Género: post-jazz, post-rock, avant-garde, jazz rock, prog rock, zeuhl  Álbum: Le Livre des Merveilles Data de Lançamento: 27 de Ma...

CHROMB! : Le Livre des Merveilles

Género: post-jazz, post-rock, avant-garde, jazz rock, prog rock, zeuhl 
Álbum: Le Livre des Merveilles
Data de Lançamento: 27 de Março, 2020
Editora: Dur et Doux 
Artwork por Benjamim Flao

Os mitos, relatos fantasiosos, lendas exuberantes e até milagres foram escritos durante a idade média para entreter algumas figuras da aristocracia. Um desses exemplos, foi o cânone intitulado Otia imperialia, escrito por Gervásio de Tillbury, um historiador, membro da corte e canonista. O terceiro livro de Otia Imperialia foi escrito especificamente para o Imperador Romano Otto IV. O livro ficou conhecido como O livro das Maravilhas e nele encontram-se relatos de criaturas fantásticas, tais como lobisomens, demónios e inúmeras ocorrências sobrenaturais num subtexto de cariz social, político e religioso.


Foi este livro que inspirou e deu nome ao quarto trabalho da banda de Lyon (França) Chromb!, que apresenta mais uma vez o seu som altamente carismático com influências fortes de jazz experimental, rock progressivo e zeuhl. O seguidor de álbuns delirantes - tais como o homónimo e de estreia Chromb! (2012), II (2014) e 1000 (2016)  -apresenta um som mais sólido e coeso, sem desvirtuar as raízes exuberantes e intensamente livres da banda que continua a explorar sem limitações as barreiras de géneros. 

Le Livre des Merveilles, também nome do primeiro tema, abre com um tímido elemento de percussão dilacerado por uma distorção que cedo abre para um coro de vocais cristalinos e suaves acompanhados por umas teclas reminiscentes de ambientes medievais. A música cedo espraia-se num contexto RIO (rock in opposition) com efeitos sonoros imprevisíveis criados a partir de objectos pela mão de Léo Dumont, que também se encarrega da bateria e restantes elementos de percussão. 

A peça que se segue, Le fleuve Brison, é preenchida por uma ambiência que nos remete para mundos de fantasia, muito graças aos sintetizadores de Camille Durieux e Lucas Hercberg que acompanham os vocais melódicos. O tema cedo se desdobra em camadas infinitas como numa peça progressiva, onde a bateria ocupa o plano central com as linhas distorcidas do baixo e os vocais progredindo para uma toada épica. A peça é uma autêntica viagem que nos remete para a fantasia e também para o experimentalismo da modernidade com arremessos fulgurosos de saxofone tocado por Antoine Mermet

Les chevaliers qui apparaissent é um dos temas mais longos do álbum, registando 12 minutos. Começa com um manto de sintetizadores acompanhado por notas despojadas e quase fantasmagóricas de saxofone. O som de objectos criam um crescendo que se evidencia ainda mais pela bateria frenética e repetitiva num clima de profundo desassossego. Cedo se juntam os outros instrumentos neste tema essencialmente instrumental que pode causar no ouvinte a sensação do casamento inusitado do passado místico, com a abstracção experimental e aventureira da modernidade. 

O tema que encerra este disco, altamente conceptual, intitula-se La souvenance d’Achille com sintetizadores que evocam uma era de outros tempos a que depois se junta elementos orgânicos cheios de distorção, que fazem a ponte entre o mistério de tempos idos e as inúmeras possibilidades de exploração do presente e futuro. 

Chromb! volta a reconstruir-se e a criar um disco que não segue qualquer fórmula e cujo plano charneira é de criação incessante levando a planos visuais ou a tempos idos que avivam o nosso imaginário.

- TRANSLATION - 

Genre:post-jazz, post-rock, avant-garde, jazz rock, prog rock, zeuhl 
Album: Le Livre des Merveilles
Release: 27th of March, 2020
Label: Dur et Doux 

Image by Judith Saurel 

Myths, fantasy stories, exuberant legends and even miracles were written during the middle ages to entertain some of the members of the aristocracy. One of those examples was the canon titled Otia Imperialia written by Gervais de Tillbury, an historian and canonist. The third book of Otia Imperalia was written especially for the roman emperor Otto IV. The book was known by The book of marvels (Le Livre des Merveilles) and in it there are stories of fantastic creatures such as werewolves, demons and other supernatural occurrences with a social, political and religious subtext. 

It was this book that inspired and gave its name to the fourth record by the band from Lyon (France), Chromb! that once more presents their highly charismatic sound with strong influences from experimental jazz, progressive rock and zeuhl. The follower of albuns like the debut Chromb! (2012), II (2014) and 1000 (2016) presents a sound that is more solid and cohesive without losing the exuberant and intensely free roots of the band that is still exploring without genre barriers limitations. 

Le Livre des Merveilles, the name of the first theme, opens up with a timid-like element of percussion dilacerated by a distortion that opens the portal to a choir of smooth and crystalline vocals accompanied by keyboards reminiscent of medieval ambiances. The music soon opens to a context of RIO (rock in opposition) with unpredictable sound elements created by objects by the hand of Léo Dumont that is also in charge of drums and other percussion. 

The following piece, Le Fleuve Brison, is filled with an ambiance that takes us back to worlds of fantasy, especially due to the keyboards by Camille Durieux and Lucas Hercberg that accompany the melodic vocals. The song soon blossoms into infinite layers as in a progressive rock piece, where the drums occupy the main stage with the distorded bass lines and the vocals raising to an epic tone. The song is an authentic voyage that takes us back to a fantasy world and also to the modern experimentalism with fierce throws by the saxophone played by Antoine Mermet. 

Les chevaliers qui apparaissent is one of the longest songs on the record clocking in 12 minutes. It starts with the loose and phantasmagorical notes of the saxophone. The sound of objects create a crescendo that becomes way more evident by the frenetic and repetitive drums that create a climate of profound disquiet. Other instruments soon join in and this solely instrumental song can create in the listener a sensation of the rare marriage between the mystical past and the adventurous abstraction of modernity. 

The last theme of this highly conceptual album, is called La souvenance d’Achille that has synths evoking an ancient era that is soon joined by organic elements filled with distortion that build a bridge between the mystery of ancient times and the numerous possibilities of explorations of the present and future. 

Chromb! reconstructs itself once again by creating an album that does not follow any formula and whose main trademark is the incessant creation that give rise to visual landscapes and ancients times that rekindle our imaginary.

Texto | Text: Cláudia Zafre
Band: Chromb!