Na Arménia as crianças aprendem desde a sua entrada para a escola a matemática do xadrez. Muitos cidadãos do Leste europeu procuram também na destreza deste jogo a satisfação da passagem do tempo que coloca em combustão os neurónios e apura o sentido estratégico.
Claro que quando se aproxima a quadra natalícia as séries, filmes e outras distracções televisivas e cinematográficas fazem-nos passar grande parte do tempo a actualizar o que temos na lista para ver, o momento atípico que ficará marcado na história do planeta Terra ajuda também a essa missão. O que a série The Queen's Gambit tem de atraente é o facto de escolher para protagonista uma mulher que domina o xadrez, numa altura em que o mundo era completamente dominado pelos homens. A série distribuída pela Netflix faz do xadrez um jogo mágico e misterioso, levando os espectadores mais curiosos a descarregarem aplicações do jogo de tabuleiro e traz, também, à superfície a discussão sobre a competitividade presente nesse meio ainda tão sexista.
Elizabeth Harmon (Anya Taylor-Joy) é uma orfã prodígio do xadrez que com a ajuda dos "comprimidos verdes" e do seu mentor Sr. Shaibel não resiste a participar e a competir num submundo ocupado por homens. Embora muitos dos apelidos dos seus contra-estrategas serem judeus, a série mostra toda a ambiência evidente nos EUA dos anos 60, das cores garridas e da vaidade de mulheres bem vestidas que idealizavam o seu mundo profissional nos mesmos lugares dos homens. A obsessão de Beth em tornar-se num prodígio, que vai-se assumindo num compasso rápido graças à sua inteligência espacial e ao consumo de tranquilizantes que alteram a mente, acaba por concretizar-se não só devido à sua sobredotação, mas também ao tempo que dedica a conhecer todas as possibilidades deste jogo tão complexo.
A série de drama desenvolvida por Scott Frank e Allan Scott é baseada no livro homónimo, escrito por Walter Tevis lançado em 1983.
Texto: Priscilla Fontoura
Numa Relação Séria com a Netflix: The Queen's Gambit (2020-)