sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Carne Doce: A promessa de um pop com sensibilidade ambiental

Imagem por Rogerio Watanabe 

Carne Doce é uma banda de Goiânia, no Brasil, que explora as várias vertentes das relações humanas, alinhando num indie rock com laivos de psicadelismo e uma componente pop bastante forte. O disco editado em 2018, Tônus, garantiu-lhes ainda mais popularidade, sendo considerado pela revista Rolling Stone o terceiro melhor disco brasileiro do ano de 2018. Realizaram também uma digressão pelos palcos portugueses para promover Tônus, passando por algumas cidades portuguesas como Lisboa, Porto, Aveiro, Coimbra e Torres Vedras.

2020 marca o início de uma nova etapa para Carne Doce com o lançamento do primeiro single e teledisco intitulado Temporal que prenuncia o lançamento do próximo disco previsto para este ano. 

- Carne Doce sempre se destacou pela lírica intimista no sentido de expressar e sentir as relações afectivas de uma forma poética, mas descomplexada e livre. Que linha temática podemos esperar no disco sucessor de Tônus? 
- Exactamente isso, mas de forma ainda mais simples e directa, e talvez mais pop. 

- O vosso primeiro single, Temporal, que antecipa o novo disco, centra-se no conceito de apocalipse ambiental, o que é que mais vos atraiu nesse conceito e o - que pretendem transmitir com ele? 
- Já havíamos tratado esse assunto na música "Sertão Urbano", no nosso primeiro disco. Eu sinto que sempre vimos essa questão ambiental de forma mais explícita por sermos de um estado de economia agropecuária, e pela nossa cidade ser tão jovem e ter crescido tão rapidamente. Estamos apenas reflectindo sobre uma questão quotidiana. 


- O documentário “Paulistas” realizado por Daniel Nolasco, possui um subtexto forte que se centra na desertificação do interior e de certa forma, êxodo rural que se agravou com a monocultura agrícola e a exploração de recursos hídricos. Para o vosso teledisco da música Temporal, utilizaram e editaram cenas desse documentário para emular um mundo que termina em ruínas. Como é que vocês sentem os ataques ao ambiente que acontecem nos nossos dias e que formas ou maneiras é que encontram para combater essa tendência? 
- Sentimos que somos como as pessoas daquela festa, de certa forma seguimos ignorando e sendo complacentes com os riscos ambientais. Não acho que o ser humano pense que está atacando alguma coisa, mas apenas usufruindo. Por aqui, fazemos a separação do lixo para reciclagem, reaproveitamos água para lavar coisas, e só. 

Imagem por Gabriel Mendes

- Voltando um pouco ao passado recente, como é que recordam a vossa passagem pelos palcos portugueses e que memórias é que mais vos marcaram? 
- Foi tudo maravilhoso, uma viagem muito alegre, com comida deliciosa e abundante, muita gente gentil, lugares lindos e carregados de história, tudo foi muito rico e emocionante para gente. Os shows de Lisboa, Porto e Aveiro foram os mais marcantes, lotaram, foi uma energia muito boa, de sucesso, felicidade e de perspectiva de voltar. 

- Algumas letras dos discos anteriores contêm um cerne poético muito marcado pelas emoções, as relações e o que delas pode advir. Existe algum/a escritor/a passado ou contemporâneo que possam ou queiram citar como inspirador/a ou que tenha afinidade com esse universo? 
- Ando lendo Dostoievski. Li "Uma Anedota Infame", "Memórias do Subsolo" e agora "Os Irmãos Karamázov", e ele está o tempo todo explorando personagens que agem contra a própria vantagem, contra o próprio bem, e que por falta de auto-estima se tornam ressentidos, invejosos, violentos e etc, eu adoro isso. 

- O que é que podem adiantar sobre o novo álbum e para quando estará previsto o seu lançamento? 
- Estamos muito empolgados com a qualidade das músicas novas, canções mais simples, directas e talvez mais pop. Será um grande álbum que lançaremos em Junho ou Julho deste ano.

Texto & entrevista: Cláudia Zafre
Entrevistada: Salma Jô (Carne Doce)