Há muitos anos, costumava jogar um jogo online chamado Nation States , onde conseguíamos criar a nossa própria nação, estabelecer reg...

Numa relação séria com a Netflix: The Society (2019- )



Há muitos anos, costumava jogar um jogo online chamado Nation States, onde conseguíamos criar a nossa própria nação, estabelecer regras sociais, políticas, económicas e militares, de acordo, com as nossas escolhas, o jogo estabelecia a nossa orientação política. Foi um pequeno exercício para verificar onde o poder, por mais ínfimo que seja, nos caracteriza não só enquanto líder, mas enquanto ser humano. É-nos dito, vezes sem conta, que o poder nas mãos erradas pode ser uma força imensamente destrutiva, e que nas mãos certas pode ser a salvação. No entanto, nem tudo é preto e branco, existem nuances e espaço para reflectir e tirar as nossas próprias conclusões.


Esta subjectividade é deixada totalmente livre e oferecida ao espectador quando assiste à série The Society criada por Christopher Keyser que nos coloca na cidade de West Ham, uma cidade aparentemente pacata até ao dia em que todos os adultos da cidade desaparecem de forma misteriosa, deixando os adolescentes totalmente sozinhos e livres para criar as suas próprias regras e estabelecer uma nova sociedade.


Esta premissa pode fazer-nos lembrar o clássico de William Goldman, Lord of the Flies ou The Chocolate War de Roger Cormier, mas The Society explora esta realidade de caos iminente em busca de uma ordem, de uma forma peculiar, explorando as dinâmicas relacionais entre personagens, aprofundando-as de forma a criar personagens que não são totalmente boas ou más, mas cheias de alguns contrassensos, dúvidas e fraquezas.


Durante os episódios, aprendemos a conhecer as personagens a fundo e a sentir empatia com todas elas, mesmo as que agem de forma desviante por ser essa a sua natureza. São criadas várias facções políticas, lideradas por pessoas diametralmente opostas nas suas convicções. O idealismo filantrópico da comunidade acima dos interesses individuais, o exercício quase caótico da propriedade privada e a oposição somente por ser oposição sem uma agenda política concreta.

Apesar de se associar a série apenas como mais um drama de adolescentes, The Society vai bem mais além desse estereótipo, conquistando-nos por levantar questões pertinentes acerca de como e em que moldes é que uma sociedade deve funcionar por forma a garantir a segurança e, acima de tudo, a sobrevivência dos seus cidadãos. 

Uma série que pode surpreender e que nos cativa imediatamente após o primeiro episódio. A segunda temporada está prevista para este ano de 2020. 

Texto: Cláudia Zafre
Série: The Society
Frames: The Society (IMDB)