Quem conhece o trabalho de David Lynch sabe bem o que esse nome envolve. Nunca perguntaram como se processa o imaginário do realizador? O documentário The Art Life, realizado pelo trio Rick Barnes, Olivia Neergaard-Holm e Jon Nguyen, embarca na viagem biográfica do artista ilustrando, por imagens pintadas e desenhadas, as histórias que levam à ascensão e projecção artística do multifacetado realizador, artista plástico e músico.
David Lynch nasceu num seio familiar estruturado, cuja expressividade artística foi sempre muito apoiada pelos seus progenitores. O documentário, dedicado à sua filha mais nova Lula Boginia Lynch, relata, pela voz do realizador, os episódios da vida e as viragens por que passou, tornando-o hoje um dos realizadores mais proeminentes do século XX e XXI. The Art Life expõe alguns momentos cruciais que fundamentam o estilo peculiar de Lynch nas suas diversas vertentes enquanto artista visual e músico, mas, especialmente, como autor de algumas das mais importantes obras da história do cinema: "Eraserhead - No Céu Tudo É Perfeito" (1977), "O Homem Elefante" (1980), "Dune" (1984), "Veludo Azul" (1986), "Estrada Perdida" (1997), "Mulholland Drive" (2001) e "Inland Empire" (2006), entre outras, sem esquecer a série televisiva "Twin Peaks", um sucesso da década de 1990 que em 2017 regressou para a segunda temporada, com a acção a decorrer 25 anos após os eventos relatados na primeira temporada, agora distribuída pela HBO.
Frame do documentário: The Art Life
O seu percurso pessoal e profissional percorre a infância em Missoula (no Estado norte-americano do Montana), a sua curta ida para a Áustria, acompanhado pelo seu amigo artista Jack Fist para estudarem e serem orientados por Oskar Kokoschka, até às ruas de Filadélfia, onde frequentou a Academia de Belas Artes da Pensilvânia e a Los Angeles, onde iniciou a carreira cinematográfica.
Frame do documentário: The Art Life
The Art Life dá a conhecer a visão artística e o imaginário que perpassa activamente o universo Lynchiano, o seu processo criativo e a dinâmica relacional entre o pai Lynch e a sua filha Lula. Lynch, quando convida o pai a visitar o armazém onde estão presentes os seus quadros, é surpreendido pela sua reacção que, apesar de positiva, deixa no ar o conselho para nunca se casar e constituir família; Lynch confessa que casar foi uma das melhores coisas que lhe poderia ter acontecido. Fica então a questão: haverá melhor momento que a partilha artística entre progenitor e descendente?
Texto: Priscilla Fontoura
Breaking the Fourth Wall: The Art Life (2016)