domingo, 15 de março de 2020

Javier Subatin: O jazz ganha forma nas suas inúmeras variações

Género: jazz contemporâneo, improvisação
Álbum: Variaciones 
Data de Lançamento: 14 de Março, 2020
Editora: Self-Released - Apoio Fundação GDA 
javiersubatin.bandcamp.com/album/variaciones

Artwork por Raquel Nobre G.

Ao repararmos no mundo e nos seus ínfimos detalhes, sejam trazidos pela natureza ou até pela espécie humana, facilmente nos deslumbramos com certos objectos que na sua aparente simplicidade podem camuflar a sua verdadeira riqueza. Uma pedra pode atingir um nível de uma que seja preciosa, consoante o significado e a simbologia que lhe é imposta pelo escultor. Uma pedra reconstrói-se, transforma-se em algo mais. É polida e trabalhada até atingir uma forma esteticamente prazerosa. Tudo é mutável e passível de transformação em algo mais. As possibilidades são infinitas para o criador, e em parte para o músico.

Javier Subatin é um músico guitarrista e compositor que foi finalista em competições jazz, tais como a Euroradio Jazz Competition (2019), Komeda Jazz Festival Composers’ Competition (2018) e semi-finalista no Montreux Jazz Festival Guitar Competition (2015). Em 2018 recebeu o apoio da GDA para compor e produzir o seu segundo álbum, Variaciones que tem estreia mundial marcada para dia 14 de Março. 

Variaciones é o sucessor de Autotelic editado em 2018 com o apoio da Antena 2 e da Sinfonia Records. Autotelic revolve-se em improvisações jazz com uma clara consciência melódica e estrutural. Assim como em Variaciones, há espaço para linhas de diálogo de cada um dos instrumentos e como numa peça de teatro, fazem a sua vez no centro do palco, o foco incidindo sobre ele. As linhas carismáticas do piano são sempre aliadas a uma guitarra criativa tecnicamente e harmoniosa. Em termos de atmosfera, persiste um clima de melancolia e introspecção que coabita com um mais efusivo, exploratório e vibrante. É um óptimo portal de entrada para Variaciones

Variaciones é o encontro da técnica com a integridade e sofisticação melódica. Parte-se do simples, para a miríade de possibilidades que existem na criação musical com a fluidez do jazz alinhada à temperança estrutural da música clássica, da descontracção e ludicidade dos ritmos latinos e o cariz surpreendente da improvisação. É uma fusão que resulta e que transforma Variaciones num disco que surpreende a cada segundo e que apesar de delirante, nunca recai num caos exasperante ou austero. 

Somos imediatamente cativados nos primeiros segundos do tema que inicia o disco, Solo#3 com as notas ziguezagueantes de piano tocado por João Paulo Esteves da Silva, imediatamente seguidas pelos arremessos extrovertidos do saxofone de Pedro Moreira e cedo se juntam mais instrumentos, a bateria de Diogo Alexandre, contrabaixo de André Rosinha e a guitarra de Javier Subatin. Todos os instrumentos dialogando entre si, mas deixando um espaço entre eles para que cada um “respire” e faça a sua deixa, como num diálogo imersivo num filme que é cheio de nuances, detalhes e riqueza estética. 

Prelude inicia-se com apontamentos introspectivos de guitarra acompanhados por piano e mais tarde unidos a um saxofone que deita as suas deixas de forma enérgica mas de certa forma contida, deixando a malha do piano, guitarra e bateria actuar de forma expressiva e magnetizante. 

Variaciones#1 é um dos primeiros andamentos de 4, exactamente como nas peças clássicas compostas essencialmente por 4 andamentos. Os ritmos latinos insurgem-se com a liberdade criativa e impressionista do jazz, criando uma atmosfera lúdica mas complexa e extremamente técnica. Cada um dos instrumentos tem o seu momento de monologo e em conjunto, persistindo uma colectividade essencial que se manifesta ao longo dos restantes andamentos, Variaciones#2, #3 e #4

Assim como os andamentos de uma peça clássica, os temas de Variaciones caminham a um ritmo por vezes, agitado, outras mais pacifico num trilho de crescendo emotivo que culmina no último tema, Postlude que se espraia em cativantes momentos de guitarra que ora hipnotiza ora magnetiza o ouvinte num disco que surgiu de variações, momentos transmutáveis e nunca caindo em estagnação.

- TRANSLATION - 

Genre: contemporary jazz, improvisation 
Album: Variaciones 
Release Date: 14th of March, 2020
Editora: Self-Released - Fundação GDA support


By noticing the world with its infinite details, be they in nature or made by the human species, we can easily be dazed by certain objects that with its apparent simplicity can camouflage their inner richness. A mere stone can reach the level of a precious stone, depending on the meaning and the symbology that its bestowed upon her by the sculptor. A stone can be reconstructed, and it becomes something more. It can be polished and worked on until it becomes a shape that is pleasurable. Everything is mutable and capable of being transformed. The possibilities are endless for the creator and in part, for the musician. 

Javier Subatin is a guitarist and composer that was a finalist in jazz competitions such as Euroradio Jazz Competition (2019), Komeda jazz festival composers’ competition(2018) and semi-finalist at Montreux jazz festival guitar competition (2015). In 2018 he received support from the GDA Fundation to compose and produce his second album, Variaciones that has a worldwide release set for the 14th of March. 

Artwork By Raquel Nobre G.

Variaciones is the successor of Autotelic released in 2018 with the support of radio station Antena 2 and Sinfonia Records. Autotelic revolves around jazz improvisation with a clear melodic and structural consciousness. Just like in Variaciones, there is space for dialogue lines of each instrument and like in a theatre play, they take their turns in the center of the stage with the spotlight set on them. The charismatic lines of the piano are seldom aligned to a creative, technical and harmonious guitar. The atmosphere is sometimes melancholic and introspective and others more vibrant and exploratory. It’s an excellent doorway for Variaciones

Variaciones is the gathering of technique with melodic integrity and sophistication. It begins simple and then blossoms into the infinite possibilities that exist in musical creation with the fluidity of jazz aligned to the structural temperance of classical music, the laid back latin rhythms and the unpredictable and surprising factor of improvisation. It’s a fusion that works perfectly and makes Variaciones an album that surprises us at each second and despite being “delirious”, does not fall into an exasperating and austere chaos. 

We are immediately captivated in the first seconds of the theme that starts of the record, Solo#3 with the swirling piano notes played by João Paulo Esteves da Silva, followed by the extrovert flips of the saxophone by Pedro Moreira and then more instruments join the party, the drums played by Diogo Alexandre, double-bass by André Rosinha and the guitar by Javier Subatin. Each instrument dialoguing with each other but leaving a space between them, so that each one can breath and throw their line, like in an immersive dialogue in a movie that is filled with nuances, details and rich aesthetics. 

Prelude begins with an introspective guitar passage accompanied by piano and later joined by a saxophone that throws its line in an energetic but also contained sort of way, leaving the tapestry of the piano, guitar and drums act in an expressive and magnetizing way. 

Variaciones#1 is on of the first movements of 4, exactly like in classical pieces that are sometimes composed of 4 movements. The latin rhythms arise and mix with the creative and impressionistic freedom of jazz, creating an atmosphere that is playful byt also complex and extremely technical. Each of the instruments has its monologue and chorus moment, persisting an essential collectively that manifest itself all along the remaining movements, Variaciones#2, #3 and #4

Just like in the movements of a classical piece, the themes in Variaciones stream along a rhythm that is sometimes frantic, others more peaceful in a trail of emotional crescendo that culminates in the last theme, Postlude that distends in captivating moments of guitar that either hypnotizes or endears the listener to an album that arose from variations, transmutable moments and never felt stagnant.

Texto | Text: Cláudia Zafre
Tradução | Translation: Cláudia Zafre