“Era uma vez” poderia ser a introdução de uma fábula se À Conversa com a Floresta partisse de um mito para desembocar numa moral. Neste contexto não se parte de uma ficção para interpretar uma realidade, começa-se de um acontecimento real para ir ao encontro de um imaginário criado a partir da improvisação sem desenlace. Não é mero acidente, toda a sua construção é ensaiada e pensada antes de finalizada.
O imaginário - realizado pelo autor experimental Rui Mota Pinto - parte de vários
materiais inusitados para fazer nascer uma floresta, num suporte que não é Land
Art, mas que procura nos limites da moldura o terreno natural que não se desfaz
da sua poética, apelando assim à caminhada indefinida para regressar às raízes. Nessa
caminhada não existe um propósito ou uma intenção, mas um deixar ir que não é contrafeito;
tal como Henry David Thoreau
percorreu milhas para não faltar a uma reunião com uma faia, uma bétula ou um
velho amigo pinheiro, Rui Mota Pinto
imagina uma cidade futura que toma as proporções de uma floresta habitada. À
Conversa com a Floresta poderá ser considerada uma peça de arte sem
funcionalidade ou a sua contraposição que, no fundo, sujeita-se à contemplação harmoniosa, só depende de quem a olha.
A peça eco-arte habita a parede de um espaço público,
num bar que é também um lugar lúdico no Penedro da Sé em Viseu. Aponta para a
importância da natureza e dela brota um sentir familiar a todos. Ao observar-se
com atenção encontra-se uma espécie de árvore da vida, um portal repleto de
aroma natural e de afecto presente na paz inerente ao seu habitat.
Rui Mota Pinto não se quebranta por falta de
ideias, descobre na reciclagem a resposta para o seu processo. Nos parafusos
vislumbra-se a aridez alentejana, a roda de bicicleta remete para a roda gigante
da cidade de Londres e as frigideiras relacionam-se à sua forma de vida vegetariana.
Os materiais utilizados são diversos: musgo, parafusos, pau rosa, cedro, pinho,
discos de rebarbadora de pedra, frigideiras, roda de bicicleta, conchas,
tesouras, uma formiga pintada que é a sua assinatura.
Dois planos opostos convergem, o picado extremo e o
frontal. Assim é contado o princípio de uma nova criação que poderia ser o
jardim do Éden, mas, aqui, trata-se de uma cidade futura.
Texto: Priscilla Fontoura - À Conversa com a Floresta
Texto: Priscilla Fontoura - À Conversa com a Floresta
Título: Sophia Petra
Autoria da peça: Rui Mota Pinto