© Nick Drake |
A vida é irónica. Feita de contradições e acidentes que não se prevêem. Na realidade actual prospera qualquer exposição nas redes sociais faminta por likes, reacções, detrás de falsa modéstia, ou desculpas esfarrapadas para enaltecer o ego. Esse modo de existir poderá ser desgastante pela constante poluição intoxicada pelo ruído que acontece mais aceleradamente do que qualquer digestão mental consegue absorver. De facto, são muitas as pessoas que querem forçosamente uma aprovação. Por conseguinte, existem repercussões que reflectem essa forma de viver, falta de profundidade intelectual e de compromisso que acabam por fazer nascer uma insatisfação existencial. Numa altura pré-internet, poetas, músicos e pintores galgaram uma vida em conflito constante com a auto-existência criativa e por várias razões não tiveram likes em vida.
Muitos conviveram com depressões, hipersensibilidades que os levaram a fugir das luzes da ribalta e problemas que não lhes permitiram alcançar determinados "lugares" que outras estratégias possibilitariam. Porém, não viveram obcecados com a fama, nem com uma perspectiva glamorosa. Tinham apenas a intenção de viver do trabalho das mãos, da alma e da mente. A arte para estes artistas que exemplificamos foi levada de um modo honesto.
Nick Drake
Embora não quisesse a fama pop, Nick Drake foi um músico introvertido que queria chegar às pessoas apenas com a sua música. Detentor de uma grande sensibilidade, infelizmente não viveu o suficiente para saber a repercussão que a sua música teve. Gravou três álbuns, mas nenhum vendeu mais do que 5000 cópias. No que respeita a concertos, Nick não se sentia muito confortável, talvez por ser um cantautor reservado e pouco dado à socialização - esse facto não ajudou a atingir sucesso comercial. Nick faleceu aos 26 anos depois de ter lutado contra uma depressão por vários anos. Em meados de 1990 a sua música atingiu finalmente o lugar que deveria, tornando-se uma referência para músicos como Robert Smith e Peter Buck; o tema Pink Moon foi incluído numa publicidade para a Volkswagen. Hoje é considerado um dos mais célebres cantautores folk.
Embora não quisesse a fama pop, Nick Drake foi um músico introvertido que queria chegar às pessoas apenas com a sua música. Detentor de uma grande sensibilidade, infelizmente não viveu o suficiente para saber a repercussão que a sua música teve. Gravou três álbuns, mas nenhum vendeu mais do que 5000 cópias. No que respeita a concertos, Nick não se sentia muito confortável, talvez por ser um cantautor reservado e pouco dado à socialização - esse facto não ajudou a atingir sucesso comercial. Nick faleceu aos 26 anos depois de ter lutado contra uma depressão por vários anos. Em meados de 1990 a sua música atingiu finalmente o lugar que deveria, tornando-se uma referência para músicos como Robert Smith e Peter Buck; o tema Pink Moon foi incluído numa publicidade para a Volkswagen. Hoje é considerado um dos mais célebres cantautores folk.
Embora Nick não tenha vivido o suficiente, existem pessoas que foram e são salvas pela sua música.
Jeff Buckley
Este homem de caracóis e olhos profundos continua a ser para muitos a voz que arrepia qualquer um. O filho que durante muitos anos teve problemas com Tim Buckley, por ter sido, segundo as suas palavras, um pai negligente que não o viu crescer. Na década de '90, Jeff não alcançara o sucesso que esperava.
Em 1994, o seu primeiro Grace teve pouca resposta e as vendas ficaram aquém do esperado, apesar das críticas positivas ao álbum. Em 1997, Jeff preparava-se para gravar o segundo álbum quando acidentalmente - devido a um mergulho à noite no rio Mississippi - acabou por falecer aos 30 anos. Anos após a sua morte, a sua música começou a ser apreciada por inúmeras pessoas e várias compilações foram lançadas de material não oficial. A sua versão de Hallelujah de Leonard Cohen tornou-se um clássico da música moderna e atingiu o máximo das tabelas no Reino Unido em 2008.
Robert Johnson
O mestre do blues detém a singularidade na história da música. Só lançou dois álbuns durante a sua vida, pouco conseguiu sustentar-se com o que ganhou e faleceu decorrente a um conflito gerado num bar. Nascido em Hazelhurst, no Mississippi, Johnson viajou o sul dos EUA, maioritariamente o Delta do Mississipi. Após o falecimento da sua mulher, que ocorreu quando tentava dar à luz, mudou para Robinsonville para seguir uma carreira dedicada à música influenciada nos músicos Son House e Willie Brown. Johnson, antes de partir de Martinsville, era um guitarrista medíocre e foi até ignorado pelas suas referências musicais que descreviam a sua técnica como medíocre. Depois de dois anos da sua partida de Martinsville, Johnson regressou a Robinsnville um guitarrista exímio. O mito foi criado e era espalhado o boato de que Johnson teria vendido a sua alma ao diabo numa encruzilhada no Mississipi para chegar ao nível mais complexo do virtuosismo. Mas a verdade é que Ike Zimmerman provavelmente ensinou a Robert Johnson tudo o que sabia. Zimmerman é acusado de ter conseguido a sua habilidade técnica "sobrenaturalmente", supostamente por tocar guitarra em cemitérios à noite. Quanto a Johnson ter vendido a sua alma a troco de adquirir virtuosismo, atribui-se ao facto de que tocar música secular poderia, à época, atribuir-se a "vender a sua alma ao diabo", por em tão pouco tempo executar tão bem a técnica. Johnson iniciou a sua digressão em 1932 e tinha "casos" com mulheres que ia conhecendo em concertos. Viajou para Chicago, Nova Iorque, Texas e até Canadá. Gravou os seus temas em 1936 num dos cantos do estúdio para fazer a guitarra soar mais alto. Só um dos seus temas foi popular, Terraplane Blues vendeu 5000 cópias. Faleceu em 1938 após, alegadamente, ter bebido whisky envenenado após ter seduzido uma mulher casada num dos bares que costumava tocar. Em 1961 foi feita uma compilação do seu trabalho, King of the Delta Blues Singers, tornou-se grandemente popular e inspirada no reavivamento blues que deu origem ao som característico de Chicago. Poderá até ser considerado um dos álbuns blues mais influentes já lançados. Músicos como Bob Dylan, Paul McCartney, Van Morrison, Eric Clapton, Black Sabbath, The Who foram inspirados pela música do rei do blues.
Robert Johnson
O mestre do blues detém a singularidade na história da música. Só lançou dois álbuns durante a sua vida, pouco conseguiu sustentar-se com o que ganhou e faleceu decorrente a um conflito gerado num bar. Nascido em Hazelhurst, no Mississippi, Johnson viajou o sul dos EUA, maioritariamente o Delta do Mississipi. Após o falecimento da sua mulher, que ocorreu quando tentava dar à luz, mudou para Robinsonville para seguir uma carreira dedicada à música influenciada nos músicos Son House e Willie Brown. Johnson, antes de partir de Martinsville, era um guitarrista medíocre e foi até ignorado pelas suas referências musicais que descreviam a sua técnica como medíocre. Depois de dois anos da sua partida de Martinsville, Johnson regressou a Robinsnville um guitarrista exímio. O mito foi criado e era espalhado o boato de que Johnson teria vendido a sua alma ao diabo numa encruzilhada no Mississipi para chegar ao nível mais complexo do virtuosismo. Mas a verdade é que Ike Zimmerman provavelmente ensinou a Robert Johnson tudo o que sabia. Zimmerman é acusado de ter conseguido a sua habilidade técnica "sobrenaturalmente", supostamente por tocar guitarra em cemitérios à noite. Quanto a Johnson ter vendido a sua alma a troco de adquirir virtuosismo, atribui-se ao facto de que tocar música secular poderia, à época, atribuir-se a "vender a sua alma ao diabo", por em tão pouco tempo executar tão bem a técnica. Johnson iniciou a sua digressão em 1932 e tinha "casos" com mulheres que ia conhecendo em concertos. Viajou para Chicago, Nova Iorque, Texas e até Canadá. Gravou os seus temas em 1936 num dos cantos do estúdio para fazer a guitarra soar mais alto. Só um dos seus temas foi popular, Terraplane Blues vendeu 5000 cópias. Faleceu em 1938 após, alegadamente, ter bebido whisky envenenado após ter seduzido uma mulher casada num dos bares que costumava tocar. Em 1961 foi feita uma compilação do seu trabalho, King of the Delta Blues Singers, tornou-se grandemente popular e inspirada no reavivamento blues que deu origem ao som característico de Chicago. Poderá até ser considerado um dos álbuns blues mais influentes já lançados. Músicos como Bob Dylan, Paul McCartney, Van Morrison, Eric Clapton, Black Sabbath, The Who foram inspirados pela música do rei do blues.
Otis Reding
Otis Reding já tinha alguma popularidade entre os cantores de soul antes do seu falecimento, mas jamais imaginaria o quanto a sua música iria ser uma referência para tantos. Três dias depois de ter gravado o seu tema mais famoso - (Sittin' on the) Dock of the Bay - Otis morreu tragicamente aos 26 anos num acidente de avião em Wisconsin em Dezembro de 1967. O tema tornou-se um hit, e ficou conhecido como um dos melhores cantores da história da música popular americana, influenciando muitos músicos desde Beatles, Aretha Franklin e Bee Gees.
Otis Reding já tinha alguma popularidade entre os cantores de soul antes do seu falecimento, mas jamais imaginaria o quanto a sua música iria ser uma referência para tantos. Três dias depois de ter gravado o seu tema mais famoso - (Sittin' on the) Dock of the Bay - Otis morreu tragicamente aos 26 anos num acidente de avião em Wisconsin em Dezembro de 1967. O tema tornou-se um hit, e ficou conhecido como um dos melhores cantores da história da música popular americana, influenciando muitos músicos desde Beatles, Aretha Franklin e Bee Gees.
Syd Barrett
Poderá ser considerado um dos outsiders que nunca se adaptou à indústria da música e ao mundo dos famosos. Embora hoje seja tido como uma das figuras da década de '60, sabe-se que saiu dos Pink Floyd quando a banda estaria prestes a alcançar o reconhecimento mundial; no entanto Barrett nunca conseguiu e escondeu-se (na casa da sua mãe) dos fãs e da imprensa. O tema Shine on You Crazy Diamond, do álbum de 1975 Wish you Were Here, é uma homenagem a Barrett cujo catalisador do declínio da sua carreira deveu-se ao consumo de drogas psicadélicas. O artista multifacetado e também fundador dos Pink Floyd é considerado um dos pioneiros do rock psicadélico, e os dois álbuns de Pink Floyd em que participou são tidos como os mais experimentais e vanguardistas. Entrou em reclusão que durou mais de 30 anos e a sua vida pós-música foi passada a pintar e dedicada à jardinagem.
Lhasa de Sela
Lhasa foi um diamante na lista infindável de músicos que passaram pela terra. A sua voz doce e grave arrepia os ouvidos e a pele dos que se deixam envolver pela magia das suas palavras e dos sons mais tímidos e refinados. Cresceu de modo nómada a viajar entre os EUA e o México. Filha de um professor "mais informal" e de uma fotógrafa, viajou lugares e mais lugares ao lado das suas três irmãs. Lhasa tem ascendência mexicana, americana-judia-libanesa. A sua obra musical mescla a tradição mexicana, klezmer e rock, cantada em três idiomas, espanhol, francês e inglês. Lançou três álbuns, sendo o The Living Road o mais conhecido. Lhasa veio duas vezes a Portugal e era muito estimada pelo público. Apesar de ter sido referida algumas vezes na imprensa e ter conquistado o coração do público, maioritariamente europeu, continua a ser nosso dever divulgar o seu trabalho tão sublime. Infelizmente morreu cedo demais, mas soube viver deixando-nos três álbuns distintos.
Eva Cassidy
A norte-americana Eva Cassidy tocou ao vivo durante muitos anos, mas no "reino virtual" era desconhecida. Faleceu em 1996, apenas com 33 anos. Dois anos após o seu falecimento, a música de Cassidy atraiu muitos ingleses quando as suas versões de Fields of Gold e Over the Rainbow foram tocadas na rádio. Pouco tardou para que o seu álbum Songbird alcançasse o número das tabelas no Reino Unido, e desde então vendeu mais de 10 milhões de discos no mundo inteiro.
Cranford Nix
Membro da banda punk rock de garagem The Malakas, o vocalista e guitarrista Cranford Nix ganhou reconhecimento com o tema Cigarettes and Heroin. Vítima da sua adição de heroína, Cranford deixou-nos cedo demais para uma vida com talento. O site dedicado ao trabalho de Cranford contém informações sobre o músico e é uma forma de manter o seu legado.
Conclusão:
Por mais que se queira viver e ajustar à realidade virtual, habitar e coexistir no mundo real é diferente. As pessoas não têm honestidade suficiente e escudam-se atrás de um ecrã para não enfrentarem a "cruel realidade" que exige mais de cada um. O ecrã é uma fronteira passível a outros comportamentos, muitos deles patológicos, e afecta a relação que é mediada a partir de dispositivos-ecrã de uma maneira compulsiva e irrealista. Une os que estão distantes e, por vezes, separa os que estão próximos. Este pequeno artigo apela à prática consciente, sincera e honesta no apoio a músicos que lutam de forma sincera pelo seu lugar. Hoje, despreza-se o que é autêntico e segue-se o que é falso. A autenticidade vale menos do que a falsidade, em muitos aspectos, principalmente quando aquilo que não for real trouxer mais conforto do que uma verdade indigesta - mesmo que se trate de mera aparência forjada e de uma encenação teatralizada em busca de likes e atenção. Esperamos que as coisas aconteçam de determinada forma e que todos ajam conforme as nossas perspectivas; na verdade ninguém quer frustração, nem dentro nem fora de si, embora a frustração seja também parte da caminhada fundamental para que o crescimento seja feito de modo saudável. Que os olhos estejam atentos e os ouvidos despertos, para que os elogios sinceros sejam prestados em vida porque a morte não tem hora marcada.
A afirmação de Bob Marley assenta que nem uma luva na realidade de hoje:
O problema é que as pessoas estão a ser odiadas quando são reais e estão a ser amadas quando são falsas.
Texto: Priscilla Fontoura