 8 faixas e 27 minutos de duração.
Texto & Entrevista: Cláudia Zafre
Banda: Suco de Lúcuma (Thom Bonatto)
Imagens: Camila Sánchez
Imagens: Camila Sánchez