segunda-feira, 15 de junho de 2020

Desanimado, um refrão cantado ao fio da navalha, é o novo single de Chinaskee que antecipa o álbum com lançamento previsto para Fevereiro de 2021.

Anda (quase) tudo desanimado. Esperar-se-ia um retorno à normalidade mais consciente, mas, na verdade, nada parece mudar para melhor. A continuar "neste" normal significa que piorou porque tendo em conta o cenário antecedente nada alterou.

Para já fica-se em alto e bom som com o segundo single do próximo disco de Chinaskee Desanimado, um refrão cantado ao fio da navalha, mas que gruda ao poder do instrumental. Não se sabe o que virá. A fluidez e a boa disposição instrumental são necessárias para se jogar fora, provisoriamente, todas as preocupações que vêm deste acontecimento sem precedentes. O que se pode esperar? O que se deve esperar? Deve-se esperar? Miguel Gomes é Chinaskee e inicia a sua viagem musical em 2016 a solo. Em 2019 cansou-se de estar sozinho e decidiu convidar os seus amigos para descobrir novos caminhos.

Desanimado será lançado no próximo dia 19 de Junho pela Revolve e estima-se que o disco seja lançado em Fevereiro de 2021, adiamento que se deve às razões óbvias.

Capa Desanimado, © Diana Matias

O nome da vossa banda provém do alter-ego de Charles Bukowski: Henry Chinaski? Se sim, qual a vossa relação com o trabalho do escritor?
Chinaskee – A descoberta do Bukowski foi um momento importante na minha vida. Já andava a pensar fazer um projecto a solo depois da minha banda de liceu e achei que se o fosse fazer que Chinaski era um bom nome. O modo de escrita sem floreados influenciou-me muito nos meus primeiros discos e acho que certa forma ainda me influencia nas canções mais recentes. Mas acho que é importante ir percebendo a minha própria escrita e o caminho que quero tomar com as minhas canções.

O lançamento do vosso disco sofreu um atraso por causa da covid-19, o disco já se encontra fechado ou ainda continuam em processo de gravação e finalização?
C - Não posso dizer nem que sim nem que não. Estou a escrever este disco desde 2018 e já deitei fora umas boas mãos cheias de canções. É verdade que a instalação da pandemia atrasou os arranjos e ensaios com a minha banda, mas também me deu tempo para repensar algumas canções. O disco ainda não está fechado porque estamos a trabalhar mais a fundo todas as canções a cada ensaio, já fizemos dezenas de arranjos para certas músicas que ainda não sentimos que estejam completas. Mas é isso que é tão divertido em trabalhar com estas pessoas (com a minha banda, Bernardo, Ricardo e Inês e com o Filipe Sambado e a Primeira Dama).

Chinaskee, © Diana Matias

Qual o conceito deste disco?
C – Este disco é um disco muito mais pessoal que os outros que fiz até agora. Vai passar pelas canções de amor como é costume, mas acho que são um pouco mais introspectivas. Mas penso que o conceito em si deverá ser percebido pelas pessoas quando o disco sair e deixar que cada um decida por si o que cada canção significa.

Estás acostumado a compor sozinho, continuas esse processo solitário ou abres-te à colectividade criativa?
C – A minha experiência a escrever com banda foi o Malmequeres de 2017 e o Metro e Meio de 2018 e teve os seus frutos, mas cada vez mais quero estar em casa a fazer a escrever e a fazer demos sozinho. Só depois de dizer o que quero dizer nessas demos é que as mostro ao Filipe, ao Manel e à minha banda para conseguir tirar o melhor delas.

Gravaste o primeiro disco em 2017 em casa, em 2020 somos obrigados a estarmos fechados. Voltaste à origem, como olhas para essa capicua, voltas a compor sozinho ou essa interacção é feita mesmo à distância? 
C – Na verdade ainda gravei um disco chamado Campo em 2016, mas em 2017 é que sai o trocadinhos ao pôr-do-mi, este sim gravado em casa. Sim voltei a compor sozinho, mas sempre foi essa a minha intenção. Por mais membros que tenha na minha banda, Chinaskee continua a ser um projecto a solo onde eu canto o que quero cantar. A minha interacção com a banda é quase sempre depois de ter as canções escritas, com raras excepções. A Desanimado é um bom exemplo disso, em que a escrevi e já a tocava a solo (há um video a tocar na Antena 3) mas só depois é que a levei para o ensaio onde a minha banda fez os arranjos.

Continuam a colaboração com o Filipe Sambado?
C – Sim, o Filipe tem vindo a ser um parceiro desde o Malmequeres e trabalhei com ele no seu disco Revezo, no NOVA (pop) do Miguel Angelo e na pré-produção do novo disco da Primeira Dama. Ele é quase sempre o primeiro a ouvir as músicas e a dar o seu input e é ele e a Primeira Dama que estão encarregues da produção deste álbum. Também tenho vindo a tocar com ele nos Acompanhantes de Luxo e nas suas novas formações ao vivo.

Chinaskee, © Diana Matias

Com tantos problemas a acontecer em todos os cantos do mundo, covid-19, protestos nos EUA, problemas ambientais na Rússia, descrença na humanidade motivado em grande medida pelos média, como acham que se pode quebrar este desânimo geral? 
C - Não acho que o desânimo possa ser quebrado de um dia para o outro. Tudo tem de ser trabalhado. Todos temos de fazer a nossa parte para tornar o mundo o lugar melhor, seja isso ficar em casa ou sair à rua para protestar. É importante e deve ser feito para que no futuro esse desânimo seja inexistente ou pelo menos mais aceitável.

Que bandas têm ouvido, que livros têm lido, que filmes ou séries têm visto?
C – A minha paixão por Nirvana voltou e tem sido a minha banda sonora diária. Também ouço muito Car Seat Headrest e o seu disco novo. Afastei-me um pouco da televisão durante a quarentena, mas tenho lido muito manga e visto muito anime, em especial Boku no Hero Academia. Estou há um ano a dizer à minha banda para verem Lost mas está difícil.

Gostariam de deixar alguma mensagem? 
C – Para o Bernardo, a Inês e o Ricardo sim. Vejam Lost.

Texto e entrevista: Priscilla Fontoura
Entrevistado: Miguel Gomes (Chinaskee)
Vídeo e Imagens: Diana Matias