A mudança reflecte também um amadurecimento criativo. A banda americana parece confortável em romper barreiras e ignorar as expectativas de "pureza" dentro do género punk. Brendan Yates e os outros membros canalizaram uma abordagem colaborativa para a composição, o que resultou num som mais amplo e inclusivo.
Disco produzido por Mike Elizondo (conhecido por trabalhar com artistas de hip-hop, pop e rock como Dr. Dre e Fiona Apple), Glown On apresenta uma produção polida e inovadora que dá espaço para as ideias da banda respirarem. Os sintetizadores etéreos, os refrões quase pop, e a inclusão de sons inesperados (como os ritmos hipnóticos de "Alien Love Call" com Blood Orange) mostram que Turnstile não tem medo de explorar territórios desconhecidos.
A mudança não é apenas técnica, mas também emocional. O trabalho mais recente é um álbum que abraça a introspecção, a melancolia e a celebração de uma forma que vai além da raiva típica do hardcore. A banda ainda mantém a energia explosiva e a intensidade que os fãs gostam, mas com uma profundidade emocional e uma vontade de arriscar que elevam o álbum a um novo patamar.
O som inicial do Turnstile é um murro no peito e um convite ao caos, enraizado no hardcore punk de coração puro. Com a energia crua de Youth of Today, a alma rebelde de Bad Brains, e a ferocidade de Trapped Under Ice — banda da qual Yates foi membro — os primeiros trabalhos como Pressure to Succeed (2011) e Step 2 Rhythm (2013) apresentam faixas curtas, agressivas, e rápidas, que encapsulam o espírito do hardcore tradicional.
Certo é que desde o início, a banda brilhava com riffs pesados e grooves irresistíveis, combinados com uma atitude desafiadora que se aventurava além do óbvio. A fórmula misturava melodia no caos, swing na agressividade, e uma produção mais refinada do que o género normalmente permitiria. Turnstile não apenas seguia o manual do hardcore — estava já a reescrevê-lo.
Quando chegamos a Glow On, a máquina está bem afinada. Pedais oleados, travões ajustados e músculos prontos para acompanhar a energia eléctrica. Este disco, composto por 15 faixas de pura vibração, não é apenas para ouvir; é para sentir nas veias. Aqui, a idade desaparece — seja na adolescência ou na velhice, o pulso acelera, o sangue corre, e a vida ganha um novo ritmo ao som da banda americana; se for com um skate nos pés, ainda melhor.
Esses jovens músicos são alquimistas sonoros, capazes de absorver influências de Rage Against the Machine, Refused, Fidlar, Beastie Boys, The Bronx, Heisa, Turbonegro a Razorbumps, moldam-as numa fusão irresistível. Preso num dia cinzento, sem forças para sair da cama? Dá play neste disco. Em minutos, estarás a respirar ar fresco, arrancado da apatia e lançado aos braços de uma tempestade sonora.
E no centro desse furacão está Brendan Yates, que trocou as baquetas pela voz, não para afastar-se do ritmo, mas para criar algo ainda mais colérico. As letras que escreve ganham vida no palco, e transformam-se numa tempestade de energia crua e magnética.
Não há muito mais a dizer, excepto um aviso: se estás disposto a ceder ao apelo do capitalismo para viver este momento, vai ao Primavera Sound e deixa-te perder na multidão. Mas se és fiel às raízes do punk, aguarda pelo calor de um concerto fechado, onde o verdadeiro espírito do hardcore ganha vida — com mosh pits, invasões de palco e caos glorioso. Porque Turnstile é isso: a banda-sonora de um mundo em rebelião organizada.
Em resumo, a mudança de Turnstile em Glow On não é uma ruptura, mas uma evolução — um reflexo da coragem criativa de uma banda que se recusa a ser limitada pelos rótulos.
Em que tema estás? Eu cá fiquei retida na Mystery... Agora, calça as tuas Vans e deixa que o espírito te conduza, sem pressa e sem rumo certo. E não te esqueças de apertar os cordões.
* Este texto não foi escrito ao abrigo do Acordo Ortográfico