terça-feira, 6 de julho de 2021

A dupla Nils Meisel & Kenneth Stitt escolhe o Porto para Lonzdale's Fantasy

As pequenas e médias cidades de Portugal, tomando de análise a comparação que se pode fazer com outras cidades muito mais populosas e geograficamente maiores, só há pouco tempo, e a bom rigor, é que têm dirigido o seu foco para a transformação que aglomera as influências que outros visitantes e cidadãos vão deixando. Nessa perspectiva, as cidades mais tradicionais têm transitado para uma condição mais cosmopolita e heterogénea. Há quem entenda este impacto como uma estratégia negativa, uma vez que essas cidades começam a falir em identidade, negligenciando os costumes que tanto as diferenciava. No entanto, hoje vemos um crescente de nacionalidades díspares, sejam europeias ou fora do continente, com outras vontades a querer habitar estas cidades de Portugal. Consequentemente, assiste-se a intercâmbios de pessoas criativas que fazem de qualquer cidade ou de outro local também uma possível morada, pintando à identidade desse lugar outras formas trazidas por visões diferentes por quem lá começa a habitar. Há várias razões para lá ficar, preços mais baixos, uma vida menos stressante e o bom tempo fazem parte dos factores dominantes.   


Fotografia: © Anna-Maria Vaskovskaja


Os Lonzdale's Fantasy, provavelmente cunharam o nome da banda com o nome da capital inglesa (será?), escolheram o Porto como casa para comporem os seus temas muito ricos de humor, sentimento e pensamentos construídos de quem vive uma vida marginal. 

A dupla Nils Meisel & Kenneth Stitt traz o que faltava cá. Um cheiro diferente que pode ser comum em Londres, mas não cá. O frenético e versado Kenneth Stitt, enquanto corre uma sala de fio a pavio, vocifera palavras alicerçadas nos ritmos mixados por Nils Meisel, conhecido por integrar os Sereias. Poesia, teatro, fonética, banjo, electrónica são características da música destes dois músicos que nos anos 90 já começavam a compor os seus temas sem registo até há pouco tempo. 

Este pop-post-combat, assim qualificam o som que fazem, luta contra os padrões e fórmulas estipuladas nos temas que vamos ouvindo. É notável como Kenneth domina o ritmo das palavras, enquanto faz exercício físico, expulsando toxinas desnecessárias para o corpo que acaba a performance como se tivesse corrido uma maratona de muitos km's. Destacam-se os telediscos muito bem dispostos e cinematográficos, filmados em Portugal, mas com um tom de uma Londres suburbana. 

Kenneth Stitt aparenta um homem que não se deve levar a sério, mas, é uma amostra que é apenas fogo de vista, as palavras que grita e canta são tão profundas quanto um poema de Edgar Allan Poe. 

Poder-se-ia relacionar Lonzdale's a várias bandas que por aí andam, mas não vale a pena, porque a cena que fazem tem identidade e isso basta-lhes, exemplo máximo é o tema Deadhate Mate, que fica na cabeça e encerra-se tão bem: but the mosquitos still bites, it's a trap duhhhh.



Texto: Priscilla Fontoura