the music could save you: if not your life, then at least the day. The images that I saw every day were impossible to live with, and yet we held on. We played music to them, for our basic survival. We made music in hell.
- Coco Schumann -
Uma réplica de “The Peat Bog Soldiers”, por Hanns Kralik no campo Börgermoor, 1933. |
Introdução:
A música tem poderes que transcendem o entendimento humano. A primeira arte torna os humores e emoções sombrios mais leves, de outra forma descarrilariam em direcção ao isolamento e alienação. Nesse sentido, este texto prende-se e passa pelo período entre 1939 e 1945, um dos momentos mais trágicos e negros da história sem precedentes, um tema tão complexo com tantas pontas por juntar que, sob o ponto de vista analítico, não será entendido na sua plenitude e profundidade, tanto agora como depois. Continua, por isso, a ser um dos tempos da história contemporânea mais complexos, abordados no presente através de filmes, livros, e outros suportes.
A filósofa judia Hannah Arendt debruçou-se sobre a definição d'A Banalidade do Mal, chegando à conclusão de que a verdade não é o mesmo que a transparência. Somos seres plurais e por isso o Eu jamais pode fugir da sua consciência. Por outro lado, Oliver Sacks, no seu Musicofilia investiga como o poder e o efeito da música transporta-nos para outras dimensões, conseguindo alterar o processo de dor em cura. A música pode atingir as emoções mais profundas; levanta memórias que se julgam perdidas, tira da depressão quando mais nada o consegue, ocupa mais partes do nosso cérebro do que a linguagem; nesse sentido, para Sacks, os humanos são uma espécie especial.
A filósofa judia Hannah Arendt debruçou-se sobre a definição d'A Banalidade do Mal, chegando à conclusão de que a verdade não é o mesmo que a transparência. Somos seres plurais e por isso o Eu jamais pode fugir da sua consciência. Por outro lado, Oliver Sacks, no seu Musicofilia investiga como o poder e o efeito da música transporta-nos para outras dimensões, conseguindo alterar o processo de dor em cura. A música pode atingir as emoções mais profundas; levanta memórias que se julgam perdidas, tira da depressão quando mais nada o consegue, ocupa mais partes do nosso cérebro do que a linguagem; nesse sentido, para Sacks, os humanos são uma espécie especial.
Em Musicofilia, o musicólogo examina os poderes da música através das experiências individuais de pacientes, músicos e pessoas comuns - desde um homem que aos 42 anos começa de repente a dominar o piano por ter sido atingido por um raio, a um grupo inteiro de crianças com síndrome de Williams, que tem como um dos principais sintomas a hipersensibilidade ao som, e a pessoas com amusia, para quem uma sinfonia soa como o barulho de panelas e frigideiras, a um homem cuja memória se estende por apenas sete segundos - para tudo, menos a música.
Por sua vez o psicoterapeuta Viktor Frankl - que viveu e sobreviveu às atrocidades cometidas em Auschwitz -, afirma numa conduta confessional e intimista que nenhuma tragédia ou sofrimento se compararia à beleza e à força do amor que sentiu pela sua mulher amada, assassinada nos campos de concentração. No seu livro O Homem em busca de um Sentido, Viktor Frankl ancora-se nas memórias da sua mulher, evocando as imagens que o mantiveram vivo. O criador da Logoterapia fundamentou-se na necessidade mais profunda do ser humano que é olhar para a vida com sentido, encontrou na importância da logoterapia o método mais eficaz para a superação de traumas - aplicável a qualquer pessoa, em qualquer circunstância da vida.
Zuzana Růžičková retrata no seu livro Uma Centena de Milagres como a música a ajudou a sobreviver ao Holocausto: "Na música de Bach há uma intensa alegria de viver e, ao mesmo tempo, a tristeza mais desesperada. Temos sempre a sensação profunda de sermos mais humanos. [...] Uma fuga de Bach está bem acima do sofrimento humano. Tem que ver com a ordem. Com a lei. É algo que é mais do que humano. Para mim, é uma peça que vai sempre às profundezas do sofrimento, antes de se elevar acima da fé e da dor individuais. Sentimos sempre na música que Deus está presente, seja lá como for. [...] Para mim, é Bach que me ensina a fé.".
De um ponto de vista mais à superfície, este tema surge de uma visita que fiz a Buchenwald. Visualizei um dos documentários que se debruça sobre os efeitos que a música teve nos prisioneiros nos campos de concentração e como foi força invisível mas motriz para a resiliência de muitos sobreviventes.
Solução Final, Shoah e o Poder da Música
Desde a ascensão de Hitler ao poder - em 1933 - até à libertação dos sobreviventes nos campos de concentração, pode afirmar-se, com base em arquivos, que a música teve um papel preponderante na vida quotidiana dos encarcerados obrigados a obedecer ao trabalho forçado. Interpretar a história, mesmo com o devido distanciamento, sob o ponto de vista maniqueísta, poderá ser uma escolha imbecil e ignorante, uma vez que, mesmo olhando para a questão dos Sonderkommando ou para a narrativa do filme Land of Mine de Martin Zandvliet, existem sempre cinzentos que nestes contextos exemplificados levam a olhar para o cenário com mais humanidade e menos moralidade. No entanto, sabemos que há princípios inalteráveis, sendo um deles a liberdade do outro e a consciência, não podendo nunca qualquer teoria ou concepção motivar-se pelo preconceito e exterminação de um povo, cultura, etnia, religião, o que for.
tira do livro Maus, do cartoonista Art Spiegelman |
Maus do cartoonista Art Spiegelman retrata a história do seu pai Vladek Spiegelman, um judeu polaco sobrevivente de Auschwitz. Nas tiras, os judeus são desenhados como ratos, os nazis gatos, os polacos seculares ou não-judeus como porcos e os americanos cães. O espírito de Maus recorre à imagética da fábula e não aplica cor para discursar sobre um momento perturbador evidenciando por imagens o Shoah. O autor evita o sentimentalismo, interrompendo a narrativa para ressaltar as suas inquietações. É sem dúvida umas das obras que retrata o Shoah sem equivalente no universo da BD.
(continua...)
Fontes:
O Homem em busca de um Sentido, Viktor Frankl.
Musicofilia, Oliver Sacks.
Uma Centena de Milagres, Zuzana Růžičková.
Quando o Silêncio se torna Cumplicidade, Mateus Salvador.
Lista de músicos:
Texto: Priscilla Fontoura
Artigo: Efeitos da música na sobrevivência dos prisioneiros nos campos de concentração, força invisível mas motriz para a resiliência de muitos sobreviventes. O presente artigo foi muito suportado no conteúdo incluído no site Music and the Holocaust.
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