terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Os lados femininos da Grécia e Roma antigas (2ª Parte)

ROMA

11 - Sangue Azul e Epigramas



Nascida numa família nobre romana, Julia Balbilla era uma mulher intelectualmente dotada para a sua época. Através da obra que nos deixou, que consiste em quatro epigramas, percebemos que era uma mulher de gostos sofisticados e que tinha acesso a certos luxos. Apesar disso, era também alguém com um conhecimento poético requintado, sendo que as suas palavras nutriam uma especial inclinação para a poesia de Safo

Balbilla era uma poeta da corte e amiga de Hadrian (imperador romano que esteve no poder durante cerca de 20 anos), sendo também amiga de Vibia Sabina, a esposa de Hadrian

Foi com eles que viajou até ao Egipto e foi nas pernas de duas estátuas gigantescas intituladas, Colossos de Mêmnon que inscreveu as suas palavras. O primeiro e segundo epigramas versa sobre Memnon, o mítico rei da Etiópia, morto por Aquiles na batalha de Tróia. O terceiro epigrama intitulado Demo, é uma veneração às Musas e o quarto epigrama é um tributo aos seus antepassados de “sangue azul”. 

Restam poucos dados biográficos sobre Balbilla, mas os seus quatro epigramas sobreviveram até aos dias de hoje. 

12 – Ocupação: Poetisa


Crê-se que Sulpicia I viveu durante a época do imperador Augusto e que era sobrinha de Messala Corvinus, um importante patrono da literatura. Como tal, Sulpicia era uma mulher sofisticada para a altura e com uma grande inclinação para as letras. É tido como certo, por alguns estudiosos, que Sulpicia I foi a autora de seis poemas curtos que se tornaram imortais quando inclusos na obra de Albius Tibullus, um poeta romano que se especializava essencialmente em elegias. 

Os poemas supostamente escritos por Sulpicia têm como cerne o amor e são dedicados a Cerinthus, provavelmente um pseudónimo, como era prática comum na época. 

Persiste ainda a polémica sobre se os poemas foram, de facto, escritos por Sulpicia I com numerosos académicos a explanar os seus pontos de vista e opiniões. Não obstante, os poemas permanecem até aos dias de hoje. 

13 - Sátira 

A sátira, especialmente nos tempos da antiguidade, parecia um artifício apenas destinado e reservado a autores masculinos, no entanto, houve excepções. Eucheria foi uma autora romana, cujo nome sobrevive até aos dias de hoje graças a um poema de índole satírica que escreveu. Os versos do poema sugerem que a sua autora é uma mulher de boas famílias que é incessantemente cortejada por um homem de uma classe social inferior. Usando a sátira nos seus versos, Eucheria expressou o seu desconforto e/ou repúdio pelos avanços românticos de um homem pelo qual não nutria qualquer interesse romântico. Assim como tantas outras mulheres autoras da antiguidade, há escassos ou até inexistentes dados biográficos para ilustrar a sua biografia. Restam, no entanto, os seus versos. 

14 - Fé


Faltônia Betícia Proba nasceu no seio de uma família aristocrata e a sua educação privilegiada para a época, assim como a sua fé cristã, inspirou-a a escrever Cento vergilianus de laudibus Christi, utilizando versos do poeta Virgílio, reordenados e reconstruídos, por forma a criar um poema épico cujo cerne e foco primordial é a vida de Jesus Cristo

Há escassos dados biográficos, mas mantém-se a informação que apesar de Proba ter crescido numa família de crenças pagãs, converteu-se ao cristianismo por vontade e crença própria já na idade adulta. 

Cento vergilianus de laudibus Christi foi escrito com a intenção de que a Bíblia pudesse ser melhor entendida através de versos belos e simples. Esta obra foi utilizada durante a idade média com fins educativos. 

Conclusão: 
As sociedades da Grécia e Roma da antiguidade são fontes infinitas de conhecimento em várias áreas, social, económico, político, artístico e muitas outras. São também charneira no desenvolvimento das sociedades ocidentais contemporâneas. Apesar do seu funcionamento patriarcal, foram algumas as mulheres que através das palavras exprimiram os seus pontos de vista, emoções e pensamentos. Pouco se sabe da vida delas, mas as suas palavras permanecem.

Texto: Cláudia Zafre