A instituição realizou uma pesquisa durante o mês de Maio de 2020, para dar resposta à falta de oferta de espaços de ensaio em Berlim. Para determinar a oferta e demanda de espaços de ensaio, principalmente os de música pop, foi feito um levantamento para documentar a quantidade desses espaços, e apelar tanto à protecção como à criação de espaços adicionais, fornecendo mais dados sobre as condições actuais e necessidades futuras. Os resultados desta pesquisa, quantitativa e qualitativa, serviram como base para tomar as medidas necessárias com o intuito de melhorar a situação dos espaços de ensaio dentro do sector cultural pop.
Através da mailing list e com a ajuda da rede de contactos, associações locais, colectivos e um número alargado de operadores de espaços de ensaio, o MbB circulou o questionário Berlin Rehearsal Space a larga escala, entre músicos que vivem em Berlim.
Devido à pandemia de Covid-19, a pesquisa foi distribuída exclusivamente via digital pelos canais. De Maio a Junho de 2020, um total de 948 músicos de Berlim participaram no questionário. Embora o foco estivesse nas necessidades da cena da cultura pop berlinense, músicos de todos os géneros foram convidados a participar. O público-alvo assegurou que músicos que trabalham na interseção de géneros fossem incluídos no questionário, enquanto também permitiu fazer comparações entre géneros específicos para espaços de ensaio.
O MbB considerou a música pop para incluir todos os géneros e variedades de música popular que não podem ser claramente classificados como jazz, música clássica ou nova. A pesquisa foi realizada em nome do MbB por Samuel Bergmann (músico e graduado pela Berlin School of Popular Arts) e Prof. Dr. Clemens Schwender. A avaliação qualitativa dos resultados foi realizada pela MbB. Com o questionário, a organização continua a ser um apoio activo da cena musical pop-cultural de Berlim, um papel que a instituição financiadora pública tem vindo a cumprir desde a sua fundação em 2013.
As conclusões tiradas a partir do questionário e as recomendações futuras apresentadas nesta pesquisa são prementes, para que se possa tentar solucionar uma vontade de uma camada que faz da cidade um centro cultural heterogéneo e que merece ser ouvida. Mas não de qualquer forma. Ainda que não seja uma obrigação da autarquia, penso que é falta de visão da mesma e é um dever quando se pretende que a cidade viva uma cidadania activa, uma vez que as minorias também ajudam a tornar a cidade um espaço com as suas especificidades.
As conclusões desta pesquisa partem de 5 pilares:
- a protecção dos espaços;
- a criação de espaços;
- financiamento de estruturas independentes;
- arquivo que documente a existência desses espaços e as suas actividades;
- salas de ensaio para todos.
Agora não digam que pensaram no mesmo, aquando do ruído gerado sobre este assunto. É preciso agir mediante as exigências do tempo de hoje. Não me parece que o Silo Auto, em modelo de "open space" para os músicos, seja o espaço para resolver o problema do Stop. Facto é que o Stop não reúne condições para se manter aberto, pois qualquer alternativa que se pretenda dar é efectivamente incomportável, por mais que se sinta a boa fé da parte dos músicos. Construir sobre um modelo que responda às necessidades plurais e particulares, mas sustentado no conceito de comunidade - que é o que deveria determinar a força dos grupos desvinculados dos grandes meios -, parece ser o caminho e a vontade de ter uma humanização da cidade contemporânea que prevê microintervenções.
Falta cidadania cultural e literacia artística para saber como agir quando cenários destes acontecem; afinal não são os músicos também agentes directos e criadores de cultura? Não deveriam igualmente ser porta-vozes na defesa de uma causa que depende deles, e que deve ser sustentada em diálogo articulado e estruturado com os organismos competentes? Se não é possível a apresentação de um projecto de especialidades no processo de licenciamento do Stop, então que seja feito um levantamento de espaços disponíveis para cedência da parte da autarquia com enquadramento semelhante ao do Stop, no que diz respeito à capacidade de acolhimento para cerca de 500 utilizadores de salas de ensaio.
Não basta o peso da memória do espaço para atenuar a necessidade urgente de segurança e salubridade face às condições actuais. No entanto, é de assinalar que até hoje nada de grave aconteceu ao espaço e, se assim o é, é graças aos músicos que lá estão, aos bombeiros e a todos os intervenientes que estiveram despertos quanto à vulnerabilidade do espaço. Porém, não são feitos estudos nem levantamentos apropriados para arquitectar e desenhar soluções que visem o estudo adequado às exigências que as salas de ensaio requerem, como o tamanho da sala, a acústica, as condições de segurança, não é porque se cria música "alternativa" que tem que se morrer electrocutado.... A música não vive de remendos! Não basta pedir a deputados para dialogar com a câmara sobre o assunto, é preciso que a força venha da parte de quem fez do Stop o centro de memória que é.
Em tom de conclusão, pergunto, qual deverá ser o papel das instituições associadas à promoção e apoio da dinamização cultural, aqui, neste contexto? E refiro-me por exemplo à SPA, GDA, AMEI, APORFEST, associações culturais, etc. Ainda há luz ao fundo do túnel quando vemos Casas da Juventude com espaços próprios para quem quiser ensaiar ou quando observa-se, em Guimarães, o Teatro Jordão a ser convertido em salas de ensaios para bandas de garagem. É preciso saber fazer, sem negligenciar as especificidades do público-alvo e sem instrumentalizar esta problemática para fins turísticos para as massas. O STOP é, acima de tudo, um ponto de encontro para os músicos e para quem sente identificação.
A quem possa interessar, aqui deixo o estudo:
Priscilla Fontoura, Acordes de Quinta (2006-), Lula Gigante (2010-), Milkshake It (1997-1999), Puk (2001-2004), Outros projectos