Em 1984, os Telectu foram tocar ao Centro Pompidou, integrado na semana portuguesa de performance; vários performers portugueses estiveram p...

Crónicas do Rua: Telectu no Centro Pompidou


Em 1984, os Telectu foram tocar ao Centro Pompidou, integrado na semana portuguesa de performance; vários performers portugueses estiveram presentes; os melhores; recordo-me que o Gerardo Burmester, foi uma semana antes – como nós –, para se preparar para o seu show, que tinha a duração de 50 segundos apenas, e que consistia em entrar vestido de smoking preto, com uma mala preta na mão, enquanto a luz é a de um strawb em rotação rápida; ele entra em palco, abre a mala e deixa cair centenas de bolas de ping-pong no chão que se encontra amplificado por microfones. Nós, Telectu, estávamos ali para fazer música para o performer Manoel Barbosa; e o Barbosa pediu-nos para fazermos o som mais alto e mais estridente que pudéssemos, enquanto as luzes, eram holofotes de aeroporto brancos, apontados para o público, mais todas as luzes brancas do Grande Auditório do Centro Pompidou. Mal dá início o show, o público nem sabe se há-de tapar os olhos (por causa da intensidade das luzes), ou os ouvidos (pela intensidade sónica); por sua vez a performance de Barbosa, consistia na existência de um monte de areia branca em palco, no centro; ele tinha duas varas uma em cada mão, como se fossem as varas dos esquiadores; e estava uma lagosta cozida com casca, pousada no cimo do monte de areia; a performance era então o Barbosa de costas para o público a atirar areia para o público (que começou de imediato a levantar-se, porque estava a ficar cheio de areia),e de vez em quando ele parava, para ir dar uma dentada na lagosta; mastigava e engolia e depois lambia e comia areia misturado com a lagosta; e depois – claro –, vomitava; e retomava tudo de novo; esqui na areia; lagosta; vómito; e assim esteve durante 60 minutos; não esquecer que, além da performance, o som continuava sempre no máximo e estridente, e as luzes brancas e intensas; como ele não terminava a performance, entra em palco o organizador, o Egídio Álvaro (especialista em performance portuguesa), e diz virado para o público em francês; "Terminou o concerto de Manoel Barbosa"; o Barbosa olha para ele, mete as mãos nas ancas e diz em português muito alto: "Ainda não terminei"...

Texto e Imagem: Vítor Rua