Género: punk, noise rock, punk rock
Álbum: Eye 18
Data de lançamento: 16 de Janeiro, 2020
Editoras: Lovers & Lollypops e Chili com Carne
Artwork: Rui Moura |
É no esconderijo, ou melhor, no refúgio que se preparam as melhores ideias. O volume no máximo (mesmo que seja impossível medi-lo) agita as paredes de pedra da cripta. Ouvem-se os gritos de desespero de Ruizinho, o conhecido frontman dos Zen, que detém um timbre inigualável. Os anos passam, mas a natureza não muda. A verdade é que é frustrante abandonar, seja que por motivo, o acto de criação, seja bebendo do lado mais claro ou obscuro que se possa ter. O nome Krypto poderia estar associado ao cão de Super-Homem, mas talvez, neste caso, a etimologia de cripta refira-se a um lugar escondido. Será mesmo Krypto o cão que salva a humanidade dos malfeitores, ou será o lugar escondido dentro de nós que se tem medo de revelar?
O tema Spitwazer conduz-nos a toda a velocidade para uma estrada sem fim e não apela a qualquer consciência. É o lado animal que toma conta de cada um que lá está. A frequência de um baixo distorcido converte-se em erupção vulcânica. Dali saltam gritos com palavras não elaboradas. É visceral, sintomático, e não assombra ninguém. Limpa a raiva que corrói e ficou presa durante muito tempo, chegou por isso a hora de correr e suar para sentir o coração na boca prestes a explodir. Agora, lavados em suor, não se interrompe o que era suposto terminar. É uma montanha-russa prestes a rebentar, só não se sabe quando. O coração sente-se no estômago, o estômago sente-se na boca, e o cérebro estoura para todos os cantos possíveis. É uma viagem a toda a velocidade em oito temas. Estas hormonas, que se encontram em completa combustão celular, não querem parar. O ritmo avança e não se quer esta viagem terminada. O groove afecta qual crente pentecostal alterado por toda a espécie de revelação que lhe assalta e cujo corpo se encontra numa performance primitiva e tribal com os olhos extasiados.
Imagina-se um concerto de Krypto como uma entrada numa pista de aceleração, onde não se sabe quando se vai perder o controlo da velocidade. Os mais sensatos que fiquem sentados na bancada, porque garante-se uma demanda inconsciente da qual depois de arrancada é impossível regressar. Este tipo de som é ressonante e todas as frequências afectam a corrente sanguínea. Eye 18 é o álbum de estreia do trio de destruição que junta Gon (Zen, Plus Ultra) a Chaka e Martelo (Greengo). Co-editado com a Lovers & Lollypops e Chili com Carne, o disco editado fisicamente, no dia 16 de Janeiro, faz-se acompanhar de uma BD da autoria de Rui Moura.
Levanta-se a seguinte questão, onde se encontra tanta atitude, quando se pensava ter sido toda gasta durante os belos e memoráveis anos noventa, em que Ruizinho já era uma fera em cima de palcos? A energia que o caracteriza não se perdeu e está cada vez mais acentuada. De facto há resistência, força e persistência. Acima de tudo, não há medo em ser touro enraivecido. A cadência do primeiro tema, Crow Oath, é imersiva, com Krypto é-se transportado não só para o submundo de Zen e Plus Ultra, mas para bandas como Pigs Pigs Pigs e Gnod. Não há desvios aqui, há uma estrada que leva a quem os ouve à cripta de cada um. E quanto à música nacional são necessárias bandas como Krypto para se fazer a catarse. Sugestão? Que se ouça Eye 18.
Banda: Krypto
Artwork: Rui Moura