Género: jazz  Álbum: Trance Trio:  Javier Subatin Lançamento: 15 de Novembro, 2020 Editora:  Ears&Eyes Records, com o apoio da rádio An...

O trance necessário para este Natal é o do trio orientado por Javier Subatin

Género: jazz 
Álbum: Trance
Trio: Javier Subatin
Lançamento: 15 de Novembro, 2020
Editora: Ears&Eyes Records, com o apoio da rádio Antena 2

 capa: Raquel Nobre G.

O jazz enquanto género tem o potencial de colocar os músicos em constante diálogo. De quando em quando um instrumento é enaltecido pelo músico que o toca, mas a conversa ora pode ser energética e exploratória, ora mais melancólica e contida. Enquanto género é democrático, pois é criado na horizontalidade sem vedetismo ou hierarquias. O jazz alia o colectivo e pertence a todos os que se juntam com o mesmo propósito, há respeito, reciprocidade e entendimento. Assim se quer o jazz.

Javier Subatin, guitarrista e compositor argentino radicado em Lisboa, apresenta o seu terceiro álbum, intitulado Trance lançado no memorável ano 2020, a 15 de Novembro pela editora americana Ears&Eyes Records, com o apoio da rádio Antena 2.

Trance surge como contraste aos álbuns anteriores, em grande parte a sua abordagem assenta-se na improvisação e apoia-se levemente na estrutura geral. O álbum é dividido em três partes e cada uma baseia-se na repetição de pequenos loops que contrastam com os motivos. Tais repetições permitem a entrada para o portal contemplativo onde moléculas andam em constante rotação pela força exercida da vibração sonora. Trance remete para os exploratórios israelitas Tatran, um trio que também sabe brincar com intensidades, emoções musicais e sensibilidade auditiva, sem dispersar na totalidade da liberdade musical. 

Seguindo a forma dos padrões comuns do jazz, a música é apresentada numa estrutura simples de exposição-improvisação-reexposição onde as seções improvisadas são predominantes. Cada músico toca o seu solo numa secção em loop diferente que começa com a música escrita, mas para onde ela vai é sempre incerto. A falta de dependência da secção rítmica faz com que cada membro tente adaptar-se e explorar diferentes papéis dentro do grupo. A individualidade de cada músico permite que a música se transforme e evolua espontaneamente, assim descreve Javier acerca da dinâmica musical com os seus colegas.

Trance reúne Daniel Sousa no saxofone alto, Javier Subatin na guitarra e composição, salvo o tema C Jam Blue, de Duke Ellington, e Diogo Alexandre na bateria. Composto na íntegra pelo guitarrista, o disco foi gravado na Escola Superior de Música de Lisboa, gravado, misturado e masterizado pelo compositor argentino.

Solo#2 apresenta-se como o grande destaque e coloca em suspenso o estado hipnótico frenético mas também contido. A guitarra de Javier Subatin assume o fio condutor e cria uma melodia perfeita para danças à chuva nas ruas das grandes periferias. Em ritmo lento Candome o tema Solo#2 fazia parte de outras composições que Javier Subatin aproveitou para incluir neste álbum tão maduro. Em todo ele existe um silêncio vocal que é substituído por melodias de saxofone e guitarra, são eles os cantores. Sente-se também a influência que Javier Subatin traz das suas raízes argentinas folclóricas, Trance#5 é um desses exemplos em que o ritmo folclórico argentino Chacarera está presente. 

O arranque do álbum dá-se numa sequência de acordes dedilhados e conclui com uma melodia uníssono de saxofone e bateria. O primeiro solo, comandado pelo saxofone, é apresentado sobre um ostinato de guitarra que se conclui por um momento improvisado livre que funciona como uma transição para a reexposição, terminando com uma coda sobre os acordes dedilhados que se repete em loop seguindo um acelerando até o fim.

C Jam Blues de Duke Ellington é apresentado na forma de um arranjo de 5 vezes e segue a estética da série Trance. Os solos improvisados ​​de guitarra e saxofone começam sem acompanhamento e, em seguida, surgem os demais instrumentos para dar uma conclusão às ideias solistas. Neste arranjo é possível encontrar influências de Keith Jarrett que lembram o tema Windup da gravação Belonging.

Trance, como outros exemplos, apesar de ter sido lançado neste 2020 a caminho do fim e ainda com uma pandemia solta no ar, ficará para a história da música, com grande ou pouca platéia, o que perdura é esta companhia que pareceu mais premente que noutras alturas. Deixamos a sugestão para os festivais de música: juntem mais jazz aos vossos programas, o jazz é sem dúvida o exponencial inesperado que todos precisam para educar públicos a abordagens mais livres e menos pedagógicas. 


Texto: Priscilla Fontoura


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