"A dança não pertence a ninguém, cada um tem que encontrar o seu próprio gesto.", assim parafraseia uma das protagonistas do filme "Os filhos de Isadora".
Isadora Duncan (1877-1927) foi a visionária precursora da dança contemporânea que, nesta altura, impulsionada pela inortodoxia das artes e da expressão, começa a sair dos "dogmas" do ensino clássico, no início do século XIX, para democratizar o valor do gesto. A coreógrafa e bailarina compôs um solo que, em cem anos, vai influenciar a vida das protagonistas do filme distribuídas por quatro mulheres de hoje. Após a morte dos dois filhos, de quatro e seis anos, que morreram afogados no rio Sena após um acidente de carro, Isadora congelada e imersa na sua perda, foi, amiúde, registando aquela que viria a ser a sua dança mais visceral intitulada "Mother".
Aprender a relativizar problemas que nos assolam, ajuda a balancear os dilemas pelas duras tragédias que se vão conhecendo através das biografias e autobiografias. Esse ponto de vista enleva o sentido da vida que abre a janela da superação.
"Os Filhos de Isadora" viaja através do livro escrito pela coreógrafa, onde estão esboçados os seus sentimentos mais profundos de dor, como também desenhada a partitura da coreografia "Mother". As mulheres presentes no filme representam as fases de vida da artista: a aprendizagem, a dança, o ensino, a perda e, é através destas fases, que se completa a preparação para a despedida nunca antes feita.
Um dos momentos mais tocantes no filme é marcado pela coreografia nunca exibida mas apenas sugerida, um entendimento visual que se encontra com a delicadeza da dança de Isadora. A dança é vista pelos rostos espelhados pelos sentimentos que a dança causa no público, onde consta a última mulher, das quatro, que tem problemas de locomoção. Ao fazer o seu percurso com dificuldade motora até casa, vai reflectindo o luto que sofreu e que a desgasta com cansaço emocional e físico. O filme do francês Damiel Manivel, vencedor do prémio de melhor Realização em Locarno 2019, tal como o ritmo do luto, é compassado a ritmo lento, permite portanto que o espectador imirja na liberdade dos movimentos de cada mulher.
Isadora foi uma mulher incomum no seu tempo por ignorar a moral tradicional. Faleceu 17 anos depois o nascimento do seu segundo filho, também por acidente "lançada de maneira extraordinária de um automóvel aberto em que estava e teve morte imediata, devido ao impacto contra o pavimento de pedra.", segundo o New York Times. Isadora é sem dúvida uma referência para o mundo da dança contemporânea e um estímulo para a liberdade de pensamento.
Texto: Priscilla Fontoura
Breaking the Fourth Wall: Os Filhos de Isadora (2019)
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