Imagem: © Lou Alvez |
Kermit Machin é o novo projecto a solo de Gil Mosolino, um compositor brasileiro com um percurso musical ecléctico que abraçou sonoridades pesadas e/ou extremas e cuja versatilidade o colocou no plano cimeiro de Kermit Machin, um indie rock intimista que sublinha estes dias mais quentes e luminosos do Verão.
Gil Mosolino iniciou-se bem cedo na música e começou a ter bandas desde muito jovem no contexto da música metal mais extrema, no entanto, Gil aflorou outros géneros musicais, não se limitando nem impondo barreiras à sua criatividade musical. Kermit Machin é a sua necessidade intima e primária de continuar a fazer música.
- Gil, como é que iniciaste o teu percurso musical e com que bandas?
Eu comecei a fazer aula de música aos meus 10 anos, mas comecei a ter banda lá para 2010, muito novo, deveria ter uns 14 anos, e foi com o Rafael Penna, grande amigo meu e atual baixista da Applegate! Mas no começo, minhas bandas de Thrash Metal tocavam mais covers do que autorais. Depois mais tarde, com 16 anos, toquei baixo num grupo que tocava covers da banda Death e numa banda que fundei de Technical Death Metal, chamada Vumon, inclusive recuperei as faixas da gravação de um EP que gravámos em 2014 e estou mixando o que é possível para poder lançá-lo entre 2020 e 2021. O Pedro Lacerda, baterista da Applegate, tocava bateria na Vumon, comigo. Hahahah O mundo dá voltas!
Também tive uma banda de Stoner Rock (Australopithecus) e outra de Anti-Music Music (Ratazanas de Sótão) até chegar na Applegate. Applegate eu comecei em 2016, em cima do mesmo conceito de Kermit Machin. Comecei a Applegate porque na época senti-me à vontade para começar a gerar músicas sozinho, em todas as partes do processo. Isso era uma coisa nova para mim na época!
- Applegate é uma banda que fundaste em 2016. Que recordações mais fortes deténs da gravação de Movimentos Regulares?
Eu tenho muitas lembranças boas da gravação desse primeiro álbum da banda ! Lembro do primeiro dia que conheci o estúdio do Carlos Bechet. Ele foi o produtor fonográfico e executivo desse álbum.
No início de 2018, na época do carnaval aqui no Brasil, ele tinha conhecido a demo da Applegate de 2016 no Youtube. Então, pela Orelha Muda (a produtora fonográfica dele) ele decidiu me chamar para conversar sobre a possibilidade de gravar o nosso primeiro álbum de estúdio. Então eu lembro muito desse primeiro dia que fui lá conversar com ele, conhecer o estúdio e acertar as primeiras coisas para começar a gravação. Na época que o Bechet chamou a Applegate para gravar o primeiro álbum, a banda só tinha uma música nova, que era Abstrai, não tínhamos mais nenhum repertório para esse possível álbum. Então a partir desse momento começamos a trabalhar todas as outras músicas que hoje fazem parte do álbum, foi coisa de um ano de trabalho entre pré produção e composição das músicas, depois foi mais um ano para gravar mixar e masterizar! Chegamos a dormir no estúdio durante as gravações!
- O som de Applegate é realmente muito fluído, complexo, mas descontraído. Como é o vosso processo de composição e como funciona essa dinâmica? O improviso é muito importante para vocês?
As músicas do Movimento Regulares são na sua maioria composições minhas, então vou usá-las como exemplo! Compus essas músicas em grande parte por partitura/tab, mandava para os caras da banda, todos aprendiam e criavam seus instrumentos e depois no ensaio a gente ia arranjando as músicas! As letras de Iguais e Acidez fi-las escutando muitas vezes os nossos ensaios, cantarolando e fazendo uma letra que conseguisse passar a mensagem que eu quero, porém que fossem palavras dentro da melodia que eu esperava. As letras de Fluir, Abstrai e Enfim fiz pelo mesmo método com o Pedro Lacerda, e a música Traços é composição e letra de Pedro Lacerda, nessa fiz a linha de uma das guitarras!
O improviso para a gente é mais comum durante ensaios e shows, para os fonogramas eu adoraria ter temas mais longos e com mais “doidera”, porém por ser fonograma a galera da banda gosta de deixar as músicas mais enxutas e cortar momentos de muita “piração” hahahaha lembro que se o álbum fosse nas minutagens que eu queria, Abstrai teria 1:30 a mais, Conversas 2:1 minutos a mais e Partidas 3:1 minuto a mais também! Hahahah.
Imagem: © Fernando Yokota |
- Já fizeste parte de bandas de thrash e death metal, assim como de stoner rock. O que é que te atrai mais nessas sonoridades mais pesadas?
Eu acredito que poucos géneros musicais conseguem passar a energia que o Metal consegue, é muito intenso! Acho linda a energia e a emoção que esses géneros mais pesados conseguem passar.
- Kermit Machin é o teu novo projecto a solo. De onde e como surgiu essa necessidade de te aventurares a solo?
Actualmente trabalho como produtor fonográfico, sou multi-instrumentista e também compositor desde sempre, então é uma necessidade espiritual e profissional sempre estar trabalhando músicas minhas. Eu adoro trabalhar um som do começo ao fim sozinho, é um trabalho individual onde eu consigo passar todos os pontos da música exactamente o que eu quero/imaginei/idealizei. Eu também gosto de compor com outros músicos, porém dado o actual momento de quarentena/pandemia, essa foi a hora certa de se inicializar um novo projecto solo.
A forma como você compõe a música interfere totalmente o seu resultado final.
- Que género de temáticas mais te interessam abordar nas líricas para Kermit Machin?
Na maioria das vezes, eu primeiro componho a música e só depois me preocupo em colocar a letra na música. Enquanto a música está sendo feita, eu costumo “cantarolar” a linha melódica e rítmica da voz e depois de entender a música como um todo eu crio uma letra.
Nas letras eu costumo sempre escolher temas que combinem com a estética da música e que são relevantes para mim no momento. Evito não me prender em temas ou géneros. Ainda mais com Kermit Machin, minha ideia, nessa actual fase, é surpreender o público em cada lançamento, uma música sendo bem diferente da outra tanto na estética quanto no género.
Imagem: © Yasmin Kalaf |
- Como tens vivido e sentido estes momentos complicados causados pela pandemia? E como vês a situação no Brasil?
A pandemia jogou todos os meus planos para 2020 no lixo, de repente tudo que eu tinha planeado na minha carreira mudou!
A Applegate acabou de lançar um álbum, estamos distantes fisicamente uns dos outros, então não vamos trabalhar novas músicas agora, não é uma boa hora para isso. Se não fosse a pandemia estaríamos trabalhando músicas novas. Então, decidi iniciar Kermit Machin.
Agora, durante a quarentena estou estudando bastante music business e produção musical, compondo e produzindo bastante! Não obstante, claro, muitos dos meus dias são de procrastinação, raiva e desânimo; acontece...
A situação política do Brasil é desastrosa, temos um fascista conservador nojento no poder que está vendendo o Brasil, me sinto realmente vivendo num país neo-colonizado, porém agora pelos EUA. A situação monetária e sócio-política está desastrosa. Realmente, o meu espírito patriota apenas deseja que Bolsonaro e toda a sua família e ministros sejam severamente punidos pelo genocídio, declínio e atrocidades que eles vêm cometendo com o Brasil. Essas pessoas estão longe de ser brasileiras ou pensar no bem do País.... situação deplorável, infelizmente...
- Que projectos tens em mente que queiras partilhar para este ano de 2020?
Eu acabei de entrar num selo brasileiro chamado Alcalina Records, vou lançar todos os meus trabalhos pela Kermit Machin com eles, vão me dar um “help” por aqui! Em breve, creio que em Setembro, lanço mais um som, e ainda esse ano lanço um EP e mais singles. Além de making off's do processo de criação da Kermit Machin! Isso tudo garantido.
Com a Applegate, vamos lançar em breve música nova, o nome dela é Entre Ondas. Estamos querendo alterar o sistema de pagamento dos canais de streamings, então vamos lançar essa música em breve pelo preço de R$ 5, ou 1 euro para vocês de Portugal! Essa é uma tentativa de tornar o fonograma rentável novamente, porque essa é uma conta que todos os profissionais do music business acabam pagando.
Ainda nesse ano também vou lançar pelo menos 1 single da Vumon, banda de Tech Death que mencionei e estou re-mixando a gravação que fizemos em 2014.
De resto... é ter fé que até o final desse ano apareça uma vacina, porque o Brasil não vai sair da pandemia enquanto a vacina não existir. Isso se chama incompetência militar de Jair Bolsonaro, o verme do Brasil.
Texto e entrevista: Cláudia Zafre
Entrevistado: Kermit Machin (Gil Mosolino)