Um dos primeiros grandes concertos dos GNR, foi no Clube da Granja; ainda era uma cantora, que tínhamos arranjado: a Quina; pusemos um anúncio: "Precisamos vocalista; pouco importa que cante bem; o que interessa é ser boa"; e foi exactamente o que tivemos: era bonita e cantava exoticamente mal; o Clube estava a abarrotar; pessoas tentavam entrar pelas janelas; vidros a partirem-se; pessoas a ficarem feridas; e o organizador diz-nos: "Ó pá, comecem a tocar, senão ainda morrem pessoas"; e eu, que tinha acabado de fumar uma erva opípara, caio redondo no chão; estou caído no chão e vejo todos a olhar para mim: o Alexandre Soares, o Tóli, o Mano Zé, o organizador e a nossa vocalista; o organizador passa-se e mete as mãos na cabeça "Agora é que está tudo fodido"; e eu, digo-lhe do chão, onde estava, caído "Tenha calma que fico bom num minuto"; eles olham todos para mim, e eu, calmamente, deito uma das mãos ao bolso das calças e tiro para fora um supositório (eu andava sempre com um Torekan para as tonturas), baixo as calças e meto o supositório no cu, com o Tóli a dizer "Este é que é maluco!"; um minuto depois estava de pé e entramos para o concerto; o público em delírio; estamos a tocar o segundo tema, e eu vejo que o Mano Zé está com o baixo desafinado; ele estava muito fumado, mas de haxixe; eu chego-me perto dele, disfarçadamente, e digo-lhe: "Mano Zé, tens o baixo desafinado"; e ele, de olhos fechados e a rir-se responde-me: "Eu seeeeeeeeeeeeei"...
Texto e Imagem: Vítor Rua